Controlo de natalidade nas gatas: pílula versus esterilização

Uma gata doméstica atinge a puberdade por volta dos 6-9 meses. O número de horas de luz durante o dia a que uma gata está sujeita influencia a sua entrada em cio, daí que os cios ocorram com maior frequência a partir de Janeiro/Fevereiro e terminam por volta de Setembro/Outubro. No entanto, gatas que vivam no interior da casa podem apresentar cios todo o ano devido à mimetização da luz solar pela luz artificial. A duração média do cio nas gatas é de 3 a 10 dias, com intervalos de 2 a 3 semanas, portanto existem vários cios ao longo da época reprodutiva. Os donos (ou os vizinhos) notam logo que a sua gata entra em cio, pois existem alterações de comportamento como o miar frequente (que não deixa ninguém dormir), a maior agitação e agressividade, marcam o território com urina e roçam-se em todo o lado. Em simultâneo fazem de tudo para se escaparem de casa ficando expostas aos mais variados perigos. Se a gata tiver acesso ao macho pode ter 3 a 4 ninhadas num ano, com 5 ou 6 filhotes por ninhada (em média).

Para o controlo dos cios e natalidade nas gatas, a pílula foi durante muitos anos um recurso utilizado com muita frequência, provavelmente pelo seu baixo preço e conveniência. Os efeitos adversos não eram conhecidos ou divulgados. Hoje sabe-se que a pílula comporta riscos que originam com frequência graves complicações de saúde, que podem comprometer a vida do seu animal. Facto que nos impedem de aconselhar este método. A longo prazo, a administração de pílula, acaba por se tornar mais cara que a esterilização e originar patologias, nomeadamente infecções uterinas e tumores mamários, para além de a sua eficácia no controlo da gestação não ser tão elevada como a da cirurgia.

Estudos recentes indicam que a malignidade de tumores mamários em gatas é de cerca de 95%, sendo tumores bastante agressivos e de grande poder metastásico (capacidade do tumor se espalhar). Os locais mais comuns de metástases deste tipo de tumores são os pulmões e os gânglios linfáticos. É importante realçar que os tumores mamários podem ser prevenidos através da realização da ovariohisterectomia (esterilização) em idade jovem.

O risco de desenvolvimento de tumores mamários é de cerca de 0,05% nas fêmeas esterilizadas antes do primeiro cio, 8% entre o primeiro e o segundo cio, e 26% naquelas que foram esterilizadas após o segundo cio, sendo aconselhável realizar a esterilização precoce naqueles animais que não têm fins reprodutivos. Por isso, desde a primeira consulta aconselhamos a esterilização (ovariohisterectomia = remoção cirúrgica dos ovários e útero).

Para além de ajudar a reduzir o numero de animais sem-abrigo (uma gata pode originar 20 000 gatinhos num espaço de 5 anos) e de impedirmos indesejáveis comportamentos do cio (intensos miados, marcação urinária do território), a esterilização tem efeitos benéficos na saúde dos gatos:

– menos ferimentos derivados de lutas;
– menor risco de contrair doenças infecto-contagiosas (ex. FIV e FeLV)
– “fogem” menos (menor risco de serem atropelados ou de se perderem);
– diminui a probabilidade de desenvolver tumores mamários (principalmente se as fêmeas forem esterilizadas antes dos 6 meses de idade);
– previne em 100% o aparecimento de tumores do útero, dos ovários e infeções uterinas;

 

Na clínica recomendamos a esterilização aos 6 meses, quer para machos quer para fêmeas. Em casos particulares pode-se realizar a esterilização mais cedo.

A minha gata deve ter uma ninhada antes de ser esterilizada?

Não. A ideia de ser benéfico para a saúde da gata ter pelo menos uma ninhada é um mito completamente errado.

A esterilização altera o comportamento ou o desenvolvimento do meu gato?

Não. Os estudos recentes revelam que a esterilização não interfere com o crescimento normal dos gatos nem com o seu comportamento.

A cirurgia quer do gato quer da gata é muito simples, com uma recuperação muito rápida. A cirurgia deve ser preferencialmente precedida de uma consulta, onde são explicados todos os procedimentos e onde é realizado um “check-up” pré-cirúrgico.

Os animais têm alta no próprio dia de cirurgia e ser-lhe-á explicado alguns cuidados pós-operatórios muito simples que deve ter em casa, bem como a melhor alimentação para esta nova fase.

*Médica na Clínica Veterinária Santa Teresinha