Ministra deixa mais de cem mortos e sentimento de insegurança no País

ministra
A ministra revela que já tinha pedido para sair aquando da tragédia de Pedrógão.

Maria Constança Dias Urbano de Sousa, a ministra que está no foco de todas as atenções e que apresentou a demissão a António Costa, que entretanto já aceitou, desempenhava o cargo de ministra da Administração Interna desde 26 de novembro de 2015, sendo este ano de 2017 aquele mais corrosivo do seus período de governação. Dois grandes momentos de incêndios em Portugal, que no total resultaram em mais de cem mortos e uma descoordenação visível de todos os meios de socorro sob a sua jurisdicação.

Constança Urbano de Sousa, de 50 anos de idade, vinha sofrendo uma grande pressão para abandonar o cargo, sobretudo depois do primeiro grande momento trágico, em Pedrógão Grande, cujo relatório, entregue três das antes deste segundo momento trágico dos fogos na zona de Coimbra, com 42 mortos, que reforçaram a falta de condições para se manter no cargo. Sabe-se agora que, na carta de demissão, a ministra revela que já tinha colocado o lugar à disposição do primeiro-ministro aquando dos acontecimentos em Pedrógão, mas António Costa não tinha aceite.

A ministra, formada em Direito pela Universidade de Coimbra e com doutoramento em Direito Europeu pela Universidade de Sarre, na Alemanha, desempenhou o cargo sem quaisquer condições nos últimos meses, sendo alvo das maiores críticas por parte de vários quadrantes políticos e públicos, mantendo-se sempre uma posição de que não se demitiria apesar dos resultados desastrosos da sua área de intervenção e uma imagem da qual nunca conseguiu se demarcar, de que este Governo não conseguiu assegurar a defesa dos seus cidadãos, como manda a Constituição.

Professora universitária na Universidade Autónoma de Lisboa e no Instituto Superior de Ciências Políticas e Segurança Interna, Constança Urbano de Sousa teve, como último grande “ataque” o discurso do Presidente da República, duríssimo para com este Governo de António Costa, mas que foi ao encontro daquilo que era o pulsar do sentir dos cidadãos, no sentido de se proceder a alguma mudança- As palavras de Marcelo contrastaram com a apatia revelada por António Costa, que manifestou a sua impotência para garantir a defesa futura dos cidadãos.

Na carta de demissão, a ministra não deixa margem de manobra a Costa, mesmo que este a quisesse manter. Constança diz que ao primeiro ministro que “tem que aceitar” o pedido de demissão até para “preservar a minha dignidade”. Com isto, abriu as portas da saída sem reserva.

Recorde-se que Marcelo Rebelo de Sousa revelou, em declaração ao País, que era preciso mudar, intervir, com claro “recado” ao Governo para que entendesse o que se estava a passar. Disse mesmo que o Parlamento tinha que clarificar a posição deste governo e que aqueles mais de cem mortos “pesavam na consciência”, sublinhando o facto dos portugueses terem ficado fragilizados com a falta de segurança que sentiram das entidades públicas.

O relatório sobre Pedrógão, verdadeiramente demolidor para a ministra, pela falha dos serviços sob sua tutela, acabou por ser, também, decisivo para este desfecho, que se revelava inevitável, inclusive para a sobrevivência do próprio governo. A interferência do poder político nas decisões técnicas, a falha de comunicação do sistema SIRESP, que voltou a revelar insuficiências nestes incêndios de outubro, davam conta de uma realidade que exigia intervenção rápida e mudança adequada. Relatos de falta de meios e populações à sua sorte, deixaram o País com um sentimento de insegurança, que Marcelo soube interpretar bem, melhor do que o governo.