Pompa e circunstância na abertura do Mudas – Museu de Arte Contemporânea

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Fotos: Rui Marote

Foi com pompa e circunstância que foi ‘inaugurado’ na tarde de hoje, o novo ‘Mudas. Museu de Arte Contemporânea da Madeira’, a nova identidade do edifício que até agora era conhecido como Centro das Artes Casa das Mudas.
Uma multidão de pessoas, entre as quais figuras da Cultura, autarcas, secretários regionais, responsáveis parlamentares e altas patentes das autoridades policiais e militares, além de  dignitários religiosos, esperava a chegada do presidente do Governo Regional, que supostamente viria a bordo do autocarro que liga o Funchal ao recém-inaugurado Museu. O autocarro chegou, mas Miguel Albuquerque não estava a bordo. Veio depois, mas de carro.

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Este novo autocarro, explicou Francisco Clode de Sousa – director de serviços de Museus e Património da Direcção Regional de Cultura, que supervisionou a montagem da exposição e que nela serviu de cicerone a Albuquerque – estabelecerá uma ligação uma vez por dia com o Museu situado na Calheta, saindo do Funchal às 10 horas da manhã. Aqueles que adquirirem a entrada no Funchal, já terão transporte incluído neste ‘shuttle bus’. É uma maneira de tentar atrair visitantes, facilitando-lhes a viagem, algo maçadora, através dos túneis da ‘Madeira Nova’.

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Na ocasião, o presidente da Câmara Municipal da Calheta, Carlos Teles, enfatizou o dia “marcante para a Cultura na Calheta e na Região”. Lembrou, na oportunidade, o Centro das Artes Casa das Mudas, inaugurado em 2004 e que foi sempre “uma referência” a vários níveis na área cultural na RAM, tendo sido inclusive premiado internacionalmente pela sua arquitectura, “aliada à sua exemplar integração paisagística”.

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Teles elogiou o arquitecto que desenhou o Centro, Paulo David, “a quem a Calheta deve grande parte do seu desenvolvimento turístico-cultural”. Recordou ainda as muitas exposições de grande valia e projecção que ali estiveram patentes ao público. Mas esqueceu-se de mencionar Luís Guilherme de Nóbrega, o curador que começou a dinamizar a então Casa das Mudas, na época em que ainda não existia o Centro desenhado por Paulo David, e que foi grande impulsionador da aposta do Governo nesta infraestrutura, além de responsável por algumas das maiores exposições que o Centro das Artes apresentou.

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Abordando, para além das artes plásticas, os muitos espectáculos que o Centro acolheu, o edil calhetense sublinhou a afirmação que o espaço conquistou no panorama cultural regional, nacional e internacional. Com a instalação do Museu, disse, inicia-se um novo ciclo, que espera venha a resultar não só num impacto positivo a nível cultural e turístico no concelho, como também na educação e num maior envolvimento dos jovens das escolas.

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Por seu turno, Miguel Albuquerque apostou num discurso de pendor humanista, insistindo várias vezes que o Mudas.Museu de Arte Contemporânea será “um sucesso”, e que representa a concretização de um dos seus sonhos, também partilhado pelo seu “círculo de amigos”: o de albergar condignamente a colecção do Museu de Arte Contemporânea do Funchal, até agora instalada, com vários condicionalismos, na Fortaleza de São Tiago.
Em seu entender, tal desiderato foi agora alcançado, com a criação deste “museu nacional”, que tem “uma das melhores colecções de arte contemporânea do país”, e que está instalado “num dos mais belos edifícios do país”. Aproveitando a oportunidade e a presença de João Cunha e Silva, antigo vice-presidente do Governo Regional, saudou-o pela concretização da obra, bem como ao “velho amigo” Paulo David.

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Empreendeu, de seguinte, um exórdio sobre a necessidade de mudança de paradigma actual, criticando a sociedade contemporânea, na qual se elevou o dinheiro a valor máximo; “Começámos a ser escravos e a estar submetidos ao dinheiro”, denunciou. Uma ideia que passou também para a administração pública.
Ter o PIB alto passou a ser considerado um grande indicador, mas o mesmo, referiu, “nada nos diz sobre a felicidade intrínseca de uma sociedade”.
Criticando a “economia sem rosto”, disse que hoje os cidadãos confrontam-se “não com uma crise financeira, mas com uma crise antropológica”.
O dinheiro, defendeu, deve ser visto não como uma obsessão, mas “como um instrumento de troca e desenvolvimento”.

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As pessoas têm de passar a valorizar “a nossa riqueza essencial”, realçou, “a educação, o conhecimento, a arte, a cultura, a preservação do nosso património natural e edificado, a solidariedade, o diálogo”.
Prosseguiu de seguida para a afirmação de que as coisas que lhe dão mais prazer na vida, não lhe custaram “um tostão”.
Coisas, explicou, como “ler um bom livro, apreciar uma obra de arte, ou estar na Calheta a olhar para um pôr-do-sol”. Isto, garantiu, “não custa dinheiro”.
“É isto que temos de voltar a aprender, tal como temos de voltar a aprender a dialogar”, sublinhou.

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Na Madeira, “temos condições para ter uma sociedade de bem-estar, de desenvolvimento, de solidariedade”, acrescentou Miguel Albuquerque.
Terminou a sua intervenção contando uma já muito estafada anedota acerca de Winston Churchill, que teria defendido que não fazia sentido reduzir o orçamento da Cultura durante a Segunda Guerra Mundial, pois, se não era pela identidade cultural que se lutava, então não sabia porque coisa se lutava, afinal. Contou-a como se nenhum dos presentes jamais a tivesse ouvido. Finalmente, não poupou elogios à directora regional de Cultura, Carina Bento, e à sua equipa de técnicos, que concorreu para a concretização do ‘novo’ museu.
“Vamos continuar a trabalhar na área da cultura, do património, do ambiente, porque é este o futuro da nossa terra”, concluiu.
Tentámos obter uma opinião de Paulo David sobre esta nova utilização dada ao espaço, mas este considerou “não ter ainda distamento crítico para fazer qualquer tipo de comentário”.

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Isto porque não foi convidado a integrar a equipa que procedeu a esta mudança do MAC-Funchal para a Calheta, pelo que disse não ser capaz de perceber quais são os propósitos da mesma. “Vejo que o espaço está ocupado, e isso é um bom sintoma, poderá dar alguma vivência ao edifício, e isso é o que se pretende”, sentenciou. Mas, para além da reactivação e do facto de albergar uma colecção que não tinha um espaço condigno, declarou “não conhecer a programação do Museu”, e por conseguinte não ser capaz de emitir nenhuma opinião bem fundamentada. “Vamos aguardar como é que se dá continuidade, nos dias de hoje, a esta colecção”, acrescentou. Ou seja, vai esperar para ver se este Museu fica estático ou se evolui e apresenta elementos novos ao longo do tempo.

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