Notas da Índia: Templo Dourado, santuário sikh

A Meca dos Sikhs
A Meca dos Sikhs

Rui Marote (texto e fotos)

Bem cedo deixei Cochim.  Atravessei a Índia de Sul a Norte com destino a Nova Delhi num voo que durou três horas e trinta minutos, em trânsito para Amritsar. Tinha uma hora e vinte minutos para efectuar a correspondência. Nada fácil num aeroporto com estas grandes dimensões, com a agravante de, embora o voo seja doméstico, a partida efectuar-se nos voos internacionais. Levam-nos o passaporte, há medidas de segurança e toda uma série de requisitos, o que nos leva a conjugar o verbo desenrascar em todos os tempos num contra-relógio.

A entrada do templo
A entrada do templo
Vacas sagradas, como sempre, em qualquer lado, até nos separadores das estradas
Vacas sagradas, como sempre, em qualquer lado, até nos separadores das estradas

Já na sala de embarque, verificação da bagagem de mão, para ver se continha o selo do check-out para um voo de 1h30. Um Airbus A 350 completamente superlotado, na maioria por peregrinos destinados Amritsar e ao templo considerado como Meca dos Sikhs.
Cidade muito poluída, Amritsar foi construída num local doado pelo imperador mongol Akbar.

Amritsar

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Estátua do marajá Ranjit Singh
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Famílias goesas. Dizem algumas palavras em Português

Em 1984, algumas partes do templo sofreram sérios danos durante uma operação de captura de separatistas sikhs abrigados no seu interior. Restaurado o edifício, o mesmo recuperou o seu antigo esplendor. O interior do templo é uma cidade dentro da cidade, com acesso principal pela porta Norte, conhecida por Darshani Darwaza, que abriga o museu central dos sikhs.

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Refeições ligeiras são distribuídas a todos
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O fluxo de visitantes não pára

Tem colecções de pinturas, moedas e armas que recriam uma viva imagem da história sikh. Os degraus levam-nos em direcção ao Parikrama (caminho de mármore) que cerca o Amrit Sarovar (“tanque de néctar “) que empresta o seu nome a cidade, e ao santuário principal, Hari Mandari (“Templo de Deus”) de cúpula dourada. Os andares superiores foram construídos pelo Marajá Ranjit Singh.

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O número de peregrinos é enorme
O número de peregrinos é enorme

Ao nascer do sol, procede-se ao ritual diário de transportar o livro sagrado dos sikhs. O sumo sacerdote abre-o então para a leitura do vaq, a mensagem do dia. O templo ecoa com música dos Ragis, músicos contratados pelo templo para cantar versos do livro sagrado desde a aurora até à noite.

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Guarda do templo
Guarda do templo

Todos os visitantes de Hari Mandir (mesmo sem serem sikhs) recebem um pedaço de prasad doce (oferta sagrada) e a visita não fica completa sem se tomar uma refeição na Guru ka Langar, a cozinha onde se oferece a todos os visitantes uma refeição simples,  Dall-roll (caril de lentilhas e pão) gerida por voluntários. A cozinha consegue alimentar 10.000 pessoas por dia. No seu vasto refeitório cabem 3000 pessoas.

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As últimas orações terminam as 21h45, altura em que o livro sagrado é fechado com grande reverência e conduzido num palanquim de prata de regresso ao Akal Takht. O chão do templo é lavado com leite e água, antes de as portas do Darshani Deorhi serem fechadas.

A 9 quilómetros de Amritsar está o último posto fronteiriço indiano; fica em Wagah, separado de Attari, no Paquistão, por uma estradinha estreita. Ao fim da tarde, quando soa o ultimo render da guarda, os soldados de cada lado, em uniformes cerimoniais, marcham em passo de ganso até aos mastros, para arriar as respectivas bandeiras nacionais, da Índia e do Paquistão. A cerimónia atrai multidões de espectadores de ambos os lados. O Funchal Noticias não perdeu a oportunidade de presenciar esse acto.

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A cerimónia é interessante. São milhares de pessoas de um lado e outro. Em ambos os lados existem bancadas de betão para os espectadores, como se fosse um estádio.

É assim todo o dia para entrar no templo
É assim todo o dia para entrar no templo

Nos dois lados a música vai entretendo o público através de um mestre de cerimónias que coordena os cânticos e os gritos havendo quase uma batalha para ver quem mais eco produz.
Os carros que transportam os visitantes ficam a 1500 metros de distância da cerimónia.
Todos os visitantes passam por medidas de segurança efectuadas por militares, dois para cada pessoa: um, sentado, revista o visitante da cintura para baixo, o outro da cintura à cabeça. Chegam ao ponto de abrir o porta-moedas e verificar todos os compartimentos. Há dois check-points.

A fronteira: do lado de lá fica o Paquistão
A fronteira: do lado de lá fica o Paquistão

Na bancada há uma zona para turistas, que estão separados dos indianos.
Temos de chegar ao local com cerca de duas horas de antecedência.
A cerimónia começa com as duas guardas, de um lado e de outro, a marcharem com passos de ganso e a abrir os portões seguindo-se gritos de ambos os lados. Ao som do corneteiro, é  dado o início para o arrear dos estandartes. Tudo termina com aplausos.

O arriar das bandeiras entre os dois vizinhos e rivais
O arriar das bandeiras entre os dois vizinhos e rivais

Colocamos assim um ponto final nas nossas reportagens da Índia: com a ‘missão cumprida’, estamos de regresso à ilha.