“PSD desviou-se da linha tradicional inspirada em Sá Carneiro, é preciso fazer o reencontro com as raízes”

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Guilherme Silva, na imagem com Passos Coelho, diz que o PSD nacional “desviou-se da linha tradicional do pensamento de Sá Carneiro”.

Guilherme Silva é um social democrata de longa data e a experiência faculta-lhe uma posição privilegiada para avaliar, com algum distanciamento, o momento difícil do PSD nacional, com as fragilidades que o resultado autárquico e o consequente anúncio de não recandidatura de Passos Coelho, o atual líder, provocaram no partido em busca de um novo ciclo.

“Homem chave” do ciclo de Jardim, com uma entrada direta no relacionamento com os orgãos nacionais, onde ganhou prestígio junto das instituições, quer partidárias, quer do Estado, o antigo deputado à Assembleia da República, onde também foi vice-presidente, lembra que “ao longo da sua existência, o PSD sempre demonstrou uma capacidade de ressurgimento, que não deixará uma vez mais de evidenciar nesta conjuntura difícil que está a atravessar. Os resultados das autárquicas foram realmente maus e era inevitável uma mudança de direção de orgãos do partido. E a verdade é que já se sente, com existência, para já, de pré-anúncio de duas candidaturas, que o partido está com vitalidade que consegue encontrar nestas situações”.

Alternativa à realidade do governo atual

Guilherme Silva aponta como prioridade, para estas eleições no PSD, já marcadas para 13 de janeiro, com o congresso em fevereiro, a saída de uma solução que dê resposta ao País, que seja “alternativa a esta realidade de governo atual. E estão criadas condições para isso”.

O social democrata coloca em cima da mesa as razões que levaram a liderança de Passos Coelho até esta situação, que hoje transporta a estrutura laranja nacional para patamares baixos de popularidade, expressos nos números que as eleições autárquicas ofereceram. Diz que “o PSD desviou-se da sua linha tradicional social democrata inspirada no pensamento de Sá Carneiro, para uma via liberal. Dado que o PS, que se reclama em social democracia e socialismo democrático, se encostou demasiado à esquerda, há um espaço vazio, que o Partido Social Democrata pode e deve ocupar, um espaço que o diferencia do atual Partido Socialista e que lhe permite apresentar alternativas para a vida social e económica, num sentido de respeito e de estímulo à iniciativa privada, sem prejuízo do papel que compete ao Estado. Esse reencontro com as suas raízes vai permitir, ao PSD, encontrar o caminho que o poderá levar à governação, tanto mais que todos os sinais indiciam que esta atual solução de governo é transitória”.

Há um ciclo depois das crises

Guilherme Silva reconhece, no entanto, que o crescimento económico, que normalmente “constitui um ciclo depois das crises, que o atual governo tem aproveitado”, provoca uma realidade em que “as pessoas ficam com a idéia que alguém, que é o atual governo, lhes colocou mais algum dinheiro no bolso, esquecendo-se que quem fez o trabalho que agora permite algum desafogo foi o governo anterior. Mas isto é a lei da vida e não vale a pena irmos pela especulação”.

Deixa uma palavra de esperança a todo o universo social-democrata para assegurar, porque os anos de vivência partidária dizem-lhe isso mesmo, que “o PSD será capaz de ultrapassar este período difícil da sua história”.

Santana e Rio “são valores de referência do PSD”

Santana Lopes já disse que ia ser candidato, ainda que remeta o anúncio formal para a próxima semana. Rui Rio anuncia hoje, oficialmente, em Aveiro, a sua candidatura. Para Guilherme Silva, são dois ativos importantes do PSD e, como seria de esperar, não faz referências que possam resultar numa eventual opção por um deles. Qualquer um deles, lembra, “tem um percurso de vida pública e política, são valores de referência no Partido Social Democrata. Ambos estão bem na veste de candidatos a líderes do partido e ao cargo de primeiro-ministro. Uns tiveram já algumas oportunidades, outros terão agora as suas oportunidades, que pela novidade poderão dar um clima de esperança, pela leitura diferente. Não podemos dizer que o PSD ficaria menos bem servido com qualquer um dos envolvidos nesta disputa eleitoral”.