Espelho meu, espelho meu, existe algum professor mais tirano do que eu?

icon-pedro-pereira-opiniao-forum-fn

Terminaram as férias de Natal para os estudantes e todos nós ouvimos imensas histórias de alunos Madeirenses e também Açorianos que estando deslocados no Continente Português tiveram imensas dificuldades para planear esse seu período de merecido descanso em família. Todos os anos repetem-se as centenas de casos de professores universitários que sem qualquer respeito e consideração por estes estudantes marcam as suas avaliações em cima do acontecimento e repetidamente em dias claramente pouco recomendáveis. Os professores em Portugal tendem a confundir exigência com tirania. Tendem a confundir exigência com intransigência. Para eles, eu gostaria de lembrar que empatia pela situação dos outros é uma enorme prova de capacidade.

Ao contrário do que esses professores possam imaginar marcar um avaliação com antecedência não é um assunto de somenos. Para um estudante deslocado visitar a família num período tão especial como o Natal não é um luxo é uma necessidade. Igualmente, marcar avaliações para os primeiros dias depois das interrupções escolares ou também para os últimos dias antes dessas interrupções, em turmas onde existem alunos deslocados das Regiões Autónomas, não é uma prova de exigência é uma prova de falta de empatia por parte dos professores. Neste país são poucas as pessoas que não conhecem as dificuldades que os estudantes deslocados das Regiões Autónomas, em especial da Madeira, têm para poder conseguir viagens e por isso não ter isso em consideração quando se faz um planeamento de uma turma é no mínimo insensível.

Este ano, conheci um caso de um professor que mesmo contra os regulamentos da universidade recusou aceitar receber e avaliar um trabalho de um aluno Madeirense antes da data estabelecida para a entrega desse trabalho mesmo sabendo que o aluno entregaria mais cedo para depois poder viajar para a ilha. Entregar mais cedo não é nenhum favor nem nenhuma ajuda, mas mesmo assim esse professor deu-se a esse papelão e recomendou ao aluno que se inscrevesse em exame de recurso. Um professor universitário, até pela posição social que ocupa, devia perceber, sem dificuldade, que é muito diferente, por exemplo, ser um estudante de Bragança a estudar em Lisboa ou ser um estudante da Madeira a estudar também em Lisboa. Para nós não existem autocarros, não existem comboios, nem existem carros particulares que nos valha. Nem sequer barcos! Para nós Madeirenses ou conseguimos uma viagem de avião ou não existem alternativas.

O que ainda torna esta situação mais grave e menos compreensível é que o mesmo sistema de ensino superior que trata desta forma e com este desrespeito os seus alunos das Regiões Autónomas é o mesmo que de tudo faz para simplificar a vida aos alunos estrangeiros que através de programas de mobilidade, como o Erasmus, escolhem Portugal para destino de parte do seu período de estudos. Se os professores querem fazer comparações, como frequentemente fazem, para justificar aos estudantes a sua postura, não devem comparar o estudante da Madeira com o estudante de Bragança, mas sim com um estudante de Erasmus, pois talvez o estudante da Madeira está em condições mais parecidas com um estudante de uma qualquer cidade Europeia, do que de um aluno de Bragança.

Citando J. K. Rowling “Imaginação não é apenas a distinta capacidade humana de visualizar aquilo que não existe. (…) Na sua mais transformativa e relevadora capacidade, ela nos proporciona empatia com outros seres humanos, cujas experiências jamais podemos partilhar. (…) Ao contrário de qualquer outra criatura neste planeta, os seres humanos podem aprender e compreender, sem terem vivênciado a experiência. Eles podem imaginar a si mesmos na situação de outras pessoas”. Assim sendo, que falta de capacidade de imaginação anda pelas nossas universidades e institutos politécnicos. Serão estes os melhores professores para promover o desenvolvimento intelectual e criativo dos nossos jovens?