Danilo Matos lança alerta contra a demolição da Ponte de São Paulo

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O engenheiro Danilo Matos, que tem estado na linha da frente de um movimento de cidadania que muito tem contestado as obras nas ribeiras do Funchal, veio denunciar esta tarde que a Ponte de São Paulo, em São João, um local de ligação entre a Rua da Carreira e a Calçada da Cabouqueira, também é para destruir. E é contra esse facto que vem insurgir-se publicamente, apelando aos cidadãos para que se mobilizem para que tal facto não aconteça.

Danilo Matos afirma num post no facebook que tem a memória descritiva do projecto de reconstrução para a Ribeira de São João, e que, segundo o mesmo, a Ponte tem os dias contados.

“Não podemos permitir que isso aconteça a uma das pontes mais simbólicas e mais importantes na história da cidade. Acudam, já chega de tanta estupidez, de tantos atentados ao património e à cultura”, apela.

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Danilo Matos explica que a ponte de São Paulo, como a vemos hoje, é uma construção em alvenaria de pedra em arco de volta perfeita, construída no terceiro quartel do século XIX. Integrou uma segunda geração de pontes todas em arco de alvenaria de pedra ou de cantaria, que vieram substituir, em muitos casos, as pontes de madeira existentes e que marcaram, juntamente com o encanamento das ribeiras, a matriz e a malha urbana que fizeram do Funchal uma cidade única.

Porém, esta ponte tem muita história, tendo surgido já no século XVI, com uma estrutura de madeira muito rudimentar, para ligar a rua da Carreira à outra margem da Ribeira Grande, hoje com o nome de ribeira de São João. O activista recorda que, antigamente, por ela se saía e entrava na cidade, nas deslocações a São Martinho e Câmara de Lobos.

Um episódio histórico de suma importância aconteceu ali em Outubro de 1566, quando o corsário francês Bertrand de Montluc, vindo da Praia Formosa, onde desembarcara, atacou a cidade do Funchal. Foi por ali que entrou, à frente de uma força de 800 corsários. Reza a história que a resistência foi grande mas o poderio armado dos piratas venceu.

“A ponte acabou por integrar o plano de defesa gizado por Mateus Fernandes com a criação das muralhas da cidade e, mais tarde, com a construção da fortaleza do Pico. Em 1768 a Câmara Municipal do Funchal, que considerava a ponte “como a entrada mais importante da Cidade”, resolve reparar as muralhas naquela zona da ribeira e construir uma nova ponte de madeira que se manteve durante cerca de 100 anos”, explica Danilo.

“Quer do ponto de vista estrutural quer hidráulico consultei dois trabalhos, teses de mestrado na Universidade da Madeira, respectivamente dos engenheiros Fábio Manuel Nunes Rodrigues (Outubro 2014) para quem a ponte necessita apenas trabalhos de manutenção, e de Hugo Miguel Moniz Teixeira (Novembro 2010) que fez um exaustivo levantamento, ainda no rescaldo do 20 de Fevereiro, onde mostra que naquela secção o escoamento se fez normalmente e sem depósitos de material sólido significativos. Demolir então para quê e porquê?”, questiona. “Isso não vi escrito. Acrescento que a secção de vazão debaixo da ponte é de 12,0m (largura) X 8,0m (altura), o que é excelente”.

Para este defensor do património, “nós somos os donos desta ponte, porque ela é propriedade do município do Funchal. A Câmara e a Assembleia Municipal devem, a meu ver, suspender e embargar imediatamente a obra naquela zona e mandar rever o projecto”. Danilo desafia o secretário regional Sérgio Marques a dizer sim ou não à demolição da ponte.

“O que deixou que fosse feito com a ponte da Saúde não vai mais repetir-se. A cidade não vai tolerar mais atentados ao seu património. Faz no próximo domingo quatro meses que deixei aqui o meu alerta contra a demolição da Ponte Nova. Conseguimos, o governo recuou e vai recuar de novo. Só depende de nós”, apela. E lança um desafio aos cidadãos para cumprirem o seu dever de “salvar a ponte de São Paulo”.