Japonesa Maïa Barouh encerrou com concerto sedutor e cheio de energia segundo dia do ‘Raízes do Atlântico’

Fotos: Rui Marote

A noite de sexta-feira proporcionou óptimos momentos aos apreciadores da chamada “música do mundo” no Festival Raízes do Atlântico, num dia de concertos que se revelou, a vários níveis, superior ao anterior. Desde as 20 horas até depois da meia-noite, as sonoridades de Angola, do Brasil e do Japão (trabalhadas, bem entendido, pelos intérpretes de formas inovadoras e de acordo com as referências musicais de cada um) preencheram o palco e deleitaram a audiência que enchia o recinto reservado para o efeito na Quinta Magnólia.

Toty Sa’Med, intérprete da nova música urbana de raiz popular de Angola, preencheu a primeira parte do concerto interpretando temas inspirados pelo cancioneiro daquele país africano e por originais de sua autoria, nos quais fica também clara a influência da Bossa Nova.

Em 2016, este cantor lançou o seu primeiro disco, intitulado Ingombota, produzido por Kalaf Epalanga (Buraka Som Sistema). Aliás, já dera anteriormente nas vistas num espectáculo deste músico no CCB. Foi este registo que foi apresentado ontem aos madeirenses.

Seguiu-se-lhe um percussionista de grande fôlego, Guilherme Kastrup, com o seu projecto ‘Kastrupismo’: carioca a residir em São Paulo, este músico foi buscar inúmeras referências à música brasileira e africana, e interpretou de tudo um pouco, desde a bateria ao berimbau. Impressionou pela proficiência que demonstrou, com o seu grupo, no domínio dos instrumentos, num espectáculo que primou verdadeiramente pelo ritmo.

Mas quem se assumiu verdadeiramente como a estrela da noite, a encerrá-la, aliás, com um apelo “ao animal que existe em cada um de vocês” foi a japonesa Maïa Barouh, uma grata surpresa para muitos dos presentes. A enérgica nipónica, dotada de uma voz notável e de uma energia que parecia não ter fim, conseguiu seduzir a assistência com as suas interpretações e, no final, pôr imensa gente a dançar e literalmente aos saltos, deixando sair o “animal” cá para fora.

Uma plétora de referências musicais enformam o universo musical desta cantora, que também impressionou com os sons que arrancava a uma flauta. Desde a infância que viajou e colheu influências da música de múltiplos locais, desde as sonoridades do Médio Oriente às dos ciganos, mas o “core” da sua actuação reside no reportório tradicional japonês. Aliás, na sequência do acidente nuclear de Fukushima, motivou-a buscar as raízes junto das tradições preservadas por pescadores ou camponeses da região e, a partir das suas canções, criar uma interpretação literalmente surpreendente, com momentos verdadeiramente psicadélicos e carregados de energia vital… e também com momentos sedutores com o suave som da flauta a evocar paisagens calmas e distantes.

Foi, porém, sob o signo do entusiasmo que terminou esta primeira actuação da japonesa no nosso país. Um momento assinalável.