Relato de um madeirense que há 25 anos esteve embarcado no ‘Lusitânia Expresso’: “Foi o princípio do fim da ocupação indonésia sobre Timor”

Faz amanhã 25 anos que o ‘ferryboat’ “Lusitânia Expresso” agitou as águas de Timor. A missão “Paz em Timor” foi notícia em todo o mundo.

A 11 de março de 1992 a marinha indonésia impediu o “Lusitânia Expresso” de avançar em direção a Timor-Leste, permanecendo em águas internacionais.

A missão tinha este simbolismo: depositar flores no cemitério de Santa Cruz, em Díli, em homenagem às mais de 200 vítimas do massacre de 12 de Novembro de 1991, às mãos das forças indonésias.

A bordo, mais de 100 pessoas, incluindo o ex-presidente da República, Ramalho Eanes, estudantes de 23 países, 25 jornalistas portugueses e 34 estrangeiros.

A missão foi organizada pelo então diretor da revista ‘Fórum Estudante’.
Amanhã à tarde decorre no teatro Thalia, em Lisboa, uma cerimónia que pretende evocar os 25 anos do Lusitânia Expresso e da Fórum Estudante, mas também refletir sobre as grandes causas do século XXI.

O que poucos sabem é que a bordo do “Lusitânia Expresso” a presença madeirense também se fez sentir.

O Funchal Notícias desafiou um desses madeirenses a relatar a experiência que viveu há 25 anos.

Eis o relato de António Marques, um homem de causas, hoje mais conhecido na sociedade madeirense pelos seus comentários nos meios de comunicação social, mormente em matérias relacionadas com a sua outra paixão: a emergência pré-hospitalar, o socorrismo e a Cruz Vermelha:

“Em meados de janeiro de 1992, ao final do dia, encontrava-me em reunião na Associação Académica da Universidade da Beira Interior, da qual era presidente, a preparar a semana académica desse ano letivo. Uma chamada telefónica da Revista Fórum Estudante interrompe a reunião. Era um convite para aderir a uma iniciativa que estava a ser preparada, de índole simbólica e ao mesmo tempo, esperava-se, que tivesse repercussão mediática: um grupo de jovens ia depositar uma coroa de flores, no cemitério de Santa Cruz em Dili – Timor, junto daqueles que tinham perecido na sequência do ataque do exército indonésio aos timorenses que se manifestavam nesse cemitério.

O massacre no cemitério de Santa Cruz era assunto que tinha aparecido na comunicação social portuguesa no final de 1991 através de imagens que haviam sido obtidas no local e que tinham passado despercebidas aos indonésios. Ao que consta morreram mais de 300 pessoas, a maioria jovens.

É lógico que aceitei de imediato o convite e abracei o projeto. Entre fevereiro de 1992 e março do mesmo ano, esse foi o assunto mediático, não só em Portugal, mas também junto das comunidades portuguesas no mundo.

Entre recuos e avanços, o projeto foi avante e tentamos chegar a Timor. Não chegamos ao cemitério. É um facto. No entanto, tornou-se mais mediático e teve mais impacto junto da comunidade internacional, os barcos e aviões de guerra indonésios ameaçarem um ferry desarmado, cuja composição eram estudantes de 30 países e jornalistas do que se calhar termos chegado a Timor. Foi o princípio do fim da ocupação indonésia sobre Timor. Em 1999 é feito o referendo em 2002, Timor Leste torna-se independente.
Passaram-se 25 anos. Voltaria a fazer o mesmo….”