Governar é difícil

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Governar, no sentido de aplicar os recursos disponíveis, naturalmente escassos, na melhoria permanente das condições de vida das populações é uma tarefa árdua que exige competência, dedicação e honestidade.  E que, às vezes, é recompensada através do reconhecimento.

A parte mais fácil do mandato, se assim a podemos designar, é o período pré-governo. Quando basta prometer, desde que o discurso apresente coerência e vá no sentido das convicções e interesses dos grupos sociais. Quanto mais alargados forem estes grupos maior será o impacto das mensagens transmitidas.

Pois assim foi. O actual governo regional prometeu. E o que poderemos dizer da realização das promessas?

A primeira conclusão que podemos tirar é a de que não há dinheiro. Mas isso já todos nós sabíamos! Bom, talvez nem todos, a começar no interior do próprio governo. Mas uma situação de escassez não é em si mesma má, apenas que o engenho e a argúcia terão de vir à tona da capacidade executiva. O que pode até ser bom.

Até porque o excesso de dinheiro deu no que todos vimos. Muitas obras de duvidosa sustentabilidade e hierarquização. Obras concluídas, mas que geram encargos insustentáveis ao erário público. Infelizmente, podemos encontrar exemplos em todos os sectores, desde desportivos a quase empresariais.

E ficaram de fora pelo menos duas obras fundamentais, uma de alavancagem à economia, como de facto é a ampliação do cais Sul do porto do Funchal, e outra na área social, o novo hospital.

Sem dinheiro, bem poderemos esperar inúmeras promessas de futura realização, mas de escassa probabilidade de concretização.

A segunda conclusão é a de que falta peso político em Lisboa ao governo regional, coisa que os governos de Alberto João Jardim tinham, sobretudo os anteriores à viragem do século passado. E quem superiormente abrisse as portas no Terreiro do Paço, como um senhor chamado José Agostinho Pereira de Gouveia, infelizmente já falecido.

Na verdade, anterior à liberalização do sector aéreo, o Estado despendia em custos compensatórios, convertido na moeda actual, qualquer coisa como 24 milhões de euros. Depois passou a suportar 4 a 6 milhões anuais. Grande negócio, hein! Mais tarde, no actual modelo, implementado por este governo, 12 milhões.

Ora, relativamente à linha marítima, operada através de ferry, desde há muito sabemos que a região não gera o tráfego suficiente para viabilizar a operação. Mas também sabemos que os custos compensatórios, que tornariam a linha sustentável, estão estimados em 8 milhões.

Sei quem depressa montaria a operação, onde todos os actores sairiam vencedores, como é de boa regra nos acordos mutuamente vantajosos. O Estado português pouparia 4 milhões relativamente ao custo anterior à liberalização, 12 mais 8 face aos 24 milhões. E a Região ficaria melhor servida.

A terceira conclusão é a de que o Governo anda deslumbrado com o que está acontecendo ao sector do turismo na Região. É óbvio que coisas muito positivas estão acontecendo, mas aceitar que tudo se deve à promoção não parece razoável. Mas também é certo que o governo trouxe uma lufada de ar novo, com novas iniciativas bem pensadas e estruturadas. E temos pouco tempo de execução.

Agora, o fundamental é procurar não perder este acréscimo de turismo influenciado por um conjunto de factores externos em países tradicionalmente receptores e capitalizá-lo futuramente. Este deve ser um dos focos.

A quarta e a quinta conclusão têm a ver respectivamente com a inovação e as telecomunicações, que se podem assumir como um dos mais importantes vectores da economia madeirense e os custos de contexto.

Deixaremos estas duas últimas para uma próxima oportunidade.