Albuquerque “ignora” conselheiros da Diáspora no Festival da Flor no Free State com poucos madeirenses, lamenta advogado José Nascimento

José Nascimento
O advogado José Nascimento, membro do Conselho da Diáspora, lamenta que o presidente do Governo Regional não tenha salvaguardado devidamente a representação da comunidade madeirense no Festival da Flor no Free State, em dezembro último.

A comunidade madeirense na África do Sul ainda vive os ecos do recente festival da flor no Free State, em dezembro último, que levou o presidente do Governo Regional até à África do Sul, onde participou num evento que resulta, há alguns anos, de uma parceria que permite a reposição daquele que é um importante cartaz para o turismo da Madeira, a Festa da Flor, em terras sul-africanas. Albuquerque esteve lá, houve um carro da Madeira, o Governo Regional pagou cerca de 50 mil euros, mas a presença de comunidade madeirense, que é grande naquele país, foi bem pouca ou nenhuma, segundo vários relatos de emigrantes.

Críticas à falta de integração dos madeirenses

O acontecimento foi alvo de fortes críticas no âmbito das forças vivas da comunidade, precisamente pelo facto de não ter acolhido, como deveria, uma componente representativa dos madeirenses e lusodescendentes que residem naquele País. Nem madeirenses nem os conselheiros das comunidades, facto que mereceu acesa discussão no âmbito de um grupo, na rede social Facebook, denominado “Madeirense around the World”, que inclusive lançou dúvidas sobre aquela que terá sido a verdadeira intervenção dos conselheiros na dialética com o Governo Regional, sobre os contornos deste evento e o caráter do mesmo na parte que se relaciona com a integração da comunidade.

Podiam ter levado os conselheiros” ao Festival da Flor

José Nascimento, um lusodescendente que é figura destacada inclusive junto do governo sul-africano, advogado, membro do Conselho da Diáspora Madeirense, a par de José Luís Silva e Egídio Cardoso, estranha que os conselheiros não estivessem representados nesse evento da flor no Free State. Diz que “apesar de ser um acontecimento organizado na África do Sul, o mesmo teve uma forte contribuição da Madeira, com dinheiros públicos e, como tal, deveria assumir uma intervenção mais representativa da Região. Da mesma forma que a Madeira levou representantes do Governo e alguns empresários, também poderia ter levado os conselheiros e, através deles, envolvido mais as comunidades madeirenses. Não o fez, ao contrário do que foi defendido por mim junto do próprio governo”.

Nós damos sugestões, o Governo é livre de segui-las ou não”

O advogado lusodescendente, filho de pai do Funchal e mãe de Machico, responde, assim, às críticas de que os conselheiros não teriam alertado devidamente o Governo Regional nesta matéria da representatividade. Nada disso, à sua conta deu várias indicações e acrescenta que, neste domínio dos conselheiros, “nós damos as sugestões que achamos mais convenientes, mas o Governo é livre de segui-las ou não”. Confirma que “a comunidade praticamente não esteve representada nessa Festa da Flor no Free State”, não consegue explicar as razões, mas sempre vai lembrando que “as suspeitas que os madeirenses na África do Sul têm, que são tratados como madeirenses de segunda, vêm ao de cima quando acontecem situações desta natureza. E isto de dizer que a Madeira era convidada, não cola, uma vez que apesar de ser um evento na África do Sul, a Região teve uma intervenção direta na organização e seria natural que os madeirenses fossem integrados pelo próprio Governo Regional”.

50 mil euros para “momento integrador das comunidades”

A esta posição de José Nascimento, junta-se a resolução do próprio Executivo Madeirense, sobre a atribuição de cerca de 50 mil euros para o evento. A redação é clara quanto a esse objetivo de inclusão, que pelos vistos, a avaliar pelas declarações do conselheiro e pelas críticas de vários setores da comunidade, não passou do papel à prática. A resolução diz mesmo que “este evento, além dos objetivos económicos visados pelo Free State, seja em matéria de turismo, seja em matéria do seu importante setor da floricultura, passou a constituir-se um momento integrador e de convívio de várias comunidades residentes na África do Sul, designadamente da madeirense e dos seus descendentes”. Esclarecedor, sem dúvida, quanto às diretrizes que estiveram subjacentes à atribuição do apoio financeiro. Quanto ao evento em si, não foi bem assim.

