António Costa e Albuquerque fazem elogio da economia do “conhecimento”

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Fotos: DR

A importância da economia do “conhecimento” na sociedade digital esteve na ponta da língua do presidente do Governo Regional da Madeira e do primeiro-ministro de Portugal, hoje, durante uma visita à ACIN, empresa fulcral no projecto ‘Brava Valley’, que as autoridades governamentais madeirenses querem promover e incentivar.

António Costa mostrou-se interessado e impressionado com as potencialidades da empresa de Luís Sousa, que, ao receber o chefe do Executivo português, fez uma extensa intervenção explicando como nasceu e se desenvolveu esta empresa que aposta no software para a nuvem (cloud), hoje largamente utilizada em todo o mundo. O empresário madeirense que entretanto já se expandiu para outros países referiu que a aposta na ‘cloud’ mostrou-se uma forma eficaz de chegar rapidamente aos clientes, e de realizar facilmente actualizações do software desenvolvido. Os seus clientes, salientou, encontram-se hoje espalhados pelos quatro cantos do mundo.

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A extensa comitiva que acompanhava António Costa incluiu, além do presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, e do representante da República, Ireneu Cabral Barreto, vários secretários regionais, presidentes de câmaras, responsáveis das forças militares e policiais e outros responsáveis.

Miguel Albuquerque, na oportunidade, enfatizou a ACIN, que, afirmou, pode hoje competir com qualquer empresa congénere em qualquer parte do mundo, e enfatizou que a Madeira tem hoje capacidade de produzir pessoas bem formadas e preparadas para o concorrencial mercado mundial, no que à economia digital diz respeito.

Numa economia de crescimento, de gestão, como é aquela que vivemos hoje em dia, em plena era do digital, que transcende fronteiras, a aposta no conhecimento nunca é perdida, afirmou o governante madeirense. E a Madeira possui actualmente centros de “excelência”, entre os quais se conta a Universidade da Madeira e o M-ITI.

antonio costa - acin

Na sua intervenção, Albuquerque dedicou-se a “dissipar equívocos”, pois considerou que é tempo de o fazer. Como exemplo, citou o Centro Internacional de Negócios da Madeira, “que durante muitos anos se falava que era um offshore”, mas na realidade, na perspectiva do presidente, é apenas um bom e legítimo modo de captar investimento estrangeiro para o nosso país.

O projecto ‘Brava Valley”, sublinhou, tem este nome não por pretensiosismo, mas por marketing, e irá afirmar-se, garantiu, como um local de sediação de empresas tecnológicas e de intercâmbio entre as mesmas e com outros países e outras realidades.

Miguel Albuquerque

Fez questão, aliás, de enfatizar que a ACIN receberá, dentro de poucos dias, um grupo de 15 estudantes sul-africanos e 5 membros da administração pública daquele país meridional para uma formação que durará um ano. O que, em seu entender, demonstra bem a actual capacidade daquela empresa, que o Governo Regional, através da Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura, pretende que seja uma pedra basilar de um “cluster” de incentivo à inovação e ao empreendedorismo, com impacto directo e indirecto na economia local do concelho da Ribeira Brava, e com potencial para alavancar positivamente todos os municípios da Região.

O objectivo é materializar na Ribeira Brava “um ecossistema empresarial de base tecnológica, no qual novos projectos recém-constituídos por jovens empreendedores”, as chamadas ‘start-ups’, e empresas regionais, nacionais e internacionais já existentes “possam encontrar condições propícias à sua incubação, instalação e operação corrente”, diz a argumentação oficial.

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Por sua vez, António Costa, que já antes se tinha demorado, no meio da estrada, a apreciar a arquitectura inovadora da sede da ACIN, começou a sua intervenção no auditório da empresa dirigindo-se directamente ao empresário Luís Sousa, para lhe dizer, simplesmente: “Vamos directos ao assunto: Parabéns!”.

