Como as companhias aéreas enganam o Governo Regional e Nacional?

icon-pedro-pereira-opiniao-forum-fn

Os maiores beneficiados da liberalização das rotas aéreas entre a Madeira e o Continente Português nas condições actuais, incluindo o actual subsídio de mobilidade, foram as companhias aéreas onde se inclui a TAP que apesar de perder o monopólio regulado não se queixa seguramente da liberalização da forma como esta foi feita.

Há pouco tempo a conhecida Social-Democrata Sara André defendeu num programa da RTP-Madeira que os problemas criados pelas deficiências do subsídio de mobilidade (principalmente a situação do tecto máximo) deram-se porque o Governo Regional não contava com o comportamento da TAP e das outras companhias, que ela classificou como desonestas e que estavam a fazer “uma burla ao Estado”. Muitas outras pessoas acusam as companhias de uma possível “cartelização” de preços. Não existindo provas dessa cartelização, a verdade é que podemos admitir que isso acontece, nem que seja de forma informal. Isto é um atestado de incompetência ao Governo Regional. Na rota Madeira-Lisboa existem duas companhias a operar (as mesmas que existiam aquando da negociação e decisão do modelo de mobilidade)  sendo que uma delas é a companhia que antes da liberalização da rota tinha o monopólio da linha. Assim sendo, se o Governo Regional não contou com uma possível cartelização de preços num mercado com poucos operadores e em que o maior operador continua a ser o antigo monopolista foi no mínimo irresponsável. Qualquer economista que já tivesse lido o mínimo sobre estratégias gatilho teria no mínimo imaginado que isso era uma probabilidade.

O actual Secretário Regional da Economia, Turismo e Cultura defendeu durante muito tempo que mais competidores nas rotas entre a Madeira e Portugal Continental eram fundamentais para fazer baixar os preços das viagens aéreas. Algo que parece óbvio para todos, até para colocar em causa a possibilidade de cartelização de preços que foi referida anteriormente! Relembro que baixar esses preços significa não só reduzir os custos de mobilidade para os nossos residentes e estudantes, mas também os custos para o Estado Português devido ao sistema do actual subsídio de mobilidade. Apesar desta defesa o tempo passa e os operadores são os mesmos!

Para a falta de operadores nas rotas claramente que contribui as elevadas taxas do aeroporto da Madeira, como afirmou a Ryanair nas negociações que fez com o Governo Regional e a ANA. Aquando da venda da ANAM e da concessão da ANA todos os intervenientes concordaram que as taxas do Aeroporto da Madeira eram demasiado elevadas. A 14 de Fevereiro de 2013, o Diário de Notícias da Madeira publicava que o acordo de concessão da ANA previa a redução das taxas aeroportuárias do aeroporto da Madeira até final de 2017. Falava-se de uma redução de 14,27€ por passageiro nos voos do espaço Schengen para 11,45€ e afirmava-se que o Aeroporto da Madeira era o mais caro da Europa. Apesar deste acordo generalizado de que a redução destas taxas era crucial o que prevê a proposta de precário da ANA para 2017 é a manutenção destes preços base que até acabam por ter acréscimos totais pela criação de umas novas taxas, como se pode ver abaixo.

tariufas1
Tabela Taxas aeroportuárias por passageiro no Aeroporto da Madeira – proposta de precário para 2017 da ANA.

Também abaixo deixo uma outra tabela com a comparação de algumas taxas aeroportuárias do precário da ANA para 2016 de 3 aeroportos nacionais.

tarifas-2Entre Lisboa e Ponta Delgada existem 4 companhias aéreas a operar (TAP, Ryanair, SATA, Easyjet) a isto certamente não é indiferente o facto de que como vimos antes a taxa por serviço a passageiros seja na Madeira mais do dobro do que em Ponta Delgada. Por outro lado, também não parece estranho que as viagens entre Lisboa e Ponta Delgada fiquem assim muito mais baratas que as viagens entre Lisboa e Funchal (mesmo que a distância para o Funchal seja mais curta) visto que além de taxas mais baixas ainda existe mais concorrência.

São estas taxas tão elevadas que levaram a Ryanair a pedir compensação para operar na Madeira. O Sr. Secretário considerou que a compensação pedida pela Ryanair era demasiado elevada. Está no seu direito, mas o que tem que dizer é como é que então planeia aumentar a concorrência nas rotas entre a Madeira e o Continente Português. Tem também que explicar quanto é que custa ao Estado Português o actual modelo de mobilidade com os preços de viagens aéreas actuais tão elevados e qual a sua opinião sobre as actuais taxas aeroportuárias.

Eu tenho a minha solução que passaria por forçar a ANA a cumprir o seu acordo de concessão e assim reduzir já as taxas para os 11,45€ acordados. Ao mesmo tempo estudar qual o valor do orçamento do subsídio de mobilidade que ficaria disponível com a baixa de preços das viagens aéreas através do incremento da concorrência para assim usar esse valor para negociar com a ANA e com o Governo da República compensações financeiras que permitissem reduzir as taxas do nosso aeroporto para, pelo menos, o mesmo nível dos Açores. Assim reduzíamos as taxas necessárias para a atracção da Ryanair e de diversas outras companhias, baixávamos o preço das passagens aéreas e o Estado no seu todo ficava a gastar o mesmo ou muito perto disso com esta realocação dos valores do subsídio de mobilidade para o apoio à redução destas taxas.

Aguardo com muita expectativa por perceber qual é a solução que defende o Sr. Secretário e o Governo Regional pois até agora parece que a sua ideia é apenas sacudir a água do capote e dizer que não é ele que define as taxas aeroportuárias. Nós Madeirenses esperamos e queremos mais do Sr. Secretário, pois se é verdade que não é ele que define as taxas, terá que partir dele a força para encontrar uma solução para esta situação.

O autor deste texto escreve segundo o antigo acordo ortográfico da Língua Portuguesa