Albuquerque quer maior intervenção política dos madeirenses nos países onde se encontram emigrados

oi001107.jpgFotos: Rui Marote

O Fórum Madeira Global, uma organização do Governo Regional da Madeira através da Secretaria dos Assuntos Parlamentares e Europeus, principiou esta manhã na sala de conferências do Casino da Madeira, reunindo representantes das comunidades madeirenses em todo o mundo. O secretário regional da tutela, Sérgio Marques, abriu os trabalhos dando as boas-vindas aos participantes e manifestando a vontade de que este evento sirva para um diálogo profícuo com as comunidades, e percepcionar os seus anseios e expectativas. O governante sublinhou que os emigrantes madeirenses, cujo número de aproxima do milhão, tornam a Madeira verdadeiramente global.

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Num painel intitulado ‘Política em madeirense’, moderado pelo jornalista Gil Rosa e transmitido em directo pela RTP-Madeira e RTP-Internacional, esteve presente o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, o deputado Adolfo Brazão, presidente da Comissão de Política Geral da Assembleia Legislativa Regional, José Nascimento e Paulo Porto, ambos advogados, na África do Sul e no Brasil, respectivamente, e Ana Cristina Monteiro, também advogada, que exerce na Madeira mas que se formou em Caracas, Venezuela.

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Os hinos da Madeira e de Portugal, e ainda uma outra peça musical, foram interpretados pelas ‘Ninfas do Atlântico’

Neste debate, o chefe do Executivo madeirense defendeu a perspectiva de que a Madeira tem de fazer valer a sua situação geoestratégica num tempo que considerou como “a segunda era da globalização”.

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“A Madeira só teve sucesso quando se virou para o exterior”, referiu, dando os exemplos do comércio do açúcar, do vinho Madeira e da indústria do turismo. Ao fazê-lo, referiu, ultrapassou a sua pequena dimensão atlântica.

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Constatando que “os emigrantes madeirenses estão a evoluir para os mercados internacionais sem qualquer constrangimento”, o presidente referiu que hoje há em muitos países uma segunda e terceira geração de emigrantes que têm grande capacidade de realização económica. Constatou, porém, que há uma grande diferença entre a intervenção dos emigrantes madeirenses no tecido económico e empresarial dos países onde residem, e a sua intervenção política. Ora, defendeu, essa intervenção política no âmbito desses mesmos países tem de crescer, pois apenas se se aumentar a presença de pessoas de ascendência portuguesa (e madeirense, em particular), próximo de lugares de decisão, será possível aumentar a capacidade de fazer ‘lobby’ pelos interesses das comunidades. “Há que haver mais participação política”, apelou.

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Contudo, e apesar desta perspectiva do presidente madeirense fazer todo o sentido, a questão pareceu ser entendida ao inverso por vários dos intervenientes no painel, que reclamaram, isso sim, maior representatividade dos emigrantes na política portuguesa (e madeirense). Por exemplo, José Nascimento deu conta de que os emigrantes na África do Sul “querem estar ligados à Madeira em termos económicos e políticos”. Enfatizando o grande número de madeirenses que vive fora da sua terra natal, disse que gostaria de ver a representatividade, em termos de deputados, em Portugal e na Madeira “aumentar para o dobro”. Queixou-se inclusive de que há 24 anos, na Madeira, na primeira edição do Congresso das Comunidades Madeirenses, chamou a atenção para a pouca representatividade dos mesmos no seu país de origem. “24 anos depois, continua-se a falar da mesma coisa”, disse.

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E prosseguiu para defender que a Assembleia Legislativa Regional deveria ter deputados “eleitos pelas comunidades”.

“Temos que ir buscar essas pessoas à comunidade madeirense”, asseverou, dizendo que os emigrantes têm de conhecer a pessoa que os representa. Paulo Porto pouco acrescentou a esta discussão, para além de referir que os emigrantes madeirenses estão muito bem integrados no Brasil e que são muito solidários, ajudando idosos portugueses em dificuldades. Já Ana Cristina Monteiro considerou que os emigrantes madeirenses acabam por assumir uma espécie de dupla nacionalidade, já que têm a capacidade de se integrarem muito bem nos países que os acolhem. Porém, reconheceu que os emigrantes madeirenses acabam por ter pouco interesse em exercer direito ao voto, alheando-se um bocado dessa participação, porque obriga a burocracias, a deslocações ao consulado, etc. “Acabam por esquecer que um ou dois votos podem fazer a diferença”, considerou.

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Por seu turno, o deputado Adolfo Brazão enumerou uma série de impedimentos para uma maior representatividade das comunidades madeirenses na Assembleia Regional: “Para isso acontecer é preciso que seja mudado o Estatuto Político-Administrativo da Região, que não pode ser mudado sem que seja mudada a Constituição”, explicou.

A Madeira e os Açores, disse o parlamentar madeirense, sempre tentaram introduzir essa representatividade, mas viram os seus esforços dificultados por um centralismo de Lisboa, asseverou. Inclusive houve pareceres contrários do próprio Tribunal Constitucional. Por outro lado, invocou “problemas logísticos difíceis”, se bem que eventualmente não inultrapassáveis.

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José Nascimento defendeu maior representatividade das comunidades nos órgãos legislativos em Portugal

“O parlamento ficaria mais rico que se tivesse vozes das comunidades representando um milhão de pessoas (…)”, reconheceu, admitindo que “deveriam ser os próprios emigrantes a escolher em quem votar”.

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A posição de Albuquerque, ao início, fazia todo o sentido, ao defender uma maior intervenção dos emigrantes madeirenses de segunda e terceira geração na actividade política do país para onde os seus ascendentes emigraram. Já não se compreende, no entanto, como o facto de as comunidades madeirenses no estrangeiro terem representatividade nos parlamentos portugueses poderia influir grandemente na defesa dos seus interesses, na Venezuela, Inglaterra, França, África do Sul, Canadá ou outros… Mas esta realidade parece não ter sido totalmente compreendida pelos emigrantes presentes no encontro.