Crónica urbana: Menu à turista esquece alma da Zona Velha

(Foto Rui Marote)
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A Zona Velha transfigura-se à hora das refeições. Os indicadores de crescimento no turismo animaram a atividade comercial e os restaurantes multiplicam-se em mesas e cadeiras. Ao ponto de as ruas ficarem à mercê do negócio que tem mais olhos que barriga.

O Funchal, cidade de mar, desde há muito que acerta horas e rotinas pelo pulsar do movimento marítimo.

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Esta semana, com a escala do navio Queen Elizabeth, as ruas encheram-se de conversas e rostos de outras paragens.

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Milhares de turistas resgataram a cidade à pacatez de uma manhã de final de verão, procurando desfrutar ao máximo das atrações, do bom tempo, hospitalidade e boa mesa.

(Foto Rui Marote)
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Na Zona Velha, a passada quarta feira foi dia de casa composta, com a maioria dos restaurantes a registar aumento nos pedidos.

(Foto Rui Marote)
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A objetiva do nosso repórter não teve dificuldade em captar a azáfama de mesas e menus, ao longo da icónica Rua de Santa Maria.

(Foto Rui Marote)
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Dia feliz, na certa, para os empresários da restauração. Na busca de agradar ao cliente e rentabilizar o negócio, vão conquistando a calçada com ementas e guarda-sóis, acrescentam mais um par de mesas e outras tantas cadeiras. O apetite aguça o atrevimento e ninguém quer ficar atrás.

(Foto Rui Marote)
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Então, o mobiliário dos restaurantes depressa afunila a passagem, tornando a velhinha rua  numa qualquer sala de jantar para “inglês comer”, imprópria à coscuvilhice das vizinhas, ao solto dormitar que se segue ao almoço.

Quem nasceu nas pedras do calhau e dividiu a infância entre o Arsenal e a Rua de Santa Maria, estranha a invasão. Evitam cruzar o local à hora da enchente. Os tempos são outros. Conformam-se. Há que dar lugar a novas memórias.

(Foto Rui Marote)
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No entanto, enquanto os turistas experimentam a espetada e o bolo do caco da moda, a Zona Velha ressente-se das ausências: Onde param o Gaivota e o Caneja, as brincadeiras de uma infância de pé descalço e cabelo riçado de sal e sol? Quem lembra as lavadeiras de língua afiada à beira do ribeiro, as mulheres de negro, velhas como o início dos tempos, com os cabelos apanhados e envoltas em ladainhas?

Por entre o burburinho dos restaurantes, o eco traz de volta a alma do lugar. Só quem ali cresceu consegue ouvi-la: “Ó, Luanda, o almoço está pronto. É milho com cebola e chicharros fritos!”