Médicos dentistas há menos de dez anos enfrentam dificuldades, bastonário diz que profissão está desprotegida

dentistas B
O estudo revela que o número de utentes tem vindo a crescer.

O estudo foi encomendado pela Ordem dos Médicos Dentistas e revela uma nova realidade:  uma divisão geracional no exercício da atividade. Os médicos dentistas que se formaram há menos de dez anos enfrentam dificuldades crescentes para se integrarem no mercado de trabalho, revela uma das conclusões desta abordagem desenvolvida pela consultora QSP e a que foi dado o título “Diagnóstico à Empregabilidade 2017”.

A entrada no mercado de trabalho dá-se cada vez mais tarde, residindo aí aquilo a que o estudo denomina de “primeira clivagem geracional”, sublinhando que ela dá-se após a conclusão dos estudos. “A entrada no mercado de trabalho, depois da conclusão da faculdade, demorou menos de 6 meses para 78% dos médicos dentistas. Só que os que se formaram há mais de dez anos conseguiram, em média, uma inserção muito mais rápida, com 59% a exercerem a atividade em menos de um mês. 63% Dos médicos dentistas que exercem em Portugal trabalham em um ou dois consultórios, no entanto, mais de metade dos médicos dentistas que se formaram há mais de três anos – e menos de 10 – trabalham em mais do que quatro consultórios, e dos que têm mais de 51 anos, 60% exercem apenas num consultório”.

Outra diferença apontada pelo estudo, reveladora de uma situação que ocorre igualmente noutras profissões,  é que os que se formaram há mais de 10 anos “são os que mais exercem atividade por conta própria (69%), e os que trabalham há menos de 10 anos por conta de outrem (77%)”.

Em matéria de remuneração dos médicos dentistas, a mesma varia consoante o número e o custo dos procedimentos. “66% Tem uma remuneração variável e apenas 24% dos que exercem na vertente clínica aufere uma remuneração fixa. O início de carreira é marcado por uma remuneração baixa quer para os que trabalham muitas horas quer para os que trabalham menos. Em relação ao consultório onde exercem mais horas, 52% dos médicos dentistas fazem-no por conta de outrem e 44% exercem por conta própria”.

Numa informação veiculada pela Ordem, é referido que o bastonário Orlando Monteiro da Silva considera que “para além da figura do empregado ou do desempregado, é essencial legislar no sentido da criação do conceito de subemprego. A profissão liberal encontra-se desprotegida pelas leis do trabalho, nomeadamente em termos de categoria profissional, empregabilidade, maternidade, proteção na doença, acidentes de trabalho, incapacidade profissional e reforma. O facto de a maioria (63%) dos médicos dentistas, principalmente os mais jovens, se encontrarem a exercer em diferentes clínicas e consultórios é disso prova”.

Dos inquiridos, 70% considera muito importante a criação de uma tabela de valores de referência para a prestação de serviços. Legalmente, a OMD não o pode fazer, por isso, o bastonário deixa um apelo ao governo: “existe a necessidade de legislar no sentido da implementação de uma tabela de valores de referência (preços) dos atos de medicina dentária, assegurando parâmetros de qualidade, transparência de informação e defesa da saúde pública. Há exemplos de regulação tarifária para profissões liberais existente em vários países, com provas dadas na proteção dos consumidores. Este estudo mostra que uma percentagem muito elevada de médicos dentistas concorda com esta opção”.

 

Orlando Monteiro da Silva deixa uma recomendação: “Os candidatos ao mestrado integrado de medicina dentária devem informar-se sobre as condições de empregabilidade da profissão no contexto nacional, sobre a elevada taxa de emigração e outras condições gerais da profissão, nomeadamente em termos salariais nos primeiros anos de exercício. As recomendações internacionais apontam para Portugal um rácio de 1 médico dentista por 1.500 a 2.000 habitantes. Neste sentido, o acesso à formação graduada deveria ser adaptado às necessidades de procura do nosso país”.

 

Dos mais de dez mil médicos dentistas inscritos na OMD, foram registados pela consultora QSP 2.060 inquéritos válidos e, face à amostra, o estudo, que visa mostrar os principais indicadores do exercício da medicina dentária em Portugal, tem relevância estatística com um erro de precisão de 2.16%, para um nível de confiança de 95%.