“Zé”, o sem-abrigo com a perna aparentemente gangrenada, regressou ao Quebra-Costas: o Natal não lhe trouxe presentes

*Com Rui Marote

Há histórias destas, de miséria humana. A qual, infelizmente, não se mostra apaziguada pelos festejos natalícios. O sem-abrigo conhecido pelo “Zé”, o indigente de quem o Funchal Notícias dava conta num artigo publicado no passado dia 19 de Dezembro, regressou à Rua do Quebra-Costas, onde costuma pernoitar a curta distância de uma moradia familiar onde em tempos viveu. Após três dias de ausência, regressou na noite de ontem para hoje e ali dormiu, ao relento, envolto num cobertor. De manhã cedo, abalou para destino incerto. O Pai Natal não lhe trouxe um banho quente nem uma roupa lavada, constata o repórter fotográfico Rui Marote, que documentou em primeiro lugar este caso de abandono social e o tornou público, e que agora registou o regresso deste homem, pária entre os seus.

Recorde-se que, conforme o FN referiu na nótula publicada a 19 de Dezembro, este sem-abrigo, pedinte há muitos anos, certamente repositório de alcoolismo e de outros males, exala um cheiro fétido que afasta as pessoas. Aliás, na génese do seu afastamento do seio familiar terá estado a peremptória recusa em tomar banho. O certo é que a sua condição de saúde sofre visivelmente, e a mental também não estará minimamente equilibrada. Um dos seus membros inferiores aparenta mesmo estar em situação de gangrena. Trata-se de uma situação e exigir uma imediata intervenção, tanto em termos de saúde pública como em matéria de mera compaixão pelo nosso semelhante.

O caso, denunciado pelo FN, espoletou reacções na sociedade civil. O advogado Adolfo Figueira Brazão, inclusive, entrou em contacto com o nosso jornal para dar conta de que já havia denunciado este assunto há três meses à Segurança Social (processo com  n.º de entrada 141511/2017 e ao Ministério Público (processo administrativo n.º 2235/17.8T9FNC, da Procuradoria do Juízo Local Criminal do Funchal), ambos iniciados em 14 de Setembro de 2017, conforme reportou.

O causídico observou que se considerava “espantado” por, três meses passados, este homem continuar “abandonado” e por “nada, que possamos constatar”, ter sido feito.

O Natal, visivelmente, não passou pelo “Zé”. Nesta quadra em que tantos de nós se multiplicam em libações a uma mesa farta, não faria mal as entidades competentes dedicarem alguma atenção a esta situação, no mínimo chocante.