Crónica Urbana: os 4 pecados que o padre Giselo não cometeu

 Rui Marote
Crucificar é um verbo transitivo que significa pregar na cruz  e no sentido (figurado), martirizar, atormentar, mortificar. Esta tem sido a manchete-folhetim ao longo da semana na imprensa regional e nacional. Ora, é muito bonito exigir aos padres que sejam coerentes com as suas opções, etc., mas será o padre Giselo a excepção, o único a desrespeitar os votos do celibato…?
Parece-nos que podemos afirmar que ao longo da história da Diocese da Madeira, centenas de padres cometeram o “Crime do padre Amaro” de Eça de Queiroz.
A Santa Sé tem vivido com este problema ao longo de séculos, não se modernizando e adiando, sabe-se lá até quando, a transformação para que os seus sacerdotes possam constituir família, como os pastores protestantes. Entretanto, os fiéis vão crucificando na praça publica os que cometem o delito de romper com o celibato.
Há diversos tipos de pecado, veniais e mortais. Os conceitos de pecado mortal e venial são essencialmente católicos. Cristãos evangélicos e protestantes podem não estar muito familiarizados com estes termos fortes. Pecado mortal é “pecado que causa morte espiritual”,e pecado venial é “pecado que pode ser perdoado”.
Estes conceitos apresentam uma visão não bíblica de como Deus vê o pecado. A Bíblia afirma que Deus será justo no dia do julgamento, quando certos pecados merecerão maior punição do que outros (Mateus 11:22,24).
E que tal, para variar, se em vez de nos concentrarmos no “pecado” que o padre Giselo cometeu, prestássemos antes atenção aos que não cometeu? Bom, para começar, não cometeu o pecado de Onan,um personagem da Bíblia. Filho de Judá, Onan teve, por morte do seu irmão mais velho, de casar com a viúva, uma mulher chamada Tamar, segundo a lei dos judeus. E as normas da época estabeleciam que se Onan tivesse um descendente com Tamar, não seria considerado seu filho, mas atribuído ao seu irmão, o que causaria uma deslocação de Onan na sucessão hereditária da sua família.

Para evitar a situação, Onan praticava o coito interrompido com Tamar, para que a mulher não engravidasse. Segundo diz a Bíblia, perante tais acções, Deus decidiu matar Onan. O seu nome, por extensão à prática, passou a ser associado à masturbação, uma vez que da mesma forma que o coito interrompido, considera-se que o sémen é desperdiçado ao não ser usado para procriar.

O onanismo tornou-se sinónimo de masturbação, algo tradicionalmente condenado pela Igreja Católica. Bem, está aqui um pecado que o padre Giselo aparentemente não cometeu.

Também não cometeu o pecado da sodomia, outro que sempre gerou especial aversão e que a Igreja nunca assumiu, apesar de se saber da existência de muitos sacerdotes que caem na tentação do acto sexual “contra-natura”, como o classificavam e classificam. Segundo a Bíblia, as cidade de Sodoma e Gomorra foram mesmo arrasadas por Deus porque os seus habitantes se dedicavam a tais práticas.

O padre Giselo parece não ter rompido também com o mandamento que diz: “Não cobiçarás a casa de teu próximo, não desejarás sua mulher, nem seu servo, nem sua serva, nem seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença a teu próximo (Ex 20,17), uma vez que a mãe da sua filha já não vivia com o ex-marido.

E por último, o padre Giselo não esteve envolvido em nenhum escândalos de pedofilia, prática que nas últimas décadas tem abalado seriamente a imagem da Igreja Católica ao nível internacional, com casos verdadeiramente chocantes de abuso a serem denunciados um pouco por todo o mundo.

 Vamos continuar a crucificar o Padre Giselo? por causa de uma lei da Igreja que há muito deveria ter sido alterada!

Para finalizar, nada melhor do que lembrar este versículo: “Deus abençoou-os e disse-lhes: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que andam pela terra”. Génesis, 1:28