“O CDS não quer chegar ao Governo para negociar cargos, não é a qualquer preço”, avisa o secretário-geral do partido a pensar nas “Regionais”

“Terceira via? “Quem vai decidir isso é o povo. O CDS vai fazer o seu trabalho, o seu percurso,”. Foto Rui Marote

Teófilo Cunha, 50 anos de idade, licenciado em Ciências Farmacêuticas, um militante de longa data do CDS Madeira, à volta de 30 anos de militância, presidente da Câmara Municipal de Santana, a única que o partido conquistou na Região, mas relevante do ponto de vista da mais valia para a ação partidária. Lembra-se de ter entrado no CDS quando este era conhecido como o partido do táxi (expressão que remonta aos tempos de uma maioria absoluta de Cavaco Silva, em que o CDS teve quatro deputados, passou a cinco em 1991). É o atual secretário-geral do partido, sereno na avaliação, crente no trabalho, convicto nos objetivos. Sem tirar os olhos das três eleições, o foco estará nas Regionais de 22 setembro. Compreende-se porquê.

Dá ênfase ao papel que o CDS-M pode desempenhar na consulta para as Legislativas na Região. Sabe as avaliações que têm sido feitas, sabe o que ouve e vê no terreno, consciente de que não haverá maioria absoluta, o que permite, mais ou menos, pensar que chegou a hora do CDS no governo, como “fiel da balança”. Mas atenção, deixa uma “porta aberta” mas não “escancarada”, como diz o povo. Afirma claramente que “o CDS admite a possibilidade de participar numa solução de governo, mas não a qualquer preço”. Ficamos, assim, a perceber, as razões pelas quais o partido vai sozinho a eleições, preserva a identidade, está consciente do que vale e do que pode valer, mas não quer perder o figurino que considera marcar a diferença. Vai pela via do “negócio, da negociação política entenda-se. E já começou a experimentar essa vertente no terreno, como é exemplo a medida relacionada com os passes sociais para os transportes coletivos de passageiros. A proposta foi do CDS, o Governo anuiu e até foi mais longe.

Ouvir a Madeira e alertar as pessoas

A estratégia está já em curso, no terreno, o partido tem vindo a “Ouvir a Madeira”. Primeiro, para as europeias, depois mais para a frente, em setembro, para as Regionais, duas semanas depois para as Legislativas Nacionais. E aqui há um problema de gestão para qualquer partido, para qualquer campanha. Teófilo Cunha lembra que “entre uma campanha e outra, existem duas semanas de intervalo e apenas um fim de semana pelo meio. Claro que vamos falar com as pessoas sensibilizando-as para essa situação, será preciso mudar o registo nessas duas semanas”.

As pessoas esquecem-se da importância da União Europeia

Mas para já, os dados estão lançados, ainda, na base dos contactos com a sociedade civil e na mobilização partidária interna. Ouvir pessoas, de diferentes áreas, visando a elaboração de um programa que será colocado a sufrágio, com particular incidência nas eleições regionais de 22 de setembro. “Todas as eleições são importantes, é preciso concentrar atenções nas regionais, é certo, mas relativamente às europeias, sentimos necessidade de combater a habitual super abstenção. As pessoas esquecem-se da importância da União Europeia, pensam que é algo longe da Região e que, por isso, não vale a pena votar. Esquecem-se que, na Madeira, não existe praticamente nada que não se movimente com fundos comunitários. E é importante alertar as pessoas para essa realidade”.

Não invalidando essa preocupação, relativamente à Europa, as Regionais dão o enfoque à estratégia do CDS. O cenário que se vislumbra, sem que a futurologia se sobreponha à realidade do voto, é o de que dificilmente haverá maioria absoluta em setembro. E é aí que entra o CDS como o tal “fiel da balança”.

Não queremos chegar ao Governo para negociar cargos

“Se não for para ter em conta as medidas que defendemos, não contem com o CDS”. Foto Rui Marote

O secretário-geral do partido, na Região, reconhece que “pela primeira vez, os indicadores apontam para isso, para a inexistência de uma maioria absoluta. Mas também já vi situações em que as pessoas, à última hora, carregam mais num partido e essa maioria absoluta pode acontecer. Mas sim, neste momento, a situação apresenta-se como a existência muito provável de maioria relativa. E nesse caso, se o povo da Madeira e do Porto Santo assim entender, o CDS está disponível para viabilizar uma solução de governo. Mas também devo dizer-lhe que o CDS não quer ir para um Governo Regional a qualquer preço. Não queremos chegar ao poder para negociar cargos, queremos integrar um Governo mas com soluções, com medidas, com contributos que possam ir no sentido da defesa dos interesses da Madeira e do Porto Santo. Se não for para ter em conta as medidas que defendemos, não contem com o CDS”.

CDS terceira via? Quem vai decidir é o povo

Estará o CDS preparado para ser uma espécie de “terceira via”? Teófilo Cunha diz que “quem vai decidir isso é o povo. O CDS vai fazer o seu trabalho, o seu percurso, independentemente daquilo que os outros partidos possam vir a realizar. É importante olhar em frente, apresentar propostas e colocá-las à consideração do eleitorado. Caberá a este decidir sobre a fórmula de futuro para a Madeira depois das eleições”.

Lembra as propostas do CDS que já foram contempladas em sede de Orçamento Regional para 2019, designadamente os passes sociais dos transportes, já em vigor, o cuidador informal, a questão de termos solicitado o diferencial do IRC para a costa norte, não concretizável na totalidade, mas ainda assim com passos dados. Tudo isto surge na linha daquele que é o nosso entendimento, neste momento e para o futuro”.

Ou estamos dentro ou estamos fora, não é como o PCP e o BE na República

O CDS prefere uma coligação com o PSD ou com o PS, que apresenta Paulo Cafôfo como candidato à Quinta Vigia? O dirigente centrista não foge à questão, mas segue por aquilo que é o politicamente correto, remetendo uma vez mais para o eleitorado, a responsabilidade de decisão no momento do voto. “O número de votos vai decidir a solução de governo para a Madeira. O que dizemos é que o CDS, a integrar uma solução, será para ter participação efetiva, ser interveniente. Pertencer ao Governo e não intervir, como acontece com a situação governativa nacional, não faz parte da matriz do CDS. Ou estamos dentro ou estamos fora. Não é como o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista na República”.

Neste contexto de “terceira via”, o CDS não estará sozinho, uma vez que o JPP já reivindicou esse espaço para colocar ao eleitorado, não abrindo nem fechando portas, mas estando disponível para integrar um Governo para a Madeira. Teófilo Cunha é frontal e diz que, até mesmo tendo em conta essa perspetiva, legítima, do JPP, “todas as hipóteses devem ser colocadas. O JPP é um fenómeno forte numa determinada zona geográfica, Santa Cruz, conseguiu bons resultados nas regionais e é importante ter isso em conta. Vamos aguardar serenamente a decisão do eleitorado, que no fundo será responsável pela escolha em setembro. Esperemos que a escolha não vá para maiorias absolutas. E o CDS tem demonstrado que é possível negociar bem, tem feito isso com o Governo e também tem feito na Câmara do Funchal. O que nos interessa não é a cor partidária, mas sim a defesa das populações”.

Medo é coisa que o CDS não tem. Teófilo diz que “na política, quem tem medo é melhor ir tratar de flores”.