Criança de 14 anos internada com gripe A na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos; SESARAM desmente falta de medicamentos

Fotos: Rui Marote

Uma criança de 14 anos encontra-se presentemente internada no Hospital Dr. Nélio Mendonça, na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, com gripe A. A informação foi dada de modo quase acessório – apenas como se fosse mais um dado que se revestia de algum interesse, ou, como foi dito de “curiosidade” – no final de uma conferência de imprensa convocada esta manhã pelo SESARAM, e na qual a administradora Tomásia Alves, de forma diplomática e apelando às “parcerias”, foi insistentemente dando uns “puxões de orelhas” aos jornalistas, passe a metáfora, ao mesmo tempo que insistia com eles para “maior rigor” noticioso.

O caricato é que a administradora a princípio nem quis confirmar que tipo de gripe se tratava, como se a gripe não fosse algo de comum no Inverno e dificilmente mencionado no âmbito duma conferência de imprensa, a menos que a situação se revestisse de algum tipo de gravidade. Só com a insistência dos jornalistas do FN é que acabou por reconhecer que se tratava da gripe A, sendo depois confirmado por um dos elementos da equipa médica que a acompanhava na conferência que a criança estava na UCI e em observação, adiantando que ainda é cedo para fazer avaliações sobre o seu estado de saúde. A médica não quis sequer confirmar se a paciente estava estável.

A razão desta conferência de imprensa convocada às pressas, na manhã de hoje, ter-se-á devido à indignação dos responsáveis do SESARAM com uma notícia avançada na comunicação social regional que, afirmou Tomásia Alves, “não corresponde à verdade”, dando conta de nove medicamentos em ruptura no Serviço de Saúde regional.

“Desses nove medicamentos, apenas dois estão à espera da entrega da encomenda”, assegurou Tomásia Alves, asseverando que a sua falta “não representa risco para a saúde dos seus potenciais utilizadores”. Trata-se de ácido ascórbico e sulfato ferroso, esclareceu um elemento da equipa clínica.

Tomásia Alves reconheceu ser verdade “existirem cá, como existem em todas as unidades hospitalares, momentos em que há alguns atrasos nas entregas”. Mas, frisou, desde 2017 tem sido feito um esforço assinalável no sentido de controlar estas rupturas de stock. Em 2017, um orçamento na ordem dos 29 milhões de euros contribuiu para isso, não contando com a medicação para a hepatite; para 2018, “temos um orçamento de 35,7 milhões”, pelo que se mostrou crente de que “é expectável que estas situações pontuais venham a reduzir-se progressivamente”.

Os processos de aquisição de medicamentos, sublinhou, regem-se pelos códigos da contratação pública, que são morosos e que visam garantir a utilização transparente dos dinheiros públicos, bem como o acesso universal a todos os potenciais fornecedores. Todo o plano de compras dos fármacos e dispositivos clínicos foi elaborado em Junho de 2017. Por vezes, deixou entender, a burocracia emperra o processo de aquisição, mas são procedimentos a que as entidades da administração pública, para ser rigorosa, está obrigada.

“Quando essas situações acontecem, nós temos encontrado alguns mecanismos de compensação”, sublinhou. Nomeadamente, “o trabalho dedicado, diário e persistente de todos os profissionais desta casa”, na “gestão cuidadosa e criteriosa dos stocks” e no “redimensionamento da entrega dos medicamentos”. Por exemplo, no caso de um doente oncológico, em vez se entregarem tomas para um mês, porque entretanto surgiram mais doentes, fazem-se as entregas para 15 dias. Tomásia Alves assumiu que “há o incómodo das pessoas terem de vir cá mais vezes, mas assim garantimos que todos os doentes estão cobertos pela medicação correspondente”.

Outra medida é a colaboração com as farmácias e com os próprios distribuidores, “que nos fazem algumas cedências de medicamentos” que se encontram em falta no Hospital. Os transitários vão buscar esses fármacos a determinados hospitais, para os fazer chegar ao Funchal, o que mais uma vez causa demoras devido aos problemas criados pelos transportes e pela insularidade.

A ruptura de medicação, insistiu, “é recorrente em todas as unidades hospitalares”; deu como exemplo disso, recentemente, o IPO, no qual tal aconteceu e que se socorreu dos mesmos mecanismos que o SESARAM utiliza.

Por outro lado, a oradora salientou que o Serviço de Saúde da Madeira tem vindo a sentir este ano a introdução de novos doentes que vêm de outros países, e que precisam de manter a continuidade dos medicamentos, o que está também a “causar alguns problemas na gestão da distribuição da medicação”.

A introdução de novos fármacos e de novas terapêuticas, foi outro dos tópicos abordados: é legítimo, disse, que todos nós queiramos novos medicamentos, e aqueles que cientificamente estejam mais avançados. “Temos uma grande pressão para a adesão a medicação inovadora”, reconheceu.

Tomásia Alves terminou expressando, em seu nome pessoal e no do Conselho de Administração, o reconhecimento pelo trabalho realizado “por todos os profissionais desta casa”. A  partir daí, e servindo-se deste bordão, queixou-se recorrentemente do modo como as “notícias pouco rigorosas perturbam o bom funcionamento desta casa e a falta de confiança da população em geral”.

“Nós contamos com a comunicação social como parceira para dizer que o local mais seguro para se tratar é no SESARAM”, adiantou, “e para se sobreviver a uma situação de catástrofe”, porque é ali que “estão os melhores recursos físicos, médicos, clínicos”. Sublinhou que médicos, enfermeiros e demais profissionais “trabalham dia e noite” para o bem estar da população e lamentou: “Não é justo que com uma informação pouco rigorosa se vá denegrir o trabalho que todos os dias estas cinco mil pessoas fazem, desde os Centros de Saúde às Unidades de Cuidados Intensivos (…)”.

Uma opinião aceitável, mas que não teve em conta algo que os jornalistas do FN, finda a conferência, não tiveram pejo em expor à consideração da administradora, ou seja, de que as notícias sobre as convulsões no SESARAM chegam ao conhecimento dos jornalistas do mesmo modo que as violações do segredo de justiça. Ou seja, são os próprios profissionais do sector que dão conhecimento dos problemas existentes à comunicação social… porque não estão de acordo com os mesmos e porque duvidam da administração criteriosa. Mas Tomásia Alves afirmou que o objectivo é partilhar informação, mas “sem alarmismos” e com “rigor, cientificidade e respeito pelos utentes e pelos trabalhadores desta casa”.