Crónica Urbana: Deus, onde estavas naquele dia?

Rui Marote
Para quem é, como eu, cristão, custa bastante quando vemos reproduzir à exaustão nas primeiras páginas dos jornais e canais de televisão o caso de uma árvore assassina que matou 13 pessoas e levou às camas do hospital 52, dos quais ainda permanecem 7 em estado crítico. É impossível não ficar compungido perante a dor das pessoas
E por isso não posso deixar de me interrogar perante Deus, perguntando-lhe onde estava naquele momento em que a queda do carvalho se abateu no Largo da Fonte, no Monte, sobre pessoas que lá se encontravam para agradecer a cura de um filho, de um irmão ou até a ocorrência de um pequeno milagre nas suas vidas. “Por que não intervieste,se podias fazê-lo?”, pergunto-me.
Mas não conseguimos entender os desígnios d’Aquele que se revelou como Pai da infinita bondade. Ele pode ser Pai de uma forma misteriosa que não conseguimos compreender. Bem dizem as Escrituras:”Ele é grande demais para que o possamos conhecer”(Job 36,26)
Não pretendemos ser juízes de Deus, mas em circunstâncias destas, todo o crente se interroga e eventualmente até põe em causa a sua fé. Até Jesus, no Jardim das Oliveiras, lamentou: Meu Deus, por que me abandonaste?
Os nossos lamentos e meditações  não são blasfémias, mas um grito humilde e insistente a Deus para que desperte e não se esqueça da dor daqueles que sofrem, como um dia Cristo sofreu.
Nestes últimos dias tenho falado com pessoas que estavam na Fé e que hoje estão revoltadas com Deus. Perguntam-me onde estava Deus naquela hora. Como pôde tolerar a morte de treze seres humanos, este triunfo do mal? Vem-nos à mente o Salmo 44, que diz: “Atiraste-nos para a região dos chacais e envolveste-nos na mortalha das trevas. Por tua causa somos trucidados todos os dias, tratam-nos como ovelhas de matadouro. Desperta, Senhor! Porque dormes? Acorda”.
Não temos respostas. Resta-nos a esperança por aquele dia em que “Deus enxugará as lágrimas dos nossos olhos e a morte não existirá nem haverá luto nem pranto, nem fadiga, porque tudo isso já passou”(Apocalipse 21,4)
E então nunca mais haverá queda de árvores, nem de pedras nem outros fenómenos da natureza, porque surgirá uma nova Terra, onde o ser humano terá aprendido a cuidar da natureza e esta nunca mais se rebelará contra ele.