Problemas de toxicodependência e multiplicação de sem-abrigo afectam imagem turística na zona velha do Funchal

Fotos: Rui Marote
O problema dos sem-abrigo é real e incontornável na cidade do Funchal, mas o modo como o mesmo se articula com a realidade do turismo, pilar essencial da nossa economia, é um nó górdio que ainda não se percebeu bem como desatar. Do direito à vida que tem qualquer cidadão, com abrigo ou sem ele, à necessidade de uma Região preservar a sua imagem de destino turístico calmo e de qualidade, há várias variáveis que têm de ser equacionadas para se encontrar um equilíbrio adequado. Lamentavelmente, os exemplos vão-se multiplicando um pouco por toda a cidade, principalmente nas zonas do centro, mais frequentadas por estrangeiros. Um dos casos é a zona velha do Funchal. A objectiva do repórter fotográfico Rui Marote captou mais este exemplo de terceiro-mundismo, uma barraca erigida com pedras do calhau, cartão e algumas coberturas de tecido, quase paredes meias com uma unidade hoteleira de quatro estrelas, o Porto Santa Maria.
O Funchal Notícias observou várias movimentações naquela zona e custa a acreditar que esta instalação, que lembra o Casal Ventoso, nada tenha a ver com o consumo exagerado de drogas e de álcool. A fiscalização da Polícia Marítima, uma vez que esta é área de sua competência, não parece ali chegar. A PSP também por ali não parece passar. Ora, esta construção que lembra o neolítico parece ser, tudo o indica, poiso regular de cidadãos com problemas de toxicodependência.

Entretanto, e a poucas centenas de metros, conforme observado pelo repórter fotográfico do FN, circula uma carrinha que fornece metadona como tratamento para os toxicodependentes, vários dos quais vivem na rua. Tudo concorre para que na área se viva um clima pouco abonatório da Madeira enquanto destino seguro e de qualidade. O Funchal Notícias contactou o hoteleiro António Trindade, administrador do Grupo Porto Bay, que nos confirmou que têm sido recebidas no hotel múltiplas queixas de turistas que se queixam não só do panorama desolador da zona, com várias pessoas a dormir a e drogarem-se nas redondezas, como reclamando que não se sentem seguros para passar na área do Almirante Reis, que dá acesso à unidade hoteleira, à noite.
António Trindade fala de uma “chuva de seringas caídas na praia” nas proximidades do hotel, e diz que informar a Polícia para as situações anómalas não é a melhor forma de obter um bom resultado para o problema, pois este situa-se a montante, na área da prevenção. “O que é preciso”, postula, “é afastar aquele foco” de toxicodependência e vadiagem.
O hoteleiro dá conta de que houve, há meses, uma reunião da direcção do Porto Santa Maria com instâncias governamentais, mas que desde então nada mudou. À noite, continuam a a haver pessoas que adormecem nos relvados; as seringas proliferam pela área; a Polícia por vezes actua, mas não consegue resolver o problema, e o facto de ali nas proximidades circular a carrinha da metadona não ajuda nada, pois concorre para que ali se agreguem as pessoas com este tipo de problemas.

Questionado sobre se esta situação o preocupa enquanto hoteleiro, António Trindade responde que sim mas não só nessa qualidade: “Preocupa-me ainda mais como cidadão”, refere, pois este ambiente de droga e degradação acontece numa zona muito frequentada por todo o tipo de pessoas, inclusive desportistas de todas as idades, que correm na promenade, e onde famílias inteiras de madeirenses, além dos turistas, circulam. “As pessoas temem pela sua segurança à noite”, afirma, lamentando esta situação num espaço “que é de nós todos”.
“É evidente que isto é um cartaz de visita muito mau para a cidade”, salienta. Com a Câmara Municipal do Funchal, diz, esta situação foi referida mas apenas de forma informal, “en passant”, numa referência aos desalojados que costumam dormir na zona da ETAR do Almirante Reis.