Saúde, Monte, Mobilidade, Savoy e muito mais a 1 de outubro

Há eleições que, pelo seu contexto, representam muito mais do que aquilo que está em jogo propriamente dito. Por variadíssimas razões, algumas das quais têm a ver com a forma como as pessoas veem a política, hoje, num misto de descrença/protesto que veio alterar, e de que maneira, a gestão tranquila e tantas vezes inconsciente do bem público, bem como da avaliação do cidadão eleitor como se este fosse um mero peão de manobras político partidárias com maior ênfase por alturas das eleições. E às vezes o povo colocava-se mesmo em posição para isso. E hoje, ainda se faz alguma política nesse registo, erradamente, porque há políticos que ainda não entenderam a mudança e utilizam a mesma receita para outra realidade. Claro que vai dar para o torto. Como já deu. Para o torto para eles, para a população poderá ser para o direito.

As próximas eleições autárquicas, está bem de ver, visam a eleição dos órgãos locais, muito circunscritos à terra, com a pessoa a se sobrepor um pouco aos partidos, pelo que, para já, interessa a muita gente ficar por aqui esse entendimento. Diz quem está atento à mossa que estas eleições podem fazer, que não devemos extrapolar resultados para outros patamares, como sejam as governações regional e nacional, apesar de se saber muito bem que é isso que vai acontecer, quer queiram quer não. E alguns dos candidatos, sem culpa nenhuma, vão apanhar por tabela, e uma tabela cuja dimensão ainda se desconhece, em função daquela que tem sido a atuação governativa na Região e no País, nomeadamente com dossiers complexos que se têm arrastado e que constituem motivo de insatisfação por parte dos eleitores, sendo que a abstenção vai depender do nível de protesto que a população vai querer transmitir.

Neste enquadramento, o entendimento que se pode fazer da consulta popular de 1 de outubro, ainda distante das legislativas regionais, em 2919, é que vai sobrar para todos aqueles que pensam estar a salvo. Todos os problemas que têm sido levantados nos últimos tempos, a dificuldade que o Governo Regional tem sentido em resolver determinados “pacotes”, nem sempre gerindo da melhor forma e com uns secretários mais fracos do que outros, bem como as ocorrências verificadas localmente, com intervenção direta das câmaras municipais, serão alvo de escrutínio pela população, umas vezes penalizando o próprio presidente da autarquia, se se tratar de um problema ao qual esteve ligado, ou penalizando o candidato social democrata, se o problema estiver relacionado com o Governo, que como se sabe é do PSD, sendo que, hoje por hoje, alguns candidatos estão conscientes que o desgaste verificado com a governação regional, ir nas listas do partido do Governo pode não ser uma mais valia.

Na Câmara do Funchal, para onde se centram todas as atenções e onde a aposta é grande por parte de das forças intervenientes, digamos que é uma “bandeira” apetecível para segurar quem vai ganhar, a situação é particularmente interessante. O quadro político representa, hoje, uma alteração substancial relativamente ao que acontecia há seis meses, onde Paulo Cafôfo tinha a reeleição praticamente garantida, não sendo “favas contadas” como diz o povo, mas para lá caminhava. Claro que a tragédia do Monte, pela forma como foi gerida, tanto no tempo de intervenção, tardio, tal como aconteceu com o Governo, como no contéudo dessa mesma intervenção com o jogo de palavras entre o plátano e o carvalho, acelerou um pouco esta aparente descida de popularidade, que quer queira quer não pode resultar, não na derrota, porque parece reunir ainda um capital adquirido, mas numa vitória que o obrigue a negociar, sendo aqui que provavelmente Rui Barreto pode estar a jogar para o chamado “fiel da balança”.

Cafôfo está certamente consciente disso, embora tenha a seu favor, também, o facto de Rubina Leal não ser propriamente uma candidata fora do alvo de críticas. Se o eleitorado aponta o dedo a Cafôfo também o faz em relação a Rubina Leal, por razões diferentes. A candidata representa o PSD e este governo. Logo, é a primeira a sentir se houver voto de protesto. Resta saber se conseguirá sobrepor a sua imagem e popularidade ao desgaste que o partido tem sofrido com certos “dossiers”. Neste caso, Rubina Leal pode valer mais do que o partido. É o que lhe pode valer.

Falámos do Monte, porque é o mais recente e o mais trágico, mas podemos falar de outras questões que nos últimos tempos originaram sérios problemas a Governo e Câmara do Funchal, cada um no âmbito das suas competências. O Savoy é um deles, com a culpa a ser empurrada de uns para outros sem que se consiga isentar de responsabilidades o antes e o depois. As esplanadas também. As ribeiras e o que está lá bem à vista, depois de termos ouvido falar que o ciclo do betão tinha ido com Jardim, representam uma realidade para este governo gerir, sem que possamos aferir até que ponto é um ónus para a governação. Tem sido uma “pedra no sapato”, no mínimo, além da muita pedra que foi partida; Temos a Saúde, onde os responsáveis nem têm tempo de “respirar” tantas as situações para resolver, desde aumento das listas de espera de consultas e cirurgias até à inoperacionalidade de equipamentos, além de outros; Depois, temos o subsídio de mobilidade, que não terá sido negociado da melhor forma e que tem sido, também, alvo de empurrões sucessivos, da Região para a República e da República para a Região. O “ferry”, que parece finalmente avançar, mas que andou vai não vai durante muito tempo e que, ao que tudo indica pelas notícias que o Governo faz sair nos jornais, será aproveitado, no caderno de encargos, para resolver um dos problemas do Porto Santo.

Como vemos, um pacote nada “meigo” de gerir. Tanto para a Câmara do Funchal como para o Governo. Agora, até que ponto tudo isso vai pesar no momento do voto, só mesmo no dia 1 de outubro.

Para já, fica o que se ouve. E o que se ouve, não é bom.