O primeiro-ministro considerou que a ACIN “é um excelente exemplo de como a nova era da economia mudou completamente o paradigma da geografia”. A localização das empresas, frisou, deixou de ser um elemento central para a actividade.

“A Madeira dá um enorme contributo para a economia nacional, e continuará a dar certamente, como um grande destino turístico”, mas conforme referiu, o destino turístico tem como condicionante a acessibilidade aeronáutica, os cruzeiros que cá aportam, e a distância é um factor crítico.

O mesmo condicionalismo aplica-se a outros produtos. Deu como exemplo “o melhor refrigerante do país”, a Brisa Maracujá, que, ao ter procurado saber porque não era comercializada em larga escala no continente, veio a descobrir que o custo do transporte torna incomportável a sua exportação em massa para o restante território nacional.

Já a economia digital, referiu, “não está dependente nem das ligações aéreas, nem da qualidade do porto do Funchal, nem do custo do transporte. Só está dependente de uma coisa: da capacidade de atrair e fixar na Madeira massa cinzenta. Essa é a matéria-prima que é essencial: conhecimento. É aqui que está a chave. Porque a partir daqui, como disse o presidente do Governo Regional, não há mais periferias nem ultraperiferias. Seja no Brava Valley, seja noutro qualquer país, estes serviços podem estar a ser produzidos para 62 mil clientes, um pouco por todo o mundo”, relevou.

A concorrência, admitiu, é feroz e global, porque outros países podem estar também a produzir serviços de qualidade, concorrentes. “Isto significa que nós vamos ter a oportunidade histórica de repensar completamente a nossa actividade, cada vez mais valorizando, claro, aquilo que é intrinsecamente nosso, e que não é passível de deslocalização. Temos de valorizar cada vez mais as produções locais”, considerou.

Nesse sentido, abordou a visita que fez de manhã ao Mercado dos Lavradores, no Funchal, para dizer que viu múltiplos produtos absolutamente tradicionais, mas apresentados com novas roupagens que os podem tornar sedutores. “Pudemos encontrar no Mercado dos Lavradores variedades diferentes de maracujá, mas também pudemos encontrar o maracujá valorizado em bombons, pudemos encontrar fruta desidratada acrescentando valor à mera produção tradicional”, referiu, fazendo o elogio da diversificação.

O conhecimento, sublinhou, é um elo de união entre estas duas realidades: o mesmo aplica-se de forma determinante na evolução da oferta de produtos agrícolas, da mesma maneira que se aplica na evolução da oferta de produtos tecnológicos.

“A aplicação do conhecimento na agricultura tem vindo a melhorar as nossas produções”, salientou. E é essa mesma aplicação de conhecimento aos restantes produtos nacionais, inclusive tecnológicos, que lhes acrescenta valor.

“O grande investimento que o país tem de continuar a fazer, é mesmo o do conhecimento”, realçou. E tem de ser determinante no caminho por onde queremos seguir enquanto país, porque “julgar que podemos voltar a ser competitivos com base em baixos salários, é uma perda de tempo, é criarmos uma ilusão, é darmos um incentivo errado às famílias, aos nossos jovens, às nossas empresas, porque de facto a única coisa que temos de fazer, e cada vez mais, é investir na qualificação dos nossos profissionais e na capacidade de produção do conhecimento, porque o conhecimento é a base da inovação, e a inovação é a base daquilo que nos permitirá ter mais valor e estarmos presentes na economia digital”.

António Costa concluiu aceitando que o marketing também faz parte da vida, e considerando que a designação ‘Brava Valley’ “acrescenta valor a esta iniciativa, que eu espero que seja só um lançamento que frutifique e possa ter um crescimento infestante ao longo de todo este ano, permitindo fazer aqui da Madeira um dos grandes locais da economia digital”.

Acrescentou que a fixação de talentos tem um factor favorável, porque “há poucos sítios no mundo onde dê mais vontade viver” que a Madeira, referiu. “Não é portanto difícil atrair e fixar aqui talento”, considerou. Por isso, desejou a Miguel Albuquerque “boa sorte” com esta iniciativa.