Degradação humana na via pública: cacifos resolvem?

A imagem até podia parecer ter a sua graça, não fosse um pormenor: a degradação humana não tem piada. O homem em questão foi visto pela nossa reportagem ontem, dia movimentado no centro do Funchal, a cambalear na Rua João de Deus, frente à Escola Secundária de Francisco Franco. Já trazia as calças a cair e expunha as nádegas e os órgãos genitais a quem passava. Obviamente, encontrava-se severamente alcoolizado ou sob o efeito de outra qualquer substância.

O espanto dos transeuntes era notório. Muitos espantavam-se, outros tiravam-lhe fotos com o telemóvel, outros desviavam o olhar. Não demorou muito até que o homem, que vagueava para lá e para cá, se deitasse em plena rua, em posição fetal e com o traseiro directamente apontado à Secretaria Regional da Inclusão e Assuntos Sociais, como se de vil piada se tratasse.

Como não nos agradam espectáculos deste teor, contactámos a PSP, no sentido de providenciar a resolução da situação: o homem não estava claramente em si, dissemos. Aventámos a possibilidade de chamarem uma ambulância que o conduzisse aonde pudesse ser desintoxicado? “Uma ambulância? Espere só um momento que já lhe passamos à Protecção Civil”, disseram-nos, e, antes que pudéssemos acrescentar fosse o que fosse, a chamada foi transferida. Tivemos de voltar a explicar a situação a quem nos atendeu. Não, não estávamos até muito preocupados com o atentado ao pudor, explicámos, mas a situação em que o homem se encontrava era degradante para ele… Alguém devia fazer alguma coisa. Já algumas pessoas tinham tentado acordar o homem, pedir-lhe que se cobrisse, sem efeito. “Ah, quem devia tratar disso era a Polícia”, disseram-nos. ?? Afinal?, ninguém toma nenhuma providência?, estranhámos. Isto é, portanto, normal?

Bem, lá nos disseram que tentariam fazer algo. Um bom quarto de hora decorreu, com os passantes, boquiabertos, a apreciarem o traseiro do senhor, até que surgisse um carro-patrulha da PSP. O agente, investido desta ingrata tarefa, lá conseguiu interpelar o homem, acordá-lo – a reacção do dorminhoco não foi nada simpática – e convencê-lo a vestir as calças e abotoá-las. Após alguns minutos de persuasão e algumas repreensões, lá o homem cumpriu. O carro da PSP seguiu o seu caminho e o homem baixou-se para apanhar um saco com alguns pertences… expondo novamente as nádegas para fora das suas apertadas calças vermelhas.

O corolário desta história edificante vem hoje, quando deparámos novamente com o mesmo homem, a dormir de novo literalmente com o rabo de fora, junto ao monumento ao Emigrante, cercado pelas flores que recentemente foram colocadas junto ao mesmo numa homenagem aos nossos compatriotas da diáspora. A PSP encontrava-se por perto, passou de carro, os agentes apontaram, seguiram sempre. Não tínhamos máquina para fotografar o homem adormecido, caso contrário, daria sem dúvida uma bela sequência, de ontem para hoje.

Conclusão (a nossa própria, assumidamente irónica, opinativa e independente, para os que quiserem criticá-la): já sabemos do que este homem precisa para parar de se comportar assim e integrar-se devidamente na sociedade. Precisa, sem dúvida, de um cacifo.