Candidato do PS diz que Câmara de Lobos “é um concelho esquecido” e está com “os piores indicadores de desenvolvimento económico”

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O candidato socialista Amândio Silva não percebe “como é que um concelho com baixo poder de compra tem a maior fiscalidade a incidir sobre as pessoas e as empresas”. Foto Rui Marote

Amândio Silva, candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal de Câmara de Lobos, está consciente que vai enfrentar o desafio “num concelho complexo do ponto de vista eleitoral para o PS”. Isso não o impede, no entanto, de enfrentar as dificuldades com o suporte de toda a experiência adquirida enquanto vereador e com algum “incentivo” dado pelos últimos resultados do PSD, em eleições autárquicas, que deixam, podemos dizer, uma porta entreaberta de esperança à oposição. Conhece os cantos do município, sabe dos problemas e é sem vacilar que aponta o dedo ao poder regional e ao poder local: “Câmara de Lobos é um concelho esquecido”.

Elenca vários problemas e começa pela habitação social, que considera grave: “Trata-se de uma carência visível, é verdade que grande parte do investimento aqui feito nessa área é da Investimentos Habitacionais da Madeira, mas a realidade é que os maiores problemas habitacionais da Região estão em Câmara de Lobos. Veja-se o complexo Bairro da Torre, que há muito tempo foi indicado para obras de recuperação, mas não passou disso, fundamentalmente devido ao Plano de Ajustamento Económico e Financeiro e ao facto do Governo Regional ter abdicado de verbas do IHRU (Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana), prejudicando acima de tudo aquele bairro”.

Há 69 novos casos de necessidades habitacionais

Lembra que a Câmara Municipal alocou cerca de 500 mil euros para recuperar casas degradadas, “de pessoas que não têm qualquer possibilidade de desenvolver obras com os seus recursos financeiros, ou fazem obras ou comem”, mas dos 33 casos “só fez intervenção em 25 e desde 2013 que não fez rigorosamente nada a esse nível. Com os registos atuais a apresentarem 69 novos casos de pessoas com carências habitacionais e com habitação degradada. Algumas casas nem casa de banho têm”.

Sem estratégia para atrair investimento

Do ponto de vista da Economia, outro setor considerado determinante na perspetiva da candidatura socialista, Amândio Silva afirma não entender nem aceitar as razões que levam Câmara de Lobos a não criar uma estratégia para atrair investimento e criar postos de trabalho. “Um concelho que está identificado, através de estudos, como tendo dificuldades de desenvolvimento económico, figurando em 35º no todo nacional, não encontrou ainda soluções que invertam a situação. Mais, não se percebe, também, como é que um concelho com baixo poder de compra tem a maior fiscalidade a incidir sobre as pessoas e as empresas, em sede de IRS e IMI”.

Há pessoas saturadas da política e dos políticos

O candidato socialista diz haver, por tudo o que retrata, “uma complexidade muito grande em Câmara de Lobos”. Nas medidas e na implantação do próprio PS. Isto porque os eleitores ainda veem o PS como “um partido pouco credível, o que não corresponde minimamente à realidade”. O também vereador contraria essa imagem com a postura que tem vindo a desempenhar em defesa das populações, com “medidas significativas na área da fiscalidade, da economia, dos mercados, que foram alvo de chumbo por parte do PSD e que, a serem aprovadas, iriam ao encontro daquilo que são as necessidades das pessoas”.

Políticas aquém das expetativas

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“É importante ter a noção que o atual executivo camarário teve políticas aquém das expetativas”. Foto Rui Marote

Aceitar o posicionamento do eleitorado é regra democrática. Lembra, no entanto, que “nas últimas autárquicas, o PSD ganhou com o seu pior resultado no concelho”. Afirma que “há pessoas saturadas da política e dos políticos, que passaram a ser abstencionistas, além da emigração que influenciou muito na participação eleitoral. É importante ter a noção que o atual executivo camarário teve políticas aquém das expetativas. As pessoas viveram com grandes dificuldades económicas e a Câmara, em vez de agilizar algumas receitas e ajudar as pessoas, as famílias e as empresas, não fez nada disso”.

Amândio Silva compreende que em momentos de crescimento devem ser os privados a fazer os investimentos. Mas em momentos de maiores dificuldades, deve ser a Câmara a adotar políticas que possam fazer crescer o concelho para torná-lo atrativo aos potenciais investidores, criando simultaneamente uma coesão social com todos e para todos”.

