Tenham juízo e não gastem dinheiro na marginal de São Vicente, aprendam com o que aconteceu na Calheta, desafio de Raimundo Quintal ao Governo

Raimundo Quintal alerta para o investimento na marginal de São Vicente e diz que “o Governo deve ter humildade para ver que é um erro terrível

Raimundo Quintal considera que as catástrofes como o 20 de fevereiro, tragédia ocorrida faz hoje precisamente nove anos, propiciam, por vezes, “a exibição de quem deveria ficar resguardado, com a frieza e distância suficientes para gerir a situação do fogo ou da cheia”. Pelo contrário, diz, “temos assistido a um aproveitamento e a um espetáculo. Tem havido falta de humildade de quem gere para pelo menos dar uma palavra de conforto às vítimas”.

Fiquei horrorizado” com o presidente de Câmara e com o secretário

O momento, sendo de debate e de reflexão, é aproveitado para falar sobre a derrocada ocorrida sábado na Calheta. Tem tudo a ver com a Natureza. Critica comportamentos, compara com a queda da árvore no Monte, acusa as entidades de falta de sensibilidade. Diz mesmo: “Fiquei horrorizado, quer com o presidente da Câmara da Calheta, quer com o jovem secretário, tentando sacudir a água do capote. Não estou a acusar quem quer que seja, mas a verdade é que antes mesmo de se discutir se a queda da pedra deveria ser para cima ou para baixo, deveriam ter dado uma palavra de conforto para com a vítima e respetiva família”.

Convenceram-se que dominavam a Natureza

O investigador recua no tempo para lembrar um suplemento que coordenou no Diário de Notícias, entre 1981 e 1993, chamava-se Cidade-Campo. Ali focou, por diversas vezes, esta temática. E perguntei porque razão durante mais de 500 anos não havia nada construído entre a foz da ribeira da Calheta, onde hoje está a vila, e a Serra de Água, onde era o engenho e hoje é o hotel. Em toda aquela frente, já existia praia e apenas tinha umas furnas onde guardavam as canoas. Isto não é por acaso, mas convenceram-se que dominavam a natureza e dá nisto”.

Num contexto do 20 de fevereiro, com a Calheta bem recente, Raimundo Quintal vai mais longe e lança o repto ao Governo Regional: “Tenham juizo e não gastem dinheiro nosso na frente mar de São Vicente. Há dois erros terríveis, um é avançar para o mar, com a tendência do mar vir para terra, não se deve desafiar o mar, outro é trazer mais gente para essa zona com a construção de novas infraestruturas, com uma escarpa de grande risco, de grande perigo. Há até uma padaria que tem pneus no telhado para funcionar como amortecedor no caso de cair pedras.

É melhor dinamizar a vila (São Vicente)

Para o investigador “o Governo deve ter humildade para ver que é um erro terrível. Deve perceber que, no passado, com exceção de um armazém, não existiam negócios naquela marginal. Se formos para o lado da Fajã da Areia, as casas antigas não ficavam junto às rochas, desafiavam mais o mar, apesar deste ser alteroso. É melhor dinamizar a vila, aprendam com aquilo que aconteceu na Calheta”.