PSD-M e PS -M estão com problemas e o povo gosta de festas mas não gosta de problemas

icon-henrique-correia-opiniao-forum-fnO assunto que tem a ver com a nossa partidocracia, muito própria, muito sua e muito pouco do povo, vivendo entrincheirada nos “bunkers” que a democracia foi permitindo, de forma “leviana”, tem sido recorrentemente debatido com distintas formas e em muitos momentos diferentes. Os partidos estão em “falência política” e sobretudo têm um grave problema, que é o autismo perante a inevitabilidade de um exterior cada vez mais exigente, cada vez mais atento, cada vez menos crente nessa forma de fazer política. De dentro para dentro. O povo não sabe como fugir, mas também sabe que não quer ficar.

Os partidos estão mais fracos, na Madeira também, as estruturas são frágeis, não existem automatismos que permitam “pegar o partido” em momentos difíceis e isso tem influência direta nos projetos que estão colocados no terreno. Quando se trata de um partido que suporta o Governo e quando chegamos a uma fase em que o Governo é que está a segurar o partido, então qualquer coisa corre mal e é necessário fazer ajustamentos antes que seja tarde. Acontece ao PSD. O povo tem um ditado que diz tudo: “Nem o pai almoça nem a gente ceia”.

Não é segredo para ninguém que as eleições regionais de 2019 serão provavelmente as mais disputadas de sempre, a avaliar pelos dados que hoje estão disponíveis e pela leitura que vamos tendo dos episódios que cada protagonista vai apresentando. E também esta coisa de maiorias absolutas já foi “chão que deu uvas”.

A “corrida” começou cedo e isso, por si só, já é um perigo, uma demora que se não for gerida de forma inteligente, pode tornar-se pesarosa, tanto para os candidatos como para os eleitores. Por isso, as estruturas partidárias e a “máquina”, como habitualmente se chama aos blocos que estão por detrás dos partidos e que, no fundo, seguram as pontas quando é preciso, devem ser muito fortes, muito presentes, muito ativas, dinâmicas, mexendo no centro de decisão, mexendo com o eleitorado. É isso que se pede, mas não é isso que se vê, o que se vê claramente é o posicionamento individual a sobrepor-se ao coletivo e uma “estonteante” correria para agarrar militantes, leia-se “espingardas”, que andam à deriva algures pelas ruas e pelos cantos de restaurantes e tertúlias. Um pouco a ver onde pára esta “fórmula” de 100 metros para disputar uma maratona. Agora todos contam. Ninguém sabe se vão a tempo no tempo que falta.

O Governo, do PSD, pede crédito e diz que cumpriu algumas promessas. Procurou “arrumar” a casa com algumas “dispensas” que se tornaram indispensáveis, mas esqueceu-se, durante muito tempo, de unir, de blindar mesmo, o que era importante, o partido. E é aqui que reside o grande desafio para Miguel Albuquerque: se não der arrumação ao PSD Madeira, tem o Governo “arrumado” de vez em 2019. E tanto é que nos últimos tempos temos assistido a algumas tentativas de “unir as tropas”, as chamadas forças aparentemente desmobilizadas, mas prontas de “arma” na mão se for preciso, o que é ainda mais problemático para contar. Porque os “tiros” podem ir para o próprio partido e muitos para os pés. Só que não se sabe se essas tropas só aparecem para a fotografia ou vão mesmo para contar o voto. Nunca vamos saber antes, só mesmo no voto.

As festas valem o que valem. São importantes na mobilização dos partidos, mas mesmo nos piores períodos do PSD, mesmo quando perdeu votos em massa, o Chão da Lagoa tinha enchente. Se as palmadas nas costas dessem votos, nunca havia mudança política. Porque quando se é líder, há palmadas nas costas até dois minutos antes do empurrão. É a realidade. E como diz Rui Rio, que também quer tanto marcar pela diferença que às vezes não se dá por ele, mobilizar camionetas para o Pontal pode dar a ideia errada da real dimensão do partido, por isso quer fazer regressar a festa ao modelo dos anos 70. Quem diz o Pontal…

O PS-Madeira está, também, com um problema. Viu o céu tão perto e pensou que daí até ao paraíso era um passo. Não era, claro está. E o problema é mesmo este, segurar o partido de tal forma, que seja suficientemente sólido para garantir, com credibilidade, uma candidatura de vitória. E parece que poucos perceberam isso.

A candidatura de Cafôfo só será forte se for assente numa estrutura partidária forte, onde o líder assuma posição política, fale sobre as grandes questões, não fuja dos temas quentes e deixe para o secretário-geral apenas o que é do secretário-geral, não mais do que isso. Fazer como está a fazer, é demitir-se das funções e abrir um foco de polémica que em nada irá beneficiar esta estratégia de ter um líder e um outro candidato a presidente do Governo.

Percebe-se que no PS-M, às vezes, faz como no futebol, a bola salte e ninguém vai à bola. Assim, fica difícil fazer golo. Percebe-se que o grupo que suporta o apoio a Paulo Cafôfo, vê o PS-M apenas como um meio de atingir um fim. Percebe-se que ache o partido pequeno para um candidato tão forte, que por si só vale mais do que o partido, reunindo um crédito que lhe é reconhecido. Sem “espinhas”. Mas já não se percebe que, nessa dialética, não exista uma estratégia, ainda que conjuntural, mas séria, para que os dois lados estejam fortes, na forma e no contéudo. Cafôfo ganha com Emanuel Câmara afirmativo, interventivo, lutador, como se lhe reconhecia. Não sendo assim, cria-se a ideia, mesmo que não corresponda à realidade, que Cafôfo condiciona, de alguma forma, a estrutura partidária. Como é que uma estrutura partidária condicionada, pode funcionar como base vitoriosa só com o capital de popularidade que efetivamente ganhou na Câmara do Funchal? Fica mais difícil. E mais cedo ou mais tarde é preciso entender isso. Porque isto de desbaratar popularidade, é exemplo atrás de exemplo. Como já se viu.

Tanto o PSD-M como o PS-M terão que resolver os seus problemas, rapidamente. Normalmente, se o povo vê problemas, a tendência é escolher o problema que ainda não foi experimentado na governação. Sem fazer grande coisa, Cafôfo pode estar lá só com os “juros”. Por isso, a responsabilidade maior é de quem já governa.

Ou estou enganado ou o “varrer dos armários” tem que começar mais cedo.