Anualmente, o mês de março, presenteia-nos com dois dias dedicados a duas grandes artes que sempre acompanharam o desenvolvimento da humanidade: dia mundial da Poesia a 21 e dia mundial do Teatro a 27.

Estas datas foram criadas por instituições internacionais de máximo reconhecimento cultural, como a UNESCO que, em 1999, criou o Dia Mundial da Poesia e o Instituto Internacional do Teatro, em 1962, passou a celebrar o dia mundial do Teatro.

O objetivo de comemorar estas datas passa por promover as artes poéticas e teatrais junto das pessoas; estimular a livre criação de ideias através das palavras (escritas e interpretadas), da criatividade e da inovação.

Por isso é que devemos estimular o gosto por estas artes (teatro e poesia) desde os primeiros anos escolares, para termos cidadãos mais cultos, cíticos, criativos e sensíveis às questões que movem o individuo e a sociedade.

Pois através da prática e compreensão, constantes, da linguem poética e teatral, construímos melhor a sensibilidade e o saber das pessoas e melhoramos de uma forma natural a nossa capacidade de pensamento crítico, bem como, estimulamos o campo da criatividade.

Daí que, tanto pais, como professores, devem colocar as crianças e jovens a ler poesia com mais frequência, de maneira a despertar-lhes hábitos de leitura, e até de escrita, formando-se assim, cidadãos mais atentos e introspetivos.

Mas na realidade não há uma frequente prática e apreciação de Teatro e Poesia no meio escolar. Existe momentos pontuais, mas deveriam ser mais e abertos à comunidade educativa. Há que trazer mais a Poesia e o Teatro para dentro da casa de cada um, para o espaço escolar, para os palcos, para o meio da rua. A Poesia e o Teatro não devem limitar-se só a alguns ou simplesmente constar nos livros expostos nos escaparates de algumas bibliotecas e livrarias.

Os grupos de teatros, também devem ter a responsabilidade em promover encenações teatrais de poesia, dirigidas às várias faixas etárias. E que tal retomar os antigos serões e poesia, e as interessantíssimas récitas ou recitais, se preferirem – tradição cultural que se realizava com alguma frequência, nos salões paroquiais da nossa região?

A verdade é que o teatro e a poesia funcionam de forma diferente dentro de cada um de nós, mas funcionam. E como estas artes podem ser um passo contributivo para a formação e evolução pessoal, artística e cultural de cada um, como membro de uma comunidade, há que as incentivar.

A poesia é uma arte única que está em todos os lugares e tem o poder de tocar bem no coração das pessoas, daí as acertadas palavras do poeta Pablo Neruda: “a poesia é um ato de paz”. O poder da poesia que nos transforma e age no nosso cérebro pode estar num texto, numa imagem, numa música, num olhar, num cheiro, num gosto. Pois “a poesia tem um poder incomparável. É o poder de nos sacudir da vida cotidiana e nos lembrar a beleza que nos cerca e a resiliência do espírito humano compartilhado.” (Irina Borokova).

Vivemos num tempo onde a poesia e o teatro devem ser uma presença ativa nas nossas vidas, fazendo-nos sentir mais e até produzir emoções que nos preenchem como seres humanos. Temos que acreditar na poesia do nosso tempo, pois se “Nós não temos asas, não podemos voar; Mas nós temos pés para escalar e subir; Por lentos graus, mais e mais; Os cumes nebulosos de nosso tempo. (Henry Wadsworth Longfellow).

A poesia e o teatro são janelões por onde entra uma luz plena de educação e cultura que todos devem aproveitar. Pois estas artes não são um luxo, são um bem essencial que, está a disposição de todos. É uma fonte de diálogo e compreensão na qual devemos beber. Assim que o Homem começou a expressar-se com as suas emoções a poesia e o teatro nasceram, para jamais morrer.

Ao festejar a poesia hoje, nós celebramos a capacidade de nos unir, a um espírito de solidariedade. Contribuímos para acordar os sentimentos poéticos com um simples gesto, uma palavra de agrado, um olhar, pois a poesia é como uma era que abraça um muro torto e inestético, tornando-o mais bonito.

Por isso é que a arte poética e teatral continua a fascinar-nos tantos séculos depois de surgir. Estas artes transformam o nosso olhar sobre o mundo, o nosso pensamento crítico e isso tem, claramente, um efeito positivo na nossa vida e na forma como relacionamo-nos uns com os outros.

Há que ler poesia em língua portuguesa, de poetas contemporâneos, clássicos, desconhecidos, consagrados, vivos ou ausentes, como Camões, Fernando Pessoa, Herbert Héder, Sofia de Mello Brayner, Natália Correia, Al Berto. Pois, nas palavras de Eduardo Lourenço, “Os poetas quando são verdadeiros não morrem”.

Como referimos acima, neste mês de março, comemora-se a arte da Poesia e do Teatro. E alguns eventos acontecerão um pouco por toda a região para celebrar-se estas vertentes artísticas. Exemplo disso é a iniciativa da OFITE – Oficina de Teatro do Centro Cívico do Estreito de Câmara de Lobos, que pelo segundo ano consecutivo, vai celebrar estas artes com a estreia de uma performance poética teatral “ Poesia-me em Pessoa”, numa clara alusão ao universo poético de Fernando Pessoa. Os espetáculos, com entrada livre, serão apresentados no Centro Cívico do Estreito, nos dias 24, 26, 27 e 31 às 21h00 e no dia 25 às 18h00.

É tempo de sermos Homens com vontade de juntar-se e apreender com as artes poéticas e teatrais e não “Homens-marionetas, que têm vontades, mas ainda não têm vontade”.

Gosto, efetivamente, das pessoas que servem a poesia e o teatro e não das que se servem descaradamente destas artes. Por isso é que importa fazer constantemente uma reflexão sobre o poder da linguagem poética e teatral, como excelentes formas de  perceção e de compreensão do mundo.