A ilha do tesouro escondido – Porto Santo

Muitos são aqueles que, por experiência, vivência e profunda estima, lamentam a forma como o Porto Santo se encontra. Os fatores que influenciam este sentimento – creio que generalizado por todos aqueles a quem a ilha representa casa – são lamentavelmente muitos. E é exatamente por isso, que é necessário que todos nós possamos fazer uma paragem consciente e responsável, para podermos analisar, ponderar e tentar solucionar as grandes “tempestades”  que a população desta ilha tão bravamente tem enfrentado.

Os transportes são, de facto, uma das batalhas com que o Porto Santo mais se tem cruzado. É a palavra mais proferida por todos aqueles que viram a ilha dourada crescer, não em tamanho, mais sim, no “emagrecimento” dos obstáculos que eram sentidos, apesar de todas as contrariedades vividas, evoluindo e logrando de forma positiva e moderna, desde as primeiras povoações. Bastam conversas com os mais velhos para perceber que a forma como descrevem a vida antiga, sinónimos como difícil, é muito pouco para descrever um passado não tão longínquo.

Apesar disto, o facto é que ainda falta descobrir o “Tesouro” que esconde a forma de desvanecer e apagar, de uma vez por todas, os já sentidos óbices de outrora que insistem em permanecer num local que merece deseclipsar e renascer, gracejando com todo o sentido o título de “A Joia mais antiga de Portugal”, repleta de oportunidades.

O “Tesouro” que revelará a forma de catapultar o Porto Santo para índices de estabilidade económico-financeira para níveis saudáveis (sabendo que “uma andorinha não faz a Primavera”), evitando assim o que tem acontecido nos últimos anos; um decréscimo acentuado e a olhos vistos da população porto-santense, dadas as dificuldades existentes e à notória falta de possibilidades de emprego. É necessário criar condições favoráveis para que possamos valorizar e aproveitar os nossos, aqueles que querem ficar ou, para os que estão fora, voltar para à sua ilha com a vontade de dar um pouco de si à terra que os viu nascer, ao invés de criar “muros” que impedem e que, em muitos casos, faça com que  alguns deles nem  ponderem  a possibilidade de para lá um dia voltar.

É necessário que aceitemos unanimemente que o Porto Santo precisa de que olhem e lutem por ele com a atenção, dedicação e o brio que esta ilha merece. Que percebamos todos que, para isso, é necessária uma união de esforços e uma importante e obrigatória proximidade com a população.

É inevitável trabalhar em várias vertentes. É impreterível olhar para todas elas com a mesma atenção e valorização. Ainda há muito por fazer. Valorizar e reabilitar o património edificado que confere e caracteriza a ilha, dinamizar os espaços existentes, criar a rota da Cal e a rota dos Moinhos como forma de enaltecer a cultura e a história porto-santense, intervir de forma urgente naquele que é inegavelmente o cartaz principal da nossa ilha, a praia, e claro, a vertente social. Apesar da importância que todos os pontos anteriores têm, há um ponto prioritário. A população do Porto Santo. Não podemos esquecer-nos de todos aqueles que vivem, respiram,  lutam e sobrevivem, com muito amor pela terra que os viu nascer. É necessário uma preocupação sincera com todos aqueles que muitas vezes, de forma discreta e silenciosa passam por vários obstáculos como o desemprego, o isolamento ou a falta de possibilidades na vida.

Creio que a luta a travar é longa, mas não é de todo irrealizável ou irreal. Primeiramente, é necessário ter/criar condições para a população que permanece todo o ano na ilha, pois são estes que são o combustível que faz a ilha andar para a frente, que se dedicam, que são o sangue, o suor e o DNA da mesma. Porque só assim estaremos preparados para todos aqueles que nos querem e quererão visitar um dia.

Não há tempo para conflitos ou para disputas paralelas, pois enquanto isso, matamos o tempo precioso para discutir e dialogar aquilo que é de vital importância para aquela que foi a primeira ilha a ser descoberta pelos portugueses, numa viagem turbulenta e cheia de obstáculos e que possibilitou no final, um desembarque santo. O tempo é de união, de consenso, de compreensão, de ação e dedicação. Todos nós, em tudo na vida, estamos de passagem, passamos o testemunho.  A política não deveria ser sinónimo de “interesses” numa condução de vantagens e aproveitamento particular ou específico, mas sim de unanimidade e de organização para a população em geral. É necessário que os princípios da política sejam justos e verdadeiros.

As diferentes ideologias sempre existiram e existirão. A oposição política sempre permanecerá e é fundamental que assim seja, pois é na apresentação de propostas e na discussão de um leque diverso de  ideias, que assenta uma das mais valias da sociedade atual, que é a diversidade e o respeito pela sociedade que é cada vez mais distinta, tornando-a mais justa, capaz e respeitadora. Perante a conjuntura atual que nós vivemos, a corrida pelo poder descaracteriza e  descredibiliza a linha correta de organização de uma sociedade que grita desesperadamente pela união e pela solução de problemas que fazem parte integrante da vida de todos os cidadãos. Na política como na vida, não basta ser. Tem de crer. Tem de crer e acreditar. O Porto Santo chora o presente, e necessita de bons ventos e de boas alternativas que vão ao encontro das necessidades de todos, sabendo que a conjuntura não permite planos desmesurados ou imaginárias, mas com esforço, dedicação e humildade, tudo se consegue.

Alexandre Herculano dizia que “Querer é quase sempre poder: o que é excessivamente raro é o querer.”

Não sejamos raros, e que o querer de todos os porto-santenses se torne em poder para chegarmos todos ao Porto Santo que tanto desejamos. É o meu desejo.