Jorge Moreira passa o testemunho no “Liceu”: “Parto para uma nova “aventura” com enormes expetativas, com espírito de abertura e de inovação”

Fotos Funchal Notícias.

Após 31 anos à frente da Escola Secundária Jaime Moniz, Jorge Moreira passa, esta sexta feira, o testemunho a nova equipa, eleita no passado 21 de junho. A história do emblemático “Liceu” fica, inevitavelmente, com a marca deste professor, licenciado em História, que tem gerido os destinos de uma instituição com um legado de referência na história do ensino da Madeira. Conciliador e defensor acérrimo do lema tradição-inovação, geriu a instituição procurando abri-la aos novos tempos, mas mantendo o ADN do histórico “Liceu”. Sai pelo seu pé, preferindo abrir caminho a uma nova equipa, mas abrindo-se sempre a novos desafios.

Funchal Notícias: Deixa a presidência do Conselho Executivo da ESJM após 31 anos de exercício deste cargo. Quais são os seus sentimentos na hora da saída?

Jorge Moreira: Saio com um sentimento de missão cumprida, de realização como ser humano, de gratidão. Parto para uma nova “aventura” com enormes expetativas, com espírito de abertura e de inovação que sempre me caracterizou ao longo da vida.

Tudo o que fiz de positivo para prestigiar e dar bom nome à nossa grande Escola, só foi possível graças ao apoio e à adesão de toda a comunidade educativa que confiou, ao longo de 31 anos, num projeto inspirado na valorização da pessoa humana que sempre se sobrepôs às metas e aos números.

FN: As eleições de 21 de junho culminaram com a vitória da Lista A, com uma diferença de 29 votos sobre a lista B. Como interpreta estes resultados?

J.M.: Interpreto como um sinal de grande dinamismo, de vitalidade e de afirmação da nossa escola, que, após um ciclo longo da minha administração, conseguiu mobilizar-se com o objetivo de encontrar novos caminhos, novas abordagens, novas perspetivas e soluções para a escola do século XXI. Sinto uma enorme satisfação por constatar que a nossa escola tem quadros à altura capazes de preservar e melhorar a nossa cultura organizacional, que assenta na tradição e na inovação.

FN: Em jeito de balanço, o que gostaria de ter feito, ao nível da gestão, que não conseguiu concretizar?

J.M.: Como tudo na vida, não se consegue a plena realização dos nossos projetos. Não consegui renovar e modernizar o edifício, na sua totalidade. Tenho consciência que muito foi feito e muito mais haveria a fazer. Gostaria de ter deixado a marca do turno único, em que a escola passaria a funcionar com componente lectiva, das 8h às 15h e com atividades de enriquecimento curricular a partir das 15h. Era um dos meus objetivos, mas na conjuntura atual não foi possível devido ao elevado número de alunos que escolhem a nossa escola. Num futuro muito breve, este objetivo poderá ser concretizado.

FN: A tarefa da chefia de uma Escola com 180 anos confrontou-o perante desafios exigentes. Qual foi o maior dos desafios?

J.M.: Foi ter tido a capacidade para liderar, durante 31 anos, uma instituição de grande complexidade, saber gerir a diversidade e a conflitualidade, criar sinergias para mobilizar e envolver todos os intervenientes no processo educativo, direcionando-os para a prossecução das metas inscritas no nosso projeto educativo.

FN: Que balanço faz à relação entre o Conselho Executivo da ESJM e a tutela, a Secretaria Regional da Educação, ao longo destes 31 anos? A autonomia escolar é respeitada?

J.M.: A minha relação com a tutela, a Secretaria Regional de Educação, foi sempre de total lealdade, de respeito e de proximidade. Sempre constatei que, quer da tutela, quer dos conselhos executivos, houve uma enorme preocupação de encontrar as melhores soluções, tendo em vista prestar um serviço de excelência aos alunos. Considero que todos os secretários regionais de Educação tiveram uma enorme consideração e respeito pela autonomia das escolas. Em algumas situações pode ter havido alguma intromissão nas competências específicas da escola, mas isto deveu-se, creio eu, à grande proximidade que a autonomia tornou possível, num contacto direto e simples com a tutela, com o objetivo de resolver, de uma forma célere, situações difíceis e complexas.

FN: É mais fácil ser gestor ou professor?

J.M.: São duas realidades diferentes, mas que se complementam. A missão de um professor é muito exigente. Tem que preparar, diariamente, as aulas e estar devidamente atualizado nestes tempos de mudança. Tem que ter um espírito de liderança, tem que saber motivar os alunos, tem que os mobilizar para o sucesso pessoal e profissional, tem que saber aliar as competências científicas e emocionais às competências pedagógico-didáticas. O professor tem de ser uma referência para o aluno. O presidente de uma escola tem que ser um verdadeiro líder. É o leitmotiv, o “motor”, o impulsionador, o dinamizador, a referência a todos os níveis para a comunidade escolar. O seu papel é de uma importância relevante para o normal e bom funcionamento da organização escolar.

FN: Como antevê o futuro do “Liceu”/ESJM, tendo em conta os grandes desafios que se colocam à Educação em Portugal?

J.M.: Tenho enorme confiança na qualidade e competência dos profissionais (docentes e não docentes) da nossa escola. Tenho a firme convicção que, apesar de algumas contrariedades nas suas expetativas profissionais, nunca deixarão de envidar todos os esforços para que a nossa escola continue a ser uma grande referência no contexto escolar da Região. Tem que haver uma aposta, continuada e sustentada, na renovação, no rejuvenescimento dos quadros e na inovação para poder acompanhar e vencer os enormes desafios que se colocam à educação, quer na Região, quer no País.

FN: O aluno é sempre o centro de uma instituição de educação. Como tem sido a sua relação com os pais dos discentes ao longo destes anos? Há interesse da parte da família em colaborar com a Escola?

J.M.: Tenho pena que as associações de pais não tenham tido uma implantação forte e generalizada nas diversas escolas. No ensino secundário a ausência de associações de pais torna-se mais acentuada, devido aos níveis etários dos alunos e pelo facto de ser apenas três anos. Esta lacuna, esta ausência dos pais na escola, porque esta lhes pertence, torna mais difícil, a meu ver, a promoção do sucesso educativo dos seus educandos. A educação dos alunos assenta em, primeiro lugar, no pilar da família. A sua presença nas escolas constitui um factor decisivo para a melhoria do processo ensino-aprendizagem.

FN: Qual é a mensagem que deixa à comunidade escolar?

J.M.: Quero deixar uma mensagem de confiança, de esperança e de encorajamento para tempos vindouros. A nossa missão de educadores é de uma relevância extrema para a formação e valorização das novas gerações e para o desenvolvimento no nosso país. Um país que não valoriza o professor é um país que não aposta no futuro, que não aposta na modernidade.