Vício tabagístico e desprezo pelo património

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*Com Rui Marote

Há coisas que chocam, nomeadamente o mais puro desprezo que muitos cidadãos madeirenses têm pela memória histórica e, ousamos dizê-lo, pelos mais singelos comportamentos de higiene pública. São às centenas as beatas de cigarro atiradas para os vestígios arqueológicos da fortaleza de São Filipe, na zona do Largo do Pelourinho.

Aquele conjunto arqueológico até pode não passar, para muita gente, de uma quantidade de pedras sem significado. Mas estes vestígios estão inextricavelmente ligados à História da Madeira. O forte em questão, erigido entre as ribeiras de João Gomes e de Santa Luzia, é referido já em 1574. A fortaleza estava concluída em 1581 e acolheu tropas espanholas durante o domínio dos ‘Filipes’ e, mais tarde, após a Restauração, guarnecida com tropas insulares. Dali partiam as rondas e vigias do Funchal.

Embora tenha sido depois esquecida e construído sobre ela um armazém, a fortaleza é historicamente importante e bem assim os seus vestígios arqueológicos. O menos que se pede às pessoas, principalmente aos utentes das carreiras de autocarros da Horários do Funchal que ali se situam nas proximidades, é que não transformem a área num enorme cinzeiro. Muitos, enquanto aguardam a chegada do carro do Monte e Corujeira, encurtam o tempo com um cigarrito e com um gesto displicente, quando o terminam, atiram-no directamente para o meio das vetustas pedras… onde, ainda por cima e dado o antigo pavimento, se infiltram as beatas, que não são fáceis de extrair. Qualquer dia serão aos milhares, e a Direcção Regional de Cultura terá de começar a pensar em destacar um trabalhador de limpeza para a caça às beatas…