Marcelo nas Selvagens para distribuir afetos também às cagarras

 

MARCELO
Ilustração de José Alves.

Todos já se habituaram a ter um Presidente da República imparável que conquista o eleitorado sem sebenta, apenas com os gestos, o olhar, a retórica e, resumindo, com os afetos. Todos também parecem gostar do estilo. O estado de graça em torno deste Presidente bem sui generis continua em alta.

Marcelo regressa amanhã à Madeira para uma visita à Calheta, onde os incêndios fizeram grandes estragos e para um jantar de solidariedade, cujas receitas reverterão para as famílias atingidas pela tragédia.  Mas isto – que também é importante –  está longe de ser tudo. O Presidente quer distribuir também afetos pelos arredores, ou seja, pelas Ilhas Desertas e Selvagens, esta segunda e terça feiras. Vai daí que a nossa primeira figura do Estado, que já sabe de cor a Constituição, e que passou a vida a ensinar os juristas no ativo sobre o Direito, arrisca também agora a distribuir afetos pelas espécies raríssimas e endémicas como as cagarras. Sim, a próxima fronteira chama-se Desertas e Selvagens. Outros Presidentes também já o fizeram. Mas apostamos que, também aqui, o carisma de  Marcelo é capaz de enternecer as espécies destas reservas naturais bem protegidas pela Marinha.

Falando sério: é óbvio que a presença do Presidente nas Desertas e Selvagens passa ao mundo, sobretudo aos nossos vizinhos espanhóis, a mensagem da importância que estes espaços têm para Portugal. É um sinal institucional da atenção que o Estado português lhes reserva. Mas, independentemente de tudo isto, Marcelo é assim: corre o país de lés a lés e até a natureza se comove com a sua propensão para as emoções.

O Estepilha espera também que Marcelo não descure os dossiers chatarrões mas de fundo do nosso país, como o desemprego, o enriquecimento ilícito, o défice das contas públicas e outras coisitas que também exigem mais do que um afago.