Quinta do Monte, um triste relato em imagens

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Fotos: Rui Marote

O Funchal Notícias foi constatar o estado da Quinta Jardins do Imperador, no Monte, que ardeu nos incêndios recentes, e muito possivelmente por mão criminosa. O que se nos deparou foi um cenário verdadeiramente lastimável.

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Em Setembro de 2015 realizámos uma reportagem sobre o estado deste imóvel de grande interesse histórico e patrimonial, na altura concessionada à empresa Madeiquintas. Já na época, fruto de longos anos de inacção governamental devido a um imbróglio na justiça com a empresa concessionária, o edifício estava em muito mau estado.

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Aqui e ali, porém, ainda se entrevia um indício das antigas glórias do passado. Agora, tudo o que resta são mesmo ruínas a cheirar a fumo. Tudo o que ainda vagamente subsistia, os tectos, os interiores, um corrimão, algum objecto, as madeiras do chão, ficou totalmente destruído sem apelo nem agravo.

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As paredes exteriores do imóvel ainda estão de pé, mas no interior tudo são destroços escurecidos pelas chamas.

Das duas, uma: ou as chamas despontaram no edifício por mão criminosa e desceram a colina, ou foi o contrário que aconteceu, as chamas subiram e lá chegaram. Seja como for, o resultado é lastimável para a memória histórica da Região. Felizmente, sobreviveram árvores já com muitos anos, os patos ainda por lá habitam, os jardins ainda estão no sítio e as flores também, embora tenham sofrido com o calor e vão, certamente, demorar tempo a recuperar.

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O presidente do Governo Regional anunciou ainda há dias a sua firme determinação de criar, no Monte, um museu do Romantismo, apesar da desgraça que se abateu sobre aquela que é conhecida também como a Quinta do Monte, e que já foi igualmente denominada Quinta Cossart e Quinta Gordon.

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Afinal, ali viveu, entre outras personalidades, o imperador da Áustria, hoje sepultado no Monte, a prestigiada artista madeirense Lourdes Castro, o artista Andrew Picken, cujas imagens da Madeira são tão bem conhecidas, o banqueiro Luíz da Rocha Machado, a imperatriz Sissi e ali foram recebidos os rei D. Carlos e a rainha D. Amélia, e os aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral. E foi o governo de Miguel Albuquerque que entretanto aparentemente desbloqueou o imbróglio que subsistia com a empresa Madeiquintas (ver artigos anteriores, pesquisar Quinta do Monte no nosso site). Mas não restam dúvidas que agora o investimento necessário para cumprir tal desiderato será, provavelmente, superior.

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A Quinta do Monte foi sofrendo com muitos anos de incúria e desinteresse, entretanto esteve sob a concessão da Madeiquintas, que a manteve e até encarregou, no princípio, o saudoso eng. Rui Vieira de supervisionar a recuperação dos jardins, e esteve parada durante muito tempo. Em Setembro de 2015, informava-nos o gabinete de Rui Gonçalves, secretário regional das Finanças, que se perspectivava para breve a conclusão das negociações para pôr fim ao diferendo judicial entre o Governo Regional e a Madeiquintas, e que dentro de algum tempo se iniciaria “a rentabilização deste património (…)”.

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De facto, dentro de pouco tempo foi anunciado que a Quinta Jardins do Imperador voltaria para a inteira responsabilidade do Governo Regional, suportando o GR 50 por cento do investimento do empresário Duarte Correia naquele espaço. A Quinta do Monte seria entregue em Dezembro e o pagamento realizado ao longo de três ‘tranches’ ao longo dos três meses seguintes e sem juros.

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Entretanto, já em Fevereiro de 2016, foi publicada no JORAM uma portaria de Rui Gonçalves escalonando o pagamento a realizar à Madeiquintas, apurando-se então que tal quantia, no valor de 824.817 euros, seria paga até 2018 para ‘reaver’ a Quinta.

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Entretanto, e curiosamente, o empresário Duarte Correia continua a pagar salários aos trabalhadores e a mandar no espaço. A Quinta parece ser já inteiramente do Governo, e ao mesmo tempo não o ser. Decididamente, aquele espaço parece ser perseguido por uma espécie de indefinição crónica.

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Entretanto, não falta quem o valorize, a começar pelos próprios trabalhadores. E de facto é um oásis de calma a dois passos do Funchal, um lugar maravilhoso que merecia ver toda a sua flora bem tratada e devidamente valorizada, ser acarinhado, eventualmente explorado de forma bem equilibrada em termos económico-turísticos, enfim, protegido e amado. Mesmo atingida pelo desleixo, pela incúria de anos e anos, por falta de condições e eventualmente até por mão criminosa, a Quinta do Monte tem tudo para renascer. Embora agora certamente com menos valor histórico e patrimonial do que já teve.

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