Diva Freitas critica influência cristã na busca do conhecimento sobre o património

Da arquitecta Diva Freitas, ex-directora de serviços do Património da DRAC, recebemos uma missiva relativa às recentes Conferências do Museu de Arte Sacra do Funchal, com uma apreciação que reputamos digna de interesse. Diva Freitas invoca os seus 33 anos dedicados à defesa do Património Cultural da Região Autónoma da Madeira para dar uma “colaboração/testemunho” sobre as ditas palestras.

“Agradeço aos excelentes oradores que falaram sobre museus e património, vão no caminho certo embora ainda não tenham chegado ao cerne da questão e, aos que disseram coisas erradas sobre o tema, pois considero que nestes eventos aprende-se sempre com todos”, considera.

A arquitecta e antiga responsável regional pelo Património refere que “a Região teve há cinco anos uma oportunidade única de ser precursora na dinamização dos espaços museológicos, mas a sociedade madeirense é dominada por cristãos que nem de domingo são e que na área do património cultural permeiam a mais aberrante ignorância e perseguem com um doentio e impiedoso bullying o conhecimento”.

A este respeito, invoca dois pontos abordados nas conferências.

“A sério: pagar para visitar igrejas, património cultural, espaços públicos de culto, não, nem pensar. O seu valor patrimonial retira-lhes esse direito. Como provocação e esclarecimento: o Museu de Arte Sacra do Funchal não é um museu eclesiástico, é por leitura da lei um museu secular”, aponta.

“Sendo profundamente não crente, costumo dizer por brincadeira que já ganhei o céu ao aturar padres, quer para conseguir fazer o inventário do património cultural religioso, quer para executar as intervenções de recuperação e restauro no património religioso monumental -nos quinze anos em que consegui levar o estudo científico e as intervenções no Património Cultural da RAM, do século XIX (para onde já voltaram) ao século XXI”.