A velhinha autoescada dos Bombeiros Municipais do Funchal já não apaga fogos, mas no universo dos motores vintage é uma verdadeira brasa. Na passada quinta-feira, durante a cerimónia comemorativa dos 127 anos da corporação, era vê-la a brilhar em posição de destaque na Praça do Município.
Apesar dos seus 91 anos, o veterano carro dos BMF disputou as atenções de quem passou pelo local, quer pela elegância e pormenor dos acabamentos, quer pelo estado de manutenção apreciável, um trabalho que é garantido no parque de máquinas e viaturas da autarquia.
Latão e cromados, madeira e chapa são materiais já pouco comuns na indústria automóvel, mas provam ser resistentes à passagem do tempo e aos trabalhos árduos que se impõem a uma viatura de emergência. Sobretudo numa cidade como o Funchal onde a orografia acidentada e a alta densidade populacional são desafios permanentes aos soldados da paz.
A Merryweather inglesa, com muitas histórias para contar se assim pudesse, falou mais alto porém dos seus quase cem anos de vida, batendo em charme os seus companheiros mais modernos, ambulâncias e autotanques, bem maiores e melhor apetrechados, que também estiveram presentes na cerimónia.
Afastada já há muitos anos do ativo, a emblemática autoescada construída em Inglaterra é um dos poucos exemplares da confiável e duradoura mecânica britânica, saindo à rua apenas para eventos comemorativos, afirmando-se como a menina dos olhos da corporação.
Restaurada em 2000, a autoescada deixou de estar ao serviço efetivo dos BMF nos anos 40 do século passado, liderando o espólio das viaturas vintage que a corporação possui.
Trata-se de um modelo construído em 1924 pela “Merryweather & Sons” e a ver pelo seu número de construção (5593), pertenceu a uma série de sucesso em matéria de veículos de combate a incêndios. O construtor estará relacionado com a empresa fundada em 1690 no Reino Unido por Nathaniel Hadley, fabricante, entre outras coisas, de bombas (manuais) e equipamentos de combate a incêndios.
Em 1862 foi construída uma nova fábrica em Londres, onde passou a fabricar motores a vapor. E com a substituição das antigas bombas manuais por outras a motor a vapor, e posteriormente a motor a explosão, no início do século vinte, a fábrica adquiriu fama mundial.
São muitas as estórias que acabam por surgir de um só exemplar que se resgata ao passado. A castiça Merryweather é a prova de como compensa preservar as memórias. Com ela permanecem presentes valores como resiliência, determinação e fiabilidade, os mesmos que afinal encontramos também naquele grupo de homens e mulheres comprometidos com a causa pública, os bombeiros.
