Crónica Urbana: o imbróglio dos transportes marítimos

 

Rui Marote
O Governo Regional esteve na Assembleia para anunciar a abertura de um concurso público internacional para os portos da Região. Miguel Albuquerque considerou, na casa da democracia, que funcionará, admitindo contudo que se ficar deserto poderá ser encontrada uma solução de cariz público e, perante as costumeiras acusações, garantiu que não está refém dos interesses de grupos económicos.
Este concurso deveria ser anunciado em primeira mão no Parlamento, o que não aconteceu porque deputados e madeirenses, com 24 horas de antecedência, tinham já conhecimento através dos órgãos de comunicação social.
Desfez-se o mistério e esvaziou-se o conteúdo. Alguém deu com a boca no trombone. Cabe ao ao gabinete do presidente averiguar essa fuga de informação.
Venha esse concurso internacional, já que todas bancadas disseram “Amén”.
Mas Miguel Albuquerque já pôs os pontos nos ii,  com a seguinte ressalva: se ficar deserto arranja-se uma solução de cariz público…
Só nos resta aguardar sentados e não de pé.
Vamos traçar um cenário em que o actual operador deve ser um dos concorrente, mais três potenciais concorrentes. Admitamos que o vencedor seja um dinamarquês e que os destinos dos  transportes de carga fiquem sob a alçada desse novo operador.
Toda a maquinaria pesada no Caniçal para cargas e descargas é pertença do actual operador, maquinaria essa avaliada em milhões de euros. Será retirada ou o novo operador chegará a um acordo de aluguer ou de compra com o actual operador?
A maioria dos navios de carga que operam no Caniçal são pertença do actual operador.
Será que o novo operador terá navios disponíveis para essa linha, entrando em concorrência com o actual operador?
Tudo isto leva-me a traçar um cenário negr.  Ninguém vai buscar sarna para se coçar.
Não esqueçamos que somos uma ilha com 250.000 habitantes.
Como não sou economista nem faço estudos de viabilidade económica de navios cargueiros nada sei. Resta-me ficar atento à espera do novo filme, cujo guião começa  a ser elaborado sem datas para anunciadas para sua estreia. Os actores nem foram escolhidos, mas o realizador é o Governo Regional.
Outra novela é o ferry-boat: a Secretaria dos Transportes não quis abrir os cordões à bolsa e disse não.
Vivemos numa ilha rodeada de mar por todos os lados  e a culpa é de João Gonçalves Zarco… A constituição garante-nos continuidade territorial, está no livrinho… Mas não passa de teoria.
O Governo Regional pediu autorização a Bruxelas para abrir uma linha de transporte em ferry-boat entre a Madeira e o território continental. Eduardo de Jesus colocou assim nas mãos de Bruxelas a possibilidade de concretização da tão ambicionada ligação que em tempos foi assegurada pelo ARMAS.
Quem irá suportar estas despesas: os madeirenses…!
A linha para a Madeira  custa 10 milhões por ano. Os madeirenses não necessitam de um ferry para 400 passageiros. A maior afluência seria de Junho a finais de Setembro. A carga é prioritária mas tem regras (há leis) que têm de ser respeitadas.
Vamos ter facilidades nos produtos frescos de supermercado com desembarque imediato.
Mas temos outros problemas que surgem, havendo a necessidade de salvaguardar os agricultores.
Por exemplo, um contentor de cenoura poderá chegar à Madeira para ser vendido a 25 cêntimos enquanto a cenoura da Madeira o agricultor não poderá vender a menos de 70 cêntimos.
Isto é um pau de dois bicos: tudo terá de ser ponderado. Ou, como diz o brasileiro, pode “dar Zebra”.