Crónica de viagens: Baku abre os braços para receber o mundo

No Boulevard, em Baku, uma construção inspirada na Opera de Sidney, que incluirá um novo centro comercial

 

A parte mais aborrecida de se organizar uma viagem para um qualquer sítio é o visto, para os lugares onde isso é exigido. E, no caso do Azerbaijão, a situação não podia ser senão assim.


Existem duas alternativas para se obter um visto turístico: através de embaixadas, ou o visto electrónico. As agências de viagem fazem um bicho de sete cabeças caso deseje viajar para este lugar, dado que o Azerbeijão não tem representação diplomática em Portugal e os preços de um visto variam de uma agência para outra.

À beira do mar Cáspio num final de tarde

Chegam a pedir 100 euros por um visto, sendo necessário uma carta de recomendação de alguém que naquele país se “responsabilize”. Esse entrave tem levado ano após ano a adiar esta viagem há muito planeada. Descobri, através de um site brasileiro na Internet, que era possível o visto electrónico.

Uma das portas da cidade velha

Segui as dicas e optei por este: entrei directamente em contacto com agências de turismo locais autorizadas, e resolvi tudo por email. Quando pesquisei sobre os vistos, o Azerbaijão autorizava 31 agências de viagem a emitirem o visto electrónico, mas hoje já existem 37 agências na lista oficial.

Estátua do poeta medieval Nizami

Na lista antiga, só encontrei três agências que possuíam, um site, em Inglês, e que não exigiam a reserva de um hotel com eles para poder o visto. Das três, conversei com duas. A Billurtur, com um inglês bom, respondeu rápido e cobrou-me 45 euros. O modo de pagamento foi o depósito bancário ou Western Union. Em seis dias, o visto chegou ao meu email. Foi só imprimir e aguardar a data para viajar.

a mesquita Taza pii  Mascidi

A maneira mais fácil de lá chegar é viajar para Tbilisi, Georgia e daqui para Baku: uma ida 360 euros, uma vez que nunca faço ida e volta, em virtude de efectuar outros  raids” por países vizinhos. O que eu denomino dois em um, ou em três ou em quatro. No aproveitar é que está o ganho.

Edificio do Governo na cidade velha

O Azerbaijão é uma república dissidente da antiga URSS, e tem 26 anos de independência. A sua capital é Baku, a sua população aproximada é de 9,5 milhões de pessoas, que falam a língua Azeri. A força do país está na extracção de petróleo, uma das mais antigas do mundo, e na agricultura.

A cidade velha, muralhada

Cheguei a Baku de noite. É uma cidade que radiante de luz. Fiquei maravilhado: apetecia-me parar o meu transfer a todo o momento e captar estas imagens de encher o olho. Mas pensei que haveriam outras noites para o meu dedo carregar no “gatilho”.

O modernismo das Flame Towers

Os característicos táxis de Londres… no Azerbeijão

Ao chegar ao aeroporto em Baku, fui surpreendido pela enorme frota de táxis tipicamente londrinos. Nem queria acreditar que estava na Euroásia… Interrogava-me a respeito. Tinha de haver um motivo para isto… E a minha curiosidade tinha de ser satisfeita. Acabei por apurar que em 2013, quando o Azerbeijão realizou o Festival da Eurovisão, depois de o ter ganho no ano anterior em Dusseldorf, Alemanha, o presidente do país comprou nada menos de mil táxis londrinos, os mesmos que ainda hoje circulam na cidade. Tudo faz o dinheiro dos combustíveis… um autêntico cartaz turístico a mais de seis mil quilómetros de distância da capital britânica.

A minha casa, durante os cinco dias em que aqui permaneço é a chamada cidade murada de Baku, a parte histórica, que muitos acreditam que tenha sido construída no seculo XII e onde alguns sustentam que existam construções desde o século VII.

As passagens subterrâneas dão-se ao luxo de ter passadeiras rolantes

Devido aos recentes trabalhos de restauro e à limpeza impecável, fica complicado distinguir o que era realmente do século XII do que foi recentemente reconstruído.  A cidade murada de Baku é de facto o ponto mais turístico do Azerbaijão, mas o Azerbaijão em si nao é exactamente um destino muito turístico.  Imaginem como era a vida para aqueles lados na época do comércio da Rota da Seda.

Limpeza e asseio impecáveis, chão em mármore

Na parte historica de Baku, a diversão é o passeio em si pelas ruazinhas em labirinto, que garantiram à cidade murada o titulo de Património da Humanidade pela Unesco. As atracções da parte histórica de Baku são o Palácio de Shirvanshah e a Torre das Virgens.

O Palácio de Shirvanshah, hoje museu

O Palacio de Shirvanshah é um complexo medieval do seculo XII, construído, como o nome sugere, pelo Shirvanshah, um tipo de “rei” islâmico de origem persa (Shirvan – uma região do Cáucaso onde hoje temos o Azerbaijão; e Shah – ou xá em português – título dado aos monarcas da Pérsia).

Vistas de edifícios governamentais e comerciais, à noite

A Torre das Virgens, por sua vez, é um daqueles mistérios que ninguém sabe quando  foi construída, porque o foi e para quê; são só lendas e hipóteses. Uns dizem que era um templo do Zoroastrianismo, outros acreditam que era uma fortificação usada para defesa e também existem aqueles que defendem que a torre era um observatório.

