“Igreja é mãe e madrasta, parece que importa salvar a disciplina mesmo sacrificando as pessoas”, diz o padre Alberto Osório abordando o caso “Giselo”

Alberto Osório
O padre Alberto Osório é natural do Porto e vogal da Associação Fraternitas. Foi ordenado em 1980, deixou o exercício em 1992, casou depois disso.

“O impedimento de constituição de família ao Padre Giselo que a disciplina eclesiástica impõe, deixa transparecer uma Igreja simultaneamente mãe e madrasta… Parece que importa salvar a “disciplina”, mesmo sacrificando as pessoas! Há uma sobreposição do Direito Canónico à simplicidade da Boa Nova de Jesus”. Esta opinião é do padre Alberto Osório, vogal da direção da Associação Fraternitas, que reúne padres casados, mas é em nome pessoal que faz estas declarações ao Funchal Notícias a propósito da recente decisão do Bispo do Funchal, de afastar o padre Giselo da paróquia do Monte.

O Sacramento radical não é a Ordem, mas o Baptismo

Natural do Porto, vive em São João da Madeira e foi ordenado em 1980, pertenceu à Congregação Redentorista. Abandonou o exercício em 1992 e só depois disso é que casou. Foi professor, tem 68 anos de idade, está aposentado e dá aulas, a título gratuito, em contexto de Universidade Sénior.

Alberto Osório fala do caso “Padre Giselo” com o distanciamento e o conhecimento que a experiência lhe confere. Diz que “a Igreja, nascida em Jesus e a que se adere pelo sacramento do Baptismo, desenvolve-se, como comunidade, na interacção pessoal, alimentada pela Eucaristia”. E considera “um crime impedir as comunidades de se fortalecerem pela celebração e vivência eucarística só porque escasseiam presbíteros célibes e se “despacham” os que, mesmo sentindo-se chamados a “representar” Jesus e aceites pelas comunidades, acolheram e desenvolveram também o amor com outro ser que é igualmente filho de Deus. O sacramento radical não é a Ordem, mas o Baptismo”.

Bispo
“O problema da filha de ambos não está devidamente equacionado: uma criança, para um equilibrado desenvolvimento, necessita de uma família “normal” em que a presença do pai e da mãe permitam um harmónico e integral crescimento”,

Está convencido que não estará longe o tempo em que “a primazia dada às Comunidades Eclesiais desembocará no surgimento dos seus servidores a ela devotadamente dedicados: homens e mulheres, célibes ou casados”.

Problema da criança não está a ser equacionado

Atento ao desenrolar de todos os acontecimentos à volta desta situação do padre Giselo, pároco do Monte que o Bispo D. António Carrilho acaba de afastar, propondo outras funções ligadas à comunicação, Alberto Osório lembra que “também o Padre Giselo, ao pedir para se manter em funções ministeriais, deverá ter dialogado com a mãe da sua filha e, provavelmente, os dois terão optado para que ele mantivesse o exercício ministerial”. Sente, no entanto, que “o problema da filha de ambos não está devidamente equacionado: uma criança, para um equilibrado desenvolvimento, necessita de uma família “normal” em que a presença do pai e da mãe permitam um harmónico e integral crescimento”.

Atitude sensata do Bispo

Relativamente à atitude do Bispo do Funchal, é de opinião “desde o momento em que houve conhecimento público do caso, parece-me muito sensata, cordial, ponderada, mormente no que ao Padre Giselo respeita. Houve um tempo de reflexão, de maturação. Noto que, na tramitação do processo, há, para mim, uma falha: parece que não existe uma criança nem a sua mãe, dignas de todo o afecto e acolhimento, porque pessoas, mesmo sem considerar a dignidade que do Baptismo deriva, partindo do princípio de a mãe ser baptizada.

Tal como referimos no início, Alberto Osório, vogal da Associação Fraternitas aborda o assunto em termos pessoais. Não houve tempo de reunir os membros daquela associação para que as declarações fossem representativas do movimento. A Associação a que pertence, onde é vogal, é “eclesial privada, de fiéis, constituída por ministros ordenados que deixaram o exercício do Ministério, casados ou não, e suas esposas ou viúvas”, sendo assim apresentada na sua página disponível ao exterior. Nessa mesma página, foi reproduzido o comunicado do Bispo do Funchal relativamente à saída do padre Giselo.