Derrota do PSD

 

Analisar, sobre a hora, os resultados das eleições autárquicas na RAM é um risco, mas também um desafio interessante. Eventuais falhas poderão vir a ser corrigidas, caso se justifique.

Foram eleições muito disputadas, com muitas candidaturas partidárias, algumas de grupos de cidadãos, encabeçadas, na Ribeira Brava e Santana, por dissidentes do PSD, e muitos candidatos. Esta dinâmica gerou maior afluência às urnas do que no sufrágio de 2013.

Verifica-se que as recandidaturas foram bem-sucedidas, o que vem confirmar aquele princípio de que, raramente, perde quem detém o poder e apresenta trabalho positivo, reconhecido pela população. Foi o caso da Calheta e Câmara de Lobos (PSD), Funchal (“Confiança”), Ribeira Brava (“Ribeira Brava Primeiro”), Santa Cruz (JPP), Santana (CDS), São Vicente (“Movimento Unidos por São Vicente”), Machico e Porto Moniz (PS).

No caso do Porto Santo, a recandidatura do candidato socialista não teve êxito, mas isso deve-se, por certo, ao mandato atribulado de Filipe Menezes e, em especial, aos frequentes conflitos com a Assembleia Municipal. A experiência autárquica, a afabilidade e a serenidade de Idalino Vasconcelos contribuíram para a sua vitória, embora sem maioria absoluta.

As opções do PSD, quanto à recuperação do poder autárquico e da presidência da Associação de Municípios da RAM, falharam quase na totalidade. Assim aconteceu no Funchal, Machico, Ponta do Sol, Porto Moniz, Ribeira Brava, Santa Cruz e Santana. Esta situação deverá levar o PSD a retirar as devidas ilações quanto à escolha dos cabeças de listas e demais candidatos, pois não basta apresentar caras novas ou figuras com notoriedade, mas, sobretudo, exige-se trabalho reconhecido e ligações profundas com o meio, não desprezando também quem anteriormente desempenhou funções autárquicas com satisfação dos munícipes. O concelho da Ribeira Brava é, neste âmbito, um caso paradigmático.

Por outro lado, mesmo sendo estas eleições autárquicas, o PSD deverá reflectir sobre a sua acção enquanto poder regional e, em particular, acerca do seu relacionamento com os madeirenses e porto-santenses, pois a sociedade actual está mais informada, dispõe das redes sociais e dificilmente voltará a aceitar o caciquismo, ameaças ou deixar-se seduzir por velhos argumentos, como aquele, por demais ridículo, de que, no seu seio, estão os “competentes” e, do outro lado, os “incompetentes”.

O PS perdeu a Câmara Municipal do Porto Santo e ganhou, sem maioria absoluta, a da Ponta do Sol. Neste município, ocorreu um caso inédito da história da nossa democracia, porquanto Célia Pessegueiro é a primeira mulher madeirense a ser eleita para presidente de uma câmara da Região. Apesar desta vitória singular e da manutenção de três câmaras socialistas e de uma ganha por uma coligação, que inclui o PS, os objectivos, delineados pelo líder do PS para estas eleições autárquicas, não vieram a ser plenamente alcançados, como, por exemplo, o fraco resultado em Santa Cruz.

Já o CDS alcançou melhores resultados do que em 2013, não em número de votos, mas aumentando o seu número de autarcas e passando a governar novas juntas de freguesia.

Para a CDU, o resultado é mau, perdendo o seu vereador na Câmara do Funchal, o que era previsível.

O município do Funchal, com quase metade dos eleitores da RAM requer atenção especial. A Coligação “Confiança” ganhou cinco freguesias (Imaculado Coração de Maria, Santa Maria Maior, São Gonçalo, São Martinho e São Pedro) e o PSD as restantes (Monte, Santa Luzia, Santo António, São Roque e Sé).

O triunfo da “Confiança” deve-se, sobretudo, à popularidade de Paulo Cafôfo e, na minha opinião, não constitui uma vitória do PS, como afirmou, de forma oportunista, o líder do PS no balanço dos resultados eleitorais. Resta saber se a “Confiança” obteve maioria absoluta.