Solução da Islândia para alcoolismo, tabagismo e consumo de drogas entre adolescentes é modelo que poderia ser importado

*Com Rui Marote

Quem não se recorda do acontecimento? O mês de Outubro de 2008 ficará para sempre registado a negro na história desta república insular de apenas 320 mil habitantes, situada no já frio Atlântico norte. A bolha financeira islandesa da primeira década do novo milénio rebentou sem aviso, colocando o país na falência. A dívida chegou a representar nada mais nada menos que 900% do PIB, e a moeda nacional (a coroa islandesa), desvalorizou-se em 80% em relação ao euro. Mas o país acabaria por dar a volta por cima, saindo da crise quatro anos mais tarde, tendo escolhido não obedecer às directrizes da União Europeia e recusando a austeridade, que Portugal abraçou sem reservas.

Conhecendo este país e as suas idiossincrasias, não abordaremos economia nem números, mas aspectos sociais importantes nos quais a nação islandesa provou ser também original e criativa no modo de lidar com os problemas. Um recente artigo no jornal espanhol El País abordava de forma muito interessante este tema, pelo que procuro, através deste alerta, sensibilizar os responsáveis parlamentares madeirenses para estes problemas e a forma exemplar como este país os resolveu.
Os adolescentes islandeses eram os que mais bebiam na Europa, há duas décadas. Uma triste realidade difícil de reverter. O que é certo é que agora encabeçam o ranking de hábitos saudáveis. As palestras de sensibilização contra as drogas foram substituídas por legislação mais rígida, sendo ao mesmo tempo fomentadas as actividades extracurriculares para os jovens estudantes. Ou seja, foram-lhes dadas alternativas, modos de passar o seu tempo mais construtivos.
O consumo de álcool passou de 46% entre os adolescentes em 1998 para 5% em 2016; de cannabis, de 17% para 7% entre as mesmas datas; e até o tabagismo desceu de 23 por cento em 1998 para 3% em 2016.
Entre outras medidas efectivas, elevou-se a maioridade de 16 para 18 anos; impôs-se um recolher obrigatório para os adolescentes; e, talvez mais importante do que tudo, financiaram-se as actividades extracurriculares. A ideia fulcral foi a de que a arte e o desporto são capazes de, por si próprios, gerarem níveis de satisfação capazes de rivalizar com as drogas e outros vícios. Agora os jovens islandeses passam mais tempo em família, e obtêm resultados na escola significativamente melhores. O plano poderia bem ser exportado para outros países, ou mesmo regiões que enfrentam este tipo de problemas. Aspectos, na sua maioria, dependentes de legislação nacional, mas eventualmente também de medidas nas próprias regiões autónomas. Recorde-se que não foi há muito tempo que se levantaram polémicas públicas sobre o consumo de drogas, por exemplo o tão famigerado “bloom” e os derivados das drogas que durante algum tempo foram legais, e que muito afectaram o meio da Região Autónoma da Madeira, com muitos casos de indivíduos alucinados a serem reportados – o que ainda hoje acontece, após a proibição desse tipo de estupefacientes, a nível nacional, que a Madeira protagonizou na primeira linha da frente.