A “Torre das Virgens”

O nome “Torre das Virgens” também está cercado de mistérios, lendas e possibilidades; a história mais divulgada é a de que uma virgem se atirou do alto dessa torre e morreu no mar, com variações sobre o tema, como por exemplo, que a tal virgem era a irmã do rei.

Gobustan, parque rupestre

Hoje a torre é um museu muito bem estruturado, com muitas escadas para subir, que conta a evolução da história de Baku e ilustra as lendas e hipóteses da Torre. Como tudo no Azerbaijão, não encontrei muitas explicações em inglês, mas para mim, o melhor da visita é chegar ao topo da torre e tirar muitas fotos de Baku.

Já mencionei no inicio da crónica que o Azerbaijão possui um subsolo muito rico em gás e isso acaba moldando não só a paisagem azeri, com os vulcões de lama e a chama eterna de Yanar Dag, mas também a cultura, pois uma “chama eterna natural” acaba por dar lugar a superstiçoes e até serviu como fundamento para o Zoroastrianismo, que usa a metáfora do fogo para a sabedoria e a luz divina.

A mesquita Bib-Haybat

O templo de Ateshgah é uma estrutura religiosa, construída por volta dos séculos XVII-XVIII e foi abandonado no final do século XIX quando começou a exploração de óleo na região.

Templo do fogo Ateshgah

O templo é formado por um pátio enorme, com um altar no meio, cercado de pequenas salinhas para os monges e para os fiéis. Nos seus tempos áureos, o altar possuía, além da chama central, mais quatro que ardiam ininterruptamente no tecto, mas com a exploração do óleo, o gás que existia ali e alimentava o fogo acabou.

Templo do fogo, vendo-se na parte superior uma casa de hóspedes onde pernoitaram Alexandre Dumas e o único prémio Nobel do Azerbeijão, Lev Landau

Hoje o fogo central é alimentado artificialmente e os outros são acesos só em eventos especiais e Ateshgah passou por um bom restauro e foi transformado em museu.

O último suporte de gás em funcionamento em Yanardag

Quando eu estava a ler sobre o Azerbaijão, deparei-me com um fenómeno muito parecido a 25km de Baku: no meio do nada, o subsolo rico em gás natural e fogo queimando. Como não visitar um tal lugar?

A diferença da porta do inferno turcomena, é que ninguém sabe nem como, nem quando e nem por que Yanar Dag começou a queimar. Diz a lenda que foi um pastor de ovelhas que viu pela primeira vez, nos anos 1950, as chamas de Yanar Dag, mas registos históricos mencionam que Marco Polo, na sua viagem a Baku no seculo XIII, já havia observado essas chamas.

Centro cultural Heydar Allyev

Yanar Dag é uma colina com uns 10 metros de extensão e é um lugar muito interessante, mas só quando olhamos além do fogo e vemos a força da natureza em forma de gás que queima desde sempre, que não tem previsão de acabar e nunca se apaga, faça chuva ou faça sol. Deve ser impressionante ver o lugar de noite, e com a neve.

O subsolo do Azerbaijão é muito rico em gás, tanto que as principais atracções turísticas dos arredores de Baku têm todas alguma coisa a ver com gás: Ateshgah, ou o templo de fogo com a chama eterna por causa do gás natural do subsolo; Yanar Dag, ou a montanha de fogo, que também queima por causa do gás…

Vistas gerais da cidade: o Baku Cristal Hall, que acolheu a Eurovisão em 2012

Quando lá cheguei, vi vários vulcoezinhos em erupção. Não sei porquê, mas esperava menos vulcõees, mas maiores. No lugar aonde fomos havia uns 20 pequenos vulcões, com crateras de 10cm a 20cm, que borbulhavam mais ou menos intensamente.

Se vale a pena visitar os vulcoes de lama? É um fenómeno natural incrível, muito diferente do que estou acostumado a ver. Gostei de os ter visitado.

Uma metrópole que mistura aspectos tradicionais com outros de grande modernidade

O novo cartao postal de Baku é um centro cultural que tem o nome do ex-presidente do Azerbaijão, Heydar Aliev (na realidade, quase tudo no Azerbaijão tem o nome do ex-presidente). Eu queria conhecê-lo por causa de sua arquitectura futurista projectada por Zaha Hadid. A vontade só aumentou quando vi a aquela estrutura fluida e branca, da janela do táxi, quando estava a chegar a Baku.

Monumento aos mártires, com chama sempre acesa

Chegou a noite e não havia melhor lugar em Baku do que o Boulevard, para ver e fotografar as luzes. À minha frente, as Flame Towers. Jamais esquecerei um fim de ano antecipado.
Com um calçadão na beira do mar Cáspio, que tem a pretensão de ser o maior do mundo, com 26 km de extensão.

Avenida dos Mártires
Museu que mostra os tapetes e as diferentes formas de os tecer

Os característicos táxis de Londres… no Azerbeijão

Ao chegar ao aeroporto em Baku, fui surpreendido pela enorme frota de táxis tipicamente londrinos. Nem queria acreditar que estava na Euroásia… Interrogava-me a respeito. Tinha de haver um motivo para isto… E a minha curiosidade tinha de ser satisfeita. Acabei por apurar que em 2013, quando o Azerbeijão realizou o Festival da Eurovisão, depois de o ter ganho no ano anterior em Dusseldorf, Alemanha, o presidente do país comprou nada menos de mil táxis londrinos, os mesmos que ainda hoje circulam na cidade. Tudo faz o dinheiro dos combustíveis… um autêntico cartaz turístico a mais de seis mil quilómetros de distância da capital britânica.