O cenário de desintegração da União Europeia é uma possibilidade, defende o professor catedrático Lobo-Fernandes na Jaime Moniz

Jorge Moreira enalteceu a importância da conferência, tendo por orador o professor doutor Lobo-Fernandes, numa organização de João Lemos, da AICA, e Vanda Martins, da Coordenação das Atividades de Complemento e Enriquecimento Curricular.

O “cenário de desintegração europeia é uma possibilidade”, defendeu hoje, na Escola Secundária Jaime Moniz, o professor catedrático da Universidade do Minho, Luís Lobo-Fernandes.

A União Europeia enfrenta grandes desafios que foram hoje equacionados na Escola Secundária Jaime Moniz pelo professor doutor António Lobo-Fernandes, orador da conferência “Que diferença um ano faz! A Europa entre o Brexit e um novo arranque”.

Estudantes e professores partilharam dos conhecimentos do orador sobre União Europeia.

Promovida pela AICA-Associação de Investigação Científica do Atlântico, através do presidente João Lemos, em parceria com a Coordenação das Atividades de Complemento e Enriquecimento Cultural, através de Vanda Martins, esta conferência teve na plateia jovens estudantes dos cursos de ciências e de humanidades que testemunharam a visão do professor catedrático Lobo-Fernandes sobre os novos dilemas da UE. Segundo este professor da Universidade do Minho, “a Europa não está imune aos mesmos dilemas de outras regiões, até porque a política segue sempre o seu curso”. Na verdade, explicou, “constatamos uma rejeição das estruturas de poder devido à corrupção e fenómenos de injustiça social que penalizam fortemente a cidadania. Assistimos a uma Europa distraída com outras questões que por vezes não são os interesses fundamentais da cidadania”.

Este titular da Cátedra de  de Jean Monnet considera que as responsabilidades de liderança política não têm sido evidentes, não sendo de excluir um cenário de desintegração europeia. “É uma possibilidade”, o que para a Europa, a acontecer, “seria um colapso” com reflexos drásticos também para Portugal, desde logo em matéria de moeda única e não só.

Ausência de discurso estratégico

Para o professor Lobo-Fernandes, entre as várias debilidades dos governantes europeus, é visível uma “uma omissão grave: a ausência de um discurso geoestratégico europeu”. Consequentemente, surgem fenómenos preocupantes de violência como as formas de guerra não declaradas de que é exemplo mais preocupante os atentados terroristas, até porque “a fronteira da segurança é elástica e desterritorializada”. Isto é, alguém pode estar numa região e fazer explodir algo noutra região, com recurso à tecnologia.

Lobo-Fernandes deu particular realce a esta “ausência de discurso europeu estratégico”, no fundo, “um vazio de mais de 10 anos, sendo evidente que se deixou de falar de solidariedade no léxico europeu. “Ora, a Europa nasceu com visionários que deram grande enfoque a palavras como convergência e solidariedade, hoje praticamente banidas do léxico europeu”.

Falta de confiança

Além disso, afirmou o professor catedrático, há “falta de confiança nos méritos da própria integração e o sentimento padrão é o de uma certa ansiedade que marca este ciclo-padrão, acentuado pela crise financeira e económica dos Estados e dos problemas das dívidas soberanas, algumas vezes com laivos de hostilidade”. O  próprio contexto da austeridade, muitas das vezes também ditado pela União Europeia sobre os Estados Membros, qual juiz prepotente sobre estados históricos, foi outro aspeto que mereceu o reparo crítico do conferencista.

Uma palestra seguida com atenção por alunos e professores, atendendo à pertinência do tema e às posições frontais assumidas pelo professor Lobo-Fernandes, fruto de um estudo atento e aprofundado das questões da União Europeia.