O dever da transparência evita equívocos

 

Obviamente que é com profunda tristeza, “dor e vergonha” (Papa Francisco) que li a notícia que envolve mais uma vez o Pe Anastácio Alves nos abusos sexuais a menores.

A leitura atenta da notícia, fez pairar no ar muitas dúvidas. Por exemplo, tem a ver este desenterrar do caso com a denúncia e investigação de 2005 e que em 2007 foi arquivado por falta de provas? Há novas denúncias e nova investigação? O que tem em mãos a Diocese do Funchal e porque não sabemos nós desses novos dados para termos mais elementos que nos ajudem a formular uma posição de acordo com a verdade dos factos? Porque não saiu ainda um comunicado ou uma simples nota da Diocese a esclarecer a opinião pública dizendo o que se passa e o que se vai passar? Havendo novo caso e nova investigação de abusos sexuais ao Pe Anastácio Alves de 2005 para cá, não terão responsabilidade também as autoridades que permitiram que o mal continuasse mesmo que fosse noutras paragens? Não há aqui crime de dolo por parte de quem devia vigiar e cuidar com mais proximidade? Não devem todos serem chamados, pelo menos às entidades do Vaticano, para responderem cada um com o seu grau de responsabilidade? – Além da tolerância zero, transparência máxima, é o que tem pedido o Papa Francisco nestes casos…

Aqui há uma nebulosa enorme de questões não respondidas, que contribuem assim para adensar a avalanche de perguntas, os juízos de valor generalizados e injustos, que no fim prejudicam as vítimas e os acusados a destempo.

Caso não existam novas acusações e novas investigações, e se o caso se refere apenas ao de 2005, desenterrando-se agora irresponsavelmente, só porque sim, soa a duas coisas muito graves. Uma, é a vingança ou fazer do Pe Anastácio o bode expiatório. A outra, é a vontade apressada de mostrar trabalho como sinal que se está do lado do Papa Francisco na remota ilha da Madeira, neste contexto de perseguição que está a ser movida contra o Papa sobre o mesmo assunto, a pedofilia na Igreja. Ambas são muito graves.

Sobre a primeira não tenho elementos que a justifiquem, é uma mera alusão face à espuma dos factos. Espero ser categoricamente desmentido. A segunda, é um aproveitamento indecente e mostra desonestidade, quando se sabe que muitos na Diocese do Funchal, não estão com o Papa Francisco em várias questões, nomeadamente, a atenção às periferias e a todas as reformas, particularmente, a do fim da ostentação na liturgia, a abertura dos sacramentos aos casados, recasados e uniões de facto e a outras que o Papa tem insistido que se comecem a praticar em toda a Igreja. Enfim, esperemos por explicação cabal.

E que venha serenidade para que todos  possamos caminhar seguros sobre o chão da verdade, longe de tabus ou meias palavras. Não assiste a ninguém a autoridade para fazer vítimas, mas o melhor do possível o dever de zelar pelo bem de todos.