Teresa Brazão: O Funchal precisa de mais uma sala de espetáculos

teresinhaDurante largos anos, foi o rosto da direcção do Teatro Municipal Baltasar Dias. Neste momento Teresa Brazão presta serviço na antiga DRAC, atual Direção Regional de Cultura, e continua empenhada em dinamizar a cultura regional, à sua maneira.

Segundo revela ao FN, o Teatro Municipal, pela sua grandeza e simbolismo, é muito procurado por todos, o que gera uma grande pressão sobre quem o dirige. Teresa Brazão lamenta que não se tenha encontrado outra sala de espectáculos na cidade, que tanta falta faz, porque considera que é preciso reservar mais o este imóvel de valor histórico para acções de grande qualidade. O seu excesso de utilização não é positiva.

Numa conversa à laia de “notas de fim de verão”, confessa-se uma apaixonada pela Madeira.“ Fui “nascida e criada” na Madeira, e aqui “sinto-me em casa”, como vejo acontecer a muitos madeirenses. Considero que apesar de tudo na Madeira há uma qualidade de vida que não existe em outros locais, sobretudo devido ao clima e à proximidade de tudo. Se em Lisboa, por exemplo, nem podemos pensar em ir a casa almoçar no meio do dia de trabalho, aqui é bem possível fazê-lo. Acaba por ser um sítio “cómodo” para se viver, talvez seja isso! Para além da vizinhança do mar e das gloriosas paisagens que a ilha oferece, e que nós por viver tão perto por vezes nem sempre paramos para reparar!”.

Sabemos que nem tudo são rosas na Ilha. Mas a nossa interlocutora não encontra cá mácula alguma de gravidade. A este respeito a ex-diretora do Teatro comenta: “Não há nada que propriamente me revolte na Madeira em termos de característica própria. A ilha em si é muito agradável, as coisas menos agradáveis não são de modo nenhum exclusivas do local. Evidentemente que me revoltam profundamente fatores como a má distribuição da riqueza e outros valores semelhantes, que os há aqui e infelizmente em todo o lado. Portanto, não posso atribui-los à ilha”.

teatro01Mas a cultura é uma área em que Teresa Brazão se movimenta muito bem. É também uma área controversa, de permanente insatisfação e demanda dos artistas. Na sua opinião, considera que “a Região sempre valorizou a cultura “à sua maneira”. Se será ou não a maneira correcta, isso é outra coisa… e o que é a maneira correcta? Isto daria origem a uma discussão sem fim”.

Durante anos esteve à frente da emblemática casa de espectáculos da Madeira, o histórico Teatro Municipal. O balanço a esta experiência é uma questão incontornável: “Em relação ao Teatro Municipal, para mim isso é uma etapa completamente ultrapassada. Não sou muito de ficar a olhar para trás; Passou, gostei enquanto durou, empenhei-me até ao fim, mas há que haver renovação. Acho ótimo que agora venham outras pessoas com outras ideias. Só lamento que sistematicamente se estejam a anunciar, como novas, medidas e procedimentos já há muito tempo utilizados”.

Quanto aos hábitos culturais dos madeirenses, nomeadamente do gosto pelo Teatro, muito há a dizer. “O madeirense vai ao Teatro se a oferta for de qualidade. Cada vez me convenço mais disso. Do que às vezes tenho pena é de não ter sido possível apresentar mais vezes espectáculos de qualidade. É difícil, o orçamento é limitado, e a procura do Teatro da parte de grupos e associações é muito violenta. Todos querem o Teatro, o que constitui uma pressão muito violenta para quem o está a programar. Assim quase que não há disponibilidade para fazer uma programação como deve ser. Continuo a achar uma pena não se ter arranjado uma outra sala de espectáculos como deve ser no Funchal. O Teatro, na minha opinião, e na qualidade de monumento de interesse histórico, deveria ser mais reservado a acções de muita qualidade. O excesso de utilização que se acaba por dar ao Teatro não é um fator positivo. Hoje em dia existem recursos técnicos não adaptáveis a um edifício do séc. XIX, que facilitariam muito a dinâmica da programação. Estamos a desgastar demasiadamente o edifício do Teatro, que deveria ser um espaço muito especial da cidade, visitável como monumento e com uma programação extremamente cuidada. Isto na minha opinião”.

Por fim, com o habitual sorriso e simpatia, Teresa Brazão comenta: “Estou praticamente no término da minha carreira profissional, se tudo correr bem reformo-me daqui a três anos. Mas sempre irei lutar pela qualidade dos projetos culturais, sejam eles de que área forem. Acho que essa é a palavra-chave: qualidade”.