Hospital debate-se com falta de vinhetas, avaria no Raio X e três médicos a bater com a porta

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Apesar dos parcos recursos, o Hospital Dr Nélio Mendonça procura servir todos os utentes.

As dificuldades financeiras e limitações orçamentais têm vindo a causar alguns constrangimentos também ao normal funcionamento do Hospital Dr. Nélio Mendonça. O Funchal Notícias foi informado por alguns médicos que lá trabalham que tem havido avarias pontuais mas incómodas ao nível da máquina de Raio X, bem como uma crónica falta de vinhetas dos médicos para colocar nos exames e em certas receitas.

Na passada quinta-feira, os médicos de urgência foram surpreendidos com a avaria ao nível do Raio X, o que inviabilizou a realização de exames entre as 09 e as 16 horas do mesmo dia, altura em que o problema foi solucionado. Um espaço de tempo sem que os doentes pudessem fazer o típico Raio X ao tórax, entre outros exames habitualmente solicitados no banco de urgência.

Segundo os profissionais de saúde relataram ao FN, o SESARAM terá prescindido do pagamento à SIEMENS, empresa com quem tinha contratualizado o serviço. Esta empresa, em consequência, deixou de efetuar as atualizações e reposições de software. A opção de mudança de empresa recaiu sobre a Philips. Sempre que avaria o sistema, o seu reinício leva tempo e causa constrangimentos a todos os intervenientes. Resultado: quando acontece esta avaria, como na passada quinta feira, os doentes fazem o Raio X mas não era possível visualizar as imagens. Um problema que leva tempo a acertar o passo com a mudança da contratualização de serviços e que tende a repetir-se, causando perturbações no sistema.

Falta de vinhetas

Outra situação que os médicos têm apontado é “uma crónica falta de vinhetas nos exames e certas receitas”. A impressão fica a cargo da Casa da Moeda e o pagamento das encomendas das vinhetas é feito primeiro que as entregas. Dadas as dificuldades económicas, nem sempre o pagamento é feito com a celeridade desejável.

Na medicina privada, o médico passa a receita eletrónica, imprime-a e depois assina. Não precisa de vinheta. No hospital, o médico passa a receita eletrónica, mas como não tem uma impressora ao seu lado, não a imprime; o doente dirige-se à central de receitas para colocar a vinheta, onde há as habituais faltas.

O que tem acontecido é que, face ao problema crónico da falta de vinhetas no hospital, as farmácias procuram resolver o problema, aviando as receitas sem a vinheta para não lesar os doentes. No Continente,. por exemplo, ninguém aceita a receita sem vinheta, mas na Madeira parte-se do princípio de que o sistema é seguro e que tudo depois se resolverá.

Quando se confronta a direção hospitalar e clínica sobre estas questões, obtém-se normalmente a resposta de que a saúde é também “o reflexo do País em que vivemos” na sua habitual carência de verbas e de recursos. Além disso, dizem-nos “as lacunas existem mas vão sendo superadas gradualmente” e fazem fé que a partir de janeiro com o fim do Programa de Assistência Económica e Financeira_PAEF à Madeira hja outra flexibilidade na gestão das verbas. As faltas existem mas a direção “tem procurado acudi-los conforme os recursos disponíveis”. Também se salienta que, “se por um lado há faltas e problemas pontuais, por outro há uma dinâmica diária de funcionamento excelente do hospital que convém ser realçada e os doentes bem podem atestá-lo”.

Recuperação de listas de espera

Por outro lado, o programa de recuperação de listas de espera também tem suscitado alguns reparos junto dos profissionais de saúde. Como já foi divulgado, estão previstos 350 mil euros para este programa que cobrirá duas especialidades: dois terços para a oftalmologia e um terço para a ortopedia. Esta situação tem gerado algumas críticas pelo facto de estarem apenas contempladas as referidas especialidades, ficando excluídas outras com uma lista considerável de doentes em espera, como a otorrinolaringologia, a cirurgia vascular e a cirurgia geral (a que mais doentes tem à espera).

Parte destas cirurgias são feitas no hospital e outra parte na privada, Clínicas de Santa Catarina e Sé.

Segundo defendem alguns médicos, o programa de combate às listas de espera não deve ser feito segundo o critério da especialidade mas pelo doente, como acontece no Continente, para evitar que se tenha que estar em competição entre doentes para ser operado. O que é respeitado é o tempo de espera do doente. Assim sendo, no Continente, o hospital tem seis meses para resolver o problema do doente. Na Região, o programa não reserva ao doente um tempo máximo de espera na lista.

O programa de recuperação das listas de espera é um grande passo para a resolução do problema crónico, também na Madeira, das listas de espera, garante-nos fonte da direção hospitalar. Foi colocado um modelo no terreno e o mesmo será alvo de reavaliação periódica. Só implementando uma alternativa é que se poderá aferir depois os seus resultados, inclusive limitações.

Saíram 3 ortopedistas

Outro dado de relevo na dinâmica hospitalar prende-se com os recursos humanos. Três médicos ortopedistas abandonaram o hospital para dedicar-se exclusivamente à medicina privada. Uma “baixa” pesada no quadros do serviço de ortopedia. Foram eles Markle Dinis (cirurgia da coluna), Paulo Sales (cirurgia da anca e do joelho) e António Pedro (cirurgia infantil). Mais um problema para o chefe do serviço, Vítor Menezes, resolver.

Os médicos, na casa dos 40 anos de idade, preferiram deixar de estar vinculados a um sistema que alegadamente pouco os valoriza e que os sobrecarrega cada vez mais. Por isso, optaram pela medicina privada, onde dizem ganhar menos, mas mantêm a sua dignidade profissional.