PS mostra “equipa nova”

A estratégia socialista para o concelho passa por mostrar “uma equipa nova, uma outra roupagem com novos candidatos, muitos nunca tiveram qualquer filiação partidária, mas que estão disponíveis para dar credibilidade ao projeto, têm conhecimento do que é o concelho, necessidades e potencialidades, constituindo mesmo um valor acrescentado que pode ser muito útil a Câmara de Lobos. Vamos passar a mensagem de modo a conseguirmos que o eleitorado entenda a necessidade de mudar”.

31% da população vive em veredas e becos

O PS quer “marcar pela positiva a próxima campanha eleitoral para as autárquicas”, reforçando a ideia que “o atual presidente da Câmara vem vangloriar-se de um conjunto de investimentos que foram feitos ao abrigo da Lei de Meios, nem sequer foi da Câmara. Além disso, duas ou três grandes obras, ao abrigo do PRODERAM, não constituem mérito da atual liderança autárquica, apenas transitaram do III Quadro Comunitário e passaram para o IV. Atualmente , temos quatro concursos em aberto que são recentes, que sofreram algum atraso em virtude de haver muita burocracia à volta dos processos. E aqui há uma grande responsabilidade do Governo Regional, que não trabalhou a tempo, prejudicando um conjunto de investimentos que são necessários e exigíveis no domínio agrícola. Como curiosidade, lembro que, das pessoas residentes em Câmara de Lobos, 31 por cento vive em veredas, becos ou impasses. São pessoas que levam tudo o que precisam a pé para casa. É preciso intervir claramente para minimizar estes impactos negativos para aquelas pessoas”.

Cada turista fica 25 minutos em Câmara de Lobos

O candidato aponta várias direções pelas quais o concelho de Câmara de Lobos deve assentar a sua política de desenvolvimento. “Uma delas visa fixar turistas no concelho, havendo estudos que comprovam essa dificuldade. Em média, um turista fica entre 20 a 25 minutos, pelo que sempre considerámos a necessidade de fazer investimento hoteleiro, entre outras medidas que alterem essa situação. Temos provavelmente a baía mais vista da Madeira, temos condições singulares e paisagens únicas, como o Cabo Girão, Curral das Freiras, só para apontar alguns exemplos. Temos que aproveitar essas mais valias”.

Aposta na coesão social

A coesão social é outro assunto que o PS assume como “preponderante”. O desemprego, lembra, “atingiu grandes proporções, sobretudo entre os mais jovens, “que não têm qualquer perspetiva de futuro. E compete, também à Câmara, encontrar formas de apoio tendo precisamente em vista criar novos postos de trabalho, sempre no âmbito de atribuições que são da responsabilidades da gestão autárquica. Também é importante encontrar mecanismos que visem a redução de taxas e diferenciação de zonas de construção, na Quinta Grande, no Jardim da Serra e no Curral das Freiras, procurando inverter a tendência de êxodo que se tem verificado nos últimos anos”.

Fajã das Galinhas com mais IMI e sem melhores acessos

Amândio Silva aponta o IMI como uma forma de ir ao encontro das necessidades de ajudar as pessoas, jovens e não só. Acusa o atual elenco camarário de ter adotado uma política de IMI que “veio claramente piorar a vida da população”. Dá um exemplo: “A população que vive na Fajã das Galinhas tinha um coeficiente de localização de 0,4% e hoje passou para 0,7%. É caso para perguntar: aquelas pessoas que lá vivem têm melhores condições de acesso? Claro que não têm. E porque razão isto acontece?”, lança nova interrogação.

Família do Curral gasta 15 euros para ir a Câmara de Lobos

Outro dos problemas identificados pelo Partido Socialista tem a ver com o Curral das Freiras, onde não existem serviços do município, obrigando os habitantes a terem que se deslocar a Câmara de Lobos, com todas as dificuldades de transportes que conhecemos. “Em média, uma família que pretenda resolver um problema num serviço público, gasta cerca de 15 euros para ir a Câmara de Lobos. Porque razão não há um gabinete do municípe, para agilizar e resolver os problemas das pessoas?”.

Números fazem retrato “negro”

Em síntese, Amândio Silva faz um retrato “negro” de Câmara de Lobos, já o tinha traçado na apresentação da candidatura. São números que, como refere, colocam em causa a gestão de Pedro Coelho à frente dos destinos autárquicos: “Concelho com o pior índice de poder de compra da Região e um dos piores do País, entre os piores indicadores concelhios de desenvolvimento económico, concelho com a mais alta taxa de desemprego da Madeira e uma das mais altas do País, foi o concelho que entre 2010 e 2016, numa análise entre empresas constituídas e dissolvidas, perdeu 123 empresas”.