Crónica Urbana: Madeirenses, um povo sofrido, enquanto aqui ao lado nas Canárias…

Rui Marote

Continuamos a carregar o Padrão dos Descobrimentos. Gonçalves Zarco, desde que aqui chegou implantou essa “cruz”, que continua a ser o fantasma deste povo ilhéu que nos persegue. A Revolta da Farinha, a Revolta do Leite, a Revolta das Águas, a Revolta da Madeira, que Salazar não perdoou aos madeirenses, não construindo o aumento do Porto do Funchal e preferindo Ponta Delgada nos Açores, são capítulos da nossa história, que jamais este povo esquece. Recentemente, por causa da dívida oculta, Passos Coelho colocou-nos uma canga que até aos dias de hoje faz com que sejamos a parcela de Portugal que mais paga impostos. Conquistámos a Autonomia com o 25 de Abril, mas continuamos dependentes dos Senhores do Terreiro do Paço, atados de pés e mãos com uma autonomia que continua a ser um brinquedo do poder central.

Para que serve termos uma Assembleia e um Governo próprios, quando a decisão final é sempre de Lisboa? O nosso lema continua a ser “lá vamos cantando e rindo”… foi a marcha salazarista que herdámos e que carregamos. O nosso grito de revolta não faz eco, esvaindo-se no meio do do Atlântico. É possível fazer comparações entre dois povos ilhéus, o das Canárias e o da Madeira, com duas autonomias diferentes dentro da comunidade europeia.
Dois povos que economicamente dependem de uma indústria chamada Turismo. O número de camas existentes é esmagador em relação ao do arquipélago da Madeira. Esta crónica não tem a finalidade de confontar Canárias e Madeira no sector turístico. Isso seria tema para uma crónica sem fim.

O nosso objectivo é comparar o nível de vida dos madeirenses com o dos canários. O ordenado mínimo e muito superior ao do madeirense.
Visitámos uma cadeia de supermercados, canaria Hiper Dino e outra de um um magnata português aqui implantado, Belmiro de Azevedo (Continente). O Funchal Notícias foi às compras. Recordamos um secretário regional da Agricultura e Pescas que não se cansava de apregoar “consumam produtos regionais”, mas o efeito ficou na intenção e foi palavra morta no dia a dia dos madeirenses.
A comparação que fazemos é de produtos regionais. Chamou-nos a atenção a banana: aqui o preço nos supermercados varia entre os 89 cêntimos e os 90. Na Madeira, custa 1.34 uma diferença de 40 cêntimos para mais.

Era a fruta do pobre. Hoje os madeirenses consomem outras frutas importadas a preços mais reduzidos. A cerveja fabricada numa ilha que tem falta de água tem preços mais acessíveis que na Madeira, quando comprada nos supermercados. Sendo consumida nos bares ou restaurantes, os preços escaldam em relação aos praticados na Região.
A papaia, um fruto tropical, estava tabelado a 89 cêntimos ao quilo. Na Madeira, essa fruta escasseia. A existente ao longo do ano é importada, sendo fruta de rico; quanto à regional o preço é superior ao importado. Os transportes públicos têm preços acessíveis em relação ao
Funchal. Aqui um bilhete único comprado a bordo do autocarro custa 1.40 euro, enquanto na Madeira é 1.90, mais 50 cêntimos. Não vamos falar dos preços dos combustíveis porque este POVO SOFRIDO já não suporta, com tanto sofrimento.

Hoje, quando efectuava uma longa caminhada na avenida Mesa Y Lopez dei de caras com uma publicidade nas paragens de autocarros e ao longo da artéria, da companhia aérea TAP anunciando Las Palmas -Lisboa a 71 euros todos os dias. Recordamos que a TAP nos anos 70
tinha uma delegação na Gran Canaria de fazer inveja a outras Companhias aéreas, chefiada por um madeirense, com dois voos semanais Funchal-Las Palmas-Funchal, com os seus Boeings 727-200. Nos anos 80, a TAP encerra a delegação e mais tarde deixa de voar para Canárias.

Hoje anuncia essa linha a preço de “uva mijona” assim como novos destinos para meses depois encerrar. Chego a pensar que este subsídio de mobilidade tem algo escondido tipo gato com o rabo de fora. Não sou adivinho, mas leva-me a querer que foi uma maneira que o Governo arranjou para subsidiar a TAP quando a União Europeia não permite subsídios de Estado a transportadoras aéreas. Não se compreende que os madeirenses paguem 380 e ate 400 euros por um bilhete que está tabelado para um residente no valor de 86 euros quando o Estado desembolsa a diferença para os 380. Isto é um “saco roto” para manter viva aquela expressãozinha que esta na Constituição, “Continuidade Territorial”.

Com o meu espírito jornalístico vou “farejando” ao longo das Calles, e descubro numa agência de viagens – Club Canarias de Viajes – um dístico tamanho A4 com o titulo Oferta Madeira, Festival del Atlantico, convidando o povo canário a assistir ao espectáculo pirotécnico ao preço de 380 euros por pessoa, em hotel de três estrelas com pequeno almoço e transferes incluídos por quatro dias de estadia na Pérola do Atlântico, com suplemento de meia pensão por 91 euros. Aqui não chegou a Associação de Promoção da Madeira, a um mercado que é quintal dos madeirenses. Hoje, dia 30 de Maio, é o dia das Ilhas Canárias sendo feriado no arquipélago com uma série de eventos programados. Iremos acompanhar estas festividades.