CDS/PP quer ser diferente entre iguais e não quer Santa Cruz um concelho dormitório

Leontina Serôdio CDSPP S. Cruz
Leontina Serôdio é a candidata do CDS/PP à Câmara de Santa Cruz.

Leontina Serôdio, uma engenheira zootécnica, formada pela Universidade de Évora e natural do Caniço, é a escolha do CDS/PP para a Câmara de Santa Cruz, depois dos centristas terem apoiado o Juntos Pelo Povo nas últimas eleições autárquicas que levaram o JPP ao poder.

Diferente entre iguais é quase como uma resposta ao facto do JPP ter passado a partido. A candidata considera que o movimento marcava a diferença, de tal modo que justificava, como faz questão de referir, a aposta do CDS no apoio à equipa de Filipe Sousa, facto que já vem de há dois mandatos. Agora, com o JPP partido como os outros, o CDS/PP decidiu apostar num candidato próprio, neste caso uma candidata que, sobretudo, quer convencer eleitorado que há alternativas de pensamento e de políticas.

Concelho com especificidades

Claro que os centristas não sabem o que valem neste momento e os termos de comparação de resultados eleitorais estão lá para trás. Cabe a Leontina Serôdio encontrar uma estratégia que traga de volta aquele que é o eleitorado tradicional do partido, sabendo que estamos perante um concelho com especificidades muito próprias e com um crescimento populacional anormalmente ocorrido nos últimos anos, com o Caniço a constituir um polo a ter em conta pelas particularidades que encerra, relativamente às outras freguesias. Uma população que, em larga maioria, faz a sua vida no Funchal e, por isso, não vive propriamente os problemas do concelho. Mas é ali que vota.

JPP partido passa a concorrente do partido CDS/PP

A candidata fez percurso no CDS/PP, começando pela Juventude Popular. Passou pela Câmara de Santa Cruz enquanto vereadora da oposição no primeiro ano de candidatura do JPP e diz que “o Juntos Pelo Povo trouxe uma nova forma de fazer política através de movimento, permitindo estar mais próximo das pessoas”. No entanto, no segundo mandato, , “já foi diferente”, sublinhando que “os indícios de que a situação inicial iria mudar já eram grandes, o que se revelava um pouco diferente daqueles que eram os meus valores, por isso já não integrei o movimento. E acabou por acontecer essa alteração com a passagem a partido, ficando assim na condição de concorrentes normais do CDS/PP, cada um com diferenças bem visíveis, como facilmente se conclui”.

Necessidade de sobrevivência faz perder natureza do movimento

Leontina Serôdio compreende a necessidade orçamental do JPP para justificar esta alteração. “Tem a ver com a sobrevivência, com a competitividade no sistema, mas acaba por perder a natureza que esteve subjacente à constituição desse movimento”. Entende, também, que o factor novidade favoreceu o resultado, “uma vez que as pessoas têm uma apetência maior para o que é novo, além de que os partidos tradicionais sofreram um grande desgaste de valores, provocando os constantes aumentos da abstenção”. Só que, agora, lembra, “o JPP já não é novidade, já não é o fruto proibido que é mais apetecido, é um fruto que começa a estar normalizado, igual aos outros. E assim é mais difícil”.

Política do coitadinho já não faz sentido

Leontina Serôdio Santa Cruz B
Em Santa Cruz, já não há diferença entre movimentos e partidos. São iguais, são todos partidos políticos. Mas nessa igualdade, o CDS/PP quer ser diferente.

Neste contexto político do concelho, enquanto candidata do CDS/PP, que “armas” vai utilizar para convencer o eleitorado a ser chamado para o seu programa e as suas propostas? A candidata acusa o JPP de estar a entrar pelos mesmos mecanismos de atuação dos outros, entende que o agora partido “não quer morrer na praia e infelizmente, na política, é tudo muito igual, começa a ter as mesmas justificações dos outros. E repare, já não faz sentido a política do coitadinho, falando da herança do passado, até porque todas as dívidas da Madeira são difíceis. Claro que foram feitas coisas boas, não há que negá-lo, mas outras foram muito más, algumas são autênticos “elefantes brancos” quando deveríamos ter apostado na Educação e na Saúde. Mas foram escolhas conjuntas, da governação, mas também do povo, que permitiu tudo”.

Santa Cruz quer ver mas precisa se sentir

A candidata centrista diz que esta discussão à volta de milhões não resolve os problemas das pessoas, embora reconheça que fica feliz quando os números apontam para reduções consideráveis. “Os problemas reais têm a ver com habitação, apoios aos empresários para a criação de emprego que fixe as pessoas no concelho”. Diz que a asfaltagem é importante, é uma obra que se vê, mas Santa Cruz precisa de sentir além de ver. O povo de Santa Cruz precisa de sentir que tem futuro, de forma sustentável”.

Não é fácil combater este cenário de recuperação, admite. Mas, mesmo assim, vai apostar em defender um concelho de futuro, que não seja de passagem. Aponta o exemplo do Caniço, com um grande crescimento populacional, mas por razões que se prendem com o preço das casas, mais barto do que no Funchal. As pessoas vão e vêm, não se fixam. Precisamos que as pessoas vivam e trabalhem no concelho. Temos que evitar que o concelho de Santa Cruz seja um concelho dormitório”.

Maior partilha com o Governo Regional

Leontina Serôdio defende, se for eleita, a desburocratização autárquica, a maior mobilidade entre freguesias, uma rede de cuidados continuados melhor pensada, mas também aquilo que chama “uma maior partilha com o Governo Regional, uma vez que não podemos ser uma ilha dentro de uma ilha. Se não temos capacidade de diálogo e de trabalho, também não estamos a desempenhar bem o nosso papel de gestão integrada a bem da população. Não é haver queixas sistemáticas de que o governo não traz coisas, é antes nós sabermos trabalhar com o Governo em parceria”.

A divisão de votos é quase como um facto adquirido. Mas a candidata alia este facto a outro que considera também relevante: “Apesar de sermos um concelho rural, temos um eleitorado urbano, que vota aqui mas que está um pouco deslocado da realidade da vivência do dia a dia. E que pode distorcer os resultados”.

Evitar níveis elevados de abstenção

Não há receitas para estas situações, mas sempre vai dizendo que “devemos trabalhar todos, em conjunto, para evitar os níveis de abstenção que têm acontecido nas eleições anteriores. Temos que conquistar as pessoas com aquilo que as pessoas precisam, não com promessas que não possam ser cumpridas. O CDS/PP não se candidata há oito anos e não temos números atuais, mas neste recomeço temos vontade de contribuir para o crescimento de Santa Cruz em setores fundamentais”.

O contato direto porta a porta, respeitando a privacidade das pessoas, é aquilo que a candidata do CDS/PP quer fazer na sua ação de campanha. “As pessoas devem perceber a mensagem de que o CDS/PP neste concelho quer ser diferente entre iguais. Temos que demonstrar isso”.