Educação, sem cultura!?

Obviamente que, não será possível, em qualquer parte do mundo, desenvolver-se a área da educação, sem a presença da vertente cultural. Embora, vários estudos apontam que apesar de existir uma estreita relação entre estas duas áreas – Educação e Cultura –, nem sempre existe, por parte da maioria, uma real compreensão do verdadeiro significado deste valioso binómio, que ajuda a preparar as nossas crianças e jovens e para os desafios da vida.

Ninguém terá dúvidas que os campos da educação e da cultura, devem andar de mãos dadas, como forma privilegiada para a transmissão de saberes, neste mundo da diversidade e da pluralidade.

Um cidadão participativo na sociedade, é reflexo de um ajustado processo de formação e desenvolvimento educacional e cultural, que o mesmo teve, ao longo da sua vida envolvida na educação formal, informal e não formal. A educação e a cultura têm um papel central na formação do cidadão, implicado consigo e com o outro.

Por isso é que a cultura ativa na educação, através da realização de projetos de educação artística, por exemplo, é um verdadeiro apelo à criatividade e à cidadania das crianças e adolescentes, criando-lhes oportunidades de desenvolverem ideias criadoras e de descobrirem novos horizontes.

Neste início de um novo ano letivo, quero acreditar que os nossos decisores políticos, sejam capazes de reconhecer e dar continuidade aos projetos culturais e outros de educação artística confirmados, em algumas das nossas escolas, com provas dadas no sucesso educativo dos alunos e até bem acarinhados pela comunidade educativa. Não pode haver desresponsabilização.

Pois a educação e a cultura são duas componentes essenciais para um melhor desenvolvimento da sociedade e também são áreas de uma importância extrema para o crescimento económico. E a verdade é que não é possível uma vertente económica forte, sem um país educativamente e culturalmente pujante.

Mas, infelizmente, por vezes, também sinto, que “a arte continua a permanecer marginal na educação (…)” Rosa Luísa Gaspar; in JM; pag.14, 29 de agosto de 2018.

Apesar dos tempos conturbados que ainda correm, há que continuar a imaginar uma cultura empreendedora na educação, que seja apelativa e fonte de ideias criativas, colocadas ao verdadeiro serviço da sociedade. Defendo claramente os projetos culturais-educativos que envolvam ativamente os alunos e que o resultado seja compartilhado com a comunidade educativa.

Todas as pessoas devem investir na educação e na cultura, para termos uma sociedade cada vez mais preparada para enfrentar os diferentes desafios que vão surgindo no dia a dia.

A aposta na educação e cultura é uma oportunidade não só de enaltecer a escola que temos, como também é uma forma de refletir sobre a escola que queremos para as gerações futuras.

Como sabemos, foi de forma naturalmente inteligente que “as sociedades modernas elegeram a escola como espaço privilegiado da atividade educacional, porém, ao longo da vida, existem outros conhecimentos importantes para a efetivação da vida cultural. “ Fonte: http://cadernos.cenpec.org.br/cadernos/index.php/cadernos/article/view/162.

À partida, ninguém terá dúvidas, que a cultura e educação artística, são áreas essenciais na formação integral das crianças e jovens. Assim, oxalá que as artes na educação sejam uma realidade em todo o tempo e lugar e não simplesmente elogiada – porque fica bem – em épocas específicas, como em congressos, seminários, festas e em calendários eleitorais.

Um adequado processo de educação e cultura, dá-nos asas para voarmos mais longe. Vem a propósito as nobéis palavras de José Saramago, “os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer.”

A cultura ativa no espaço escolar através das artes, além de enriquecer o currículo escolar, dá-nos um olhar de interpretação diferente do mundo. E isto é fundamental para termos uma melhor educação, com as tais asas fortes, para sobrevoarmos com mais segurança. Negar a cultura no currículo escolar é negar uma melhor formação dos nossos educandos, que serão os grandes responsáveis em dar continuidade a humanidade, num planeta sustentável.

No entanto, importa também referir que “a área da educação tem demonstrado ter alguma dificuldade em acompanhar as mudanças culturais e sociais que vivemos nas últimas décadas.” (Esteireiro, Estudos sobre Educação e Cultura, 2014).

A escola atual deve procurar aprofundar ativamente a relação entre o conceito de educação e as práticas culturais inseridas no processo educativo dos alunos. Pois as práticas culturais incorporadas nas atividades escolares,  é a melhor fase para sensibilizar-se e criar-se hábitos culturais, junto da comunidade educativa, formando-se assim púbicos interessados.

Realça-se que por ocasião, da abertura do IX Congresso de Educação Artística, o Secretário Regional de Educação, Jorge Carvalho, mencionou – e bem – que, “através das suas inúmeras dinâmicas, as artes contribuem de forma significativa para um melhor desempenho dos alunos e das escolas”.

Apraz-me saber que algumas escolas, apostam vivamente no seu projeto educativo, através de iniciativas artístico-culturais, dentro e fora da sala de aula. Pois uma escola ou melhor, “um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se.” (Valter Hugo Mãe; JL Jornal de Letras, Artes e Ideias; Ano XXII; Nº 1095; 19 de Setembro de 2012).

Para finalizar, importa reter que as questões educativas e culturais bem implementadas na escola do século XXI, deve ser uma preocupação constante de todos os cidadãos e nomeadamente, uma responsabilidade partilhada entre os poderes políticos, autárquicos, escolas, famílias e restante comunidade educativa.