Fotos:
Rui Marote
O Funchal Notícias foi encontrar hoje um perigoso cenário de devastação florestal nas serras dos Canhas, a caminho do Paul da Serra.
A nossa equipa de reportagem tentava aproximar-se do incêndio que já tinha alcançado o Paul da Serra e que já era visível da Calheta, mas foi aconselhada a não prosseguir pela Polícia de Segurança Pública, dado o estado de extrema instabilidade de árvores e postes de iluminação pública, que ameaçavam cair a qualquer momento.
Aliás, percorremos uma estrada onde se encontravam vários postes e ramos caídos no chão, e também fios de iluminação pública, o que indica que todo aquele percurso está agora às escuras e não pode ser percorrido depois do cair da noite, senão com imensos cuidados.
O fogo grassava ainda em vários pontos do caminho, e corroía lentamente árvores e postes de madeira. Carrinhas de agricultores e criadores retiravam gado vacum das serras, levando-o para baixo. Algures por aquela área um outro motivo de penalização: vagueavam alguns animais, gatos e cães, sujeitos ao intenso calor. A PSP referiu-nos que é hábito das pessoas abandonarem animais naquelas serras.
Fomos encontrar nos Canhas o restaurante ‘Buteco da Serra’, explorado por Carlos Marques, um jovem emigrante que regressou do Brasil há três meses. Trabalhava como chefe de cozinha em Porto Galinhas, e havia investido todas as suas economias no negócio deste restaurante, que arrendara ao proprietário. O imóvel está seguro, mas a despesa será provavelmente não negligenciável para Carlos Marques, que chegou entretanto ao estabelecimento onde nos foi encontrar a tentar averiguar do estado do imóvel e do incêndio que grassava mais acima. O desânimo estava bem estampado no seu semblante.
“São as economias de uma vida”, referiu. Olhava com estoicismo para o seu estabelecimento arruinado, procurando averiguar quais as máquinas de cozinha e frigorífico que podiam ser recuperadas, e fazendo contas à vida. Não é fácil contemplar um cenário assim desolador, e que obrigará, obviamente, a grandes e onerosas obras.
E quem virá nos próximos tempos ao restaurante, com o caminho assim perigoso e calcinado? Certamente ninguém, durante algum tempo. Esta é apenas uma história, entre a daqueles que perderam bens nesta triste odisseia dos fogos florestais. As imagens colhidas pelo nosso repórter fotográfico ilustram bem este triste cenário provavelmente causado por mão criminosa.