José Naascimento com Ramaphosa
O lusodescendente com o presidente da África do Sul Cyril Ramaphosa, à esquerda da imagem.

José Nascimento deixa claro que a parceria, oficialmente, “interessa à Madeira”, mas defende que o processo deveria ter sido conduzido de outra forma. Quer que fique claro que esta ausência de madeirenses na festa da flor do Free State “não foi responsabilidade dos conselheiros”. O grupo luso no Facebook, com cerca de 8 mil membros, tem assumido posições críticas sobre a inexistência, na altura, de informação sobre o evento, nem aos madeirenses que vivem perto, falam que não houve bolo do caco, não houve espetada, não houve um cantor madeirense, nada que diga respeito à cultura madeirense, que, como dizem, seria natural que estivesse representada num país de forte implantação de madeirenses.

“A Madeira é convidada para esta festa da flor, leva uma comitiva e nela poderia incluir os dois conselheiros em Joanesburgo. Não fazia mal, até ficava bem promover uma integração da comunidade”, diz o advogado.

Almoço com 30 madeirenses e festa com centenas a meia hora de carro

Nascimento é crítico, também, relativamente à organização do almoço que teve lugar no âmbito da deslocação de Miguel Albuquerque à África do Sul. Um almoço que decorreu no Núcleo de Arte e Cultura, quando em sua opinião, “seria natural que tivesse acontecido na Casa da Madeira. No mínimo, aconselhava-se uma organização conjunta das duas instituições, uma vez que este Núcleo de Arte é uma associação recreativa, de reduzida representação madeirense, não deve ter mais do que uns cinco sócios madeirenses”.

Os conselheiros, desta vez, estiveram presentes, mas o advogado lembra que madeirenses, dos 450 convidados para “este almoço pago pelo Governo, não estiveram mais do que 30”. Compara o que aconteceu com Cafôfo, quando o presidente da Câmara do Funchal esteve em Joanesburgo e “reuniu mais de 600 pessoas na Casa da Madeira, onde cada um pagou o seu”. Lembra, também, que ao mesmo tempo que acontecia esse encontro com o presidente do Governo, a meia hora de Joanesburgo, teve lugar uma festa, na cidade de Magaliersberg, com cerca de mil portugueses, a maioria madeirenses, com espetada, folclore e cantores madeirenses como António Florença e João Quintino. O presidente do Governo poderia ter estado lá, seria aceite de braços abertos. Mas como não segue os conselhos, deixei ficar”.

José Nascimento considera, em síntese, que os conselheiros deveriam ter um papel mais interventivo nestas visitas, admite que os conselhos podem ser seguidos ou não, mas deixa claro que a ausência de respeito pelos representantes retira dignidade à função e à representação junto dos madeirenses residentes na África do Sul.

Trinta anos de advocacia e muita experiência

Lembra parte do currículo para que possa haver um entendimento melhor sobre a mais valia que a sua colaboração poderia trazer à Madeira junto da comunidade e que é reconhecida na própria comunidade. Recorda, em traços gerais, ter 30 anos de advocacia, já esteve em 35 países, tem concedida residência permanente no Canadá, conhece a realidade africana por ter nascido lá. Conhece a realidade europeia, é descendente de europeus, vem a Portugal todos os anos, foi condecorado pelo Presidente da República Portuguesa com a Comenda da Ordem de Mérito, é conselheiro da Diáspora Madeirense, é advogado do Estado de Moçambique desde 1989, tem defendido muitos moçambicanos, esteve num caso mediático envolvendo um motorista de táxi, Mido Macia, “que morreu em consequência de violência policial e foi notícia nos noticiários dos principais canais em todo o mundo, curiosamente com menor incidência em Portugal”. Um documentário sobre o caso será mesmo lançado em festivais internacionais. Faz trabalhos para oito embaixadas na África do Sul, menos a portuguesa. Um percurso que ajuda a compreender o que faz e o que representa este conselheiro da Diáspora.