*Com Lília Castanha
Se viajarmos até Amesterdão, veremos que a bicicleta é muito utilizada como meio de transporte, aliás, para a maioria dos holandeses é o meio de transporte preferido. Por sua vez, se voarmos até Veneza, apanharemos de certeza um barco-táxi ou um barco-autocarro, além de podermos escolher as tradicionais gôndolas. O tipo de terreno ou os canais ditam muito o meio de transporte típico de uma cidade. No Funchal, as bicicletas, por exemplo, para andar no dia a dia, são pouco práticas devido às muitas subidas, descidas e curvas. E numa levada não cabe um gôndola .
Nos primeiros séculos da colonização da Madeira, a mobilidade era extremamente difícil e a força humana e animal eram utilizadas para transportar pessoas e carga. Os homens levavam geralmente a carga ao ombro sendo mais tarde criados vários tipos de transportes apropriados à orografia da ilha.
Um tipo de transporte típico que teve origem nas características montanhosas da ilha foi o transporte em rede que era utilizado maioritariamente pelas pessoas doentes, senhoras da classe alta e turistas.
Por sua vez, os carros de cestos do Monte, que datam de cerca de 1850, eram usados como o meio de transporte mais veloz para quem quisesse descer do Monte até o Funchal. Atualmente, estes famosos “carros de cestos” representam uma das atrações mais populares da Madeira. Estes carros são executados artesanalmente, com vimes e madeira, assemelham-se a um trenó e possuem dois lugares sentados. São conduzidos e controlados por dois carreiros que com mestria utilizam as solas de borracha das botas como travões. O percurso de 2 km a descer do Monte ao Livramento, com o freguês a escolher ir de olhos fechados ou abertos, pregado no assento e com adrenalina à mistura, é efetuado a alta velocidade em cerca de 10 minutos.
O Comboio do Monte também foi um grande contributo para o desenvolvimento da freguesia do Monte. O primeiro troço, entre o Pombal e a Levada de Santa Luzia, foi inaugurado a 16 Julho de 1893. Com uma paragem à porta do Monte Palace Hotel, o comboio seguia até ao apeadeiro do Largo da Fonte, que era o fim da linha. Mais tarde, a linha-férrea foi prolongada até ao Terreiro da Luta ficando, no total, com uma extensão de 3850 metros.Devido a vários acidentes, o primeiro dos quais em 1919 do qual resultaram quatro mortos e muitos feridos e a dificuldades financeiras da companhia proprietária durante a 2ª Guerra Mundial, o comboio foi extinto em 1943.
Mais lentas eram as viagens efetuadas com os carros de bois no primeiro quartel do século XX. Eram um meio de transporte muito utilizado no Funchal devido a poderem chegar aos lugares mais difíceis e íngremes. Havia dois tipos de carros de bois: os que eram reservados para o turismo, casamentos e funerais, eram os carros de luxo; os restantes eram mais modestos e empregues noutro tipo de serviços. No entanto, algumas pessoas mais endinheiradas tinham os seus próprios carros de bois para serviço particular. Mais tarde, com o aparecimento de outros meios de transporte, estes carros passaram a ser utilizados apenas ao serviço do turismo com as paragens na Avenida do Mar. Posteriormente, por vários motivos, de higiene, por exemplo, foram retirados definitivamente da circulação no final dos anos 70.
O Funchal Notícias deparou-se com um vídeo sobre a Madeira de 1931, publicado em 2008 no YouTube, por “The Travel Film Archive”, onde são retratados não só os transportes mas também a cultura e as vivências da altura. A Madeira é descrita como um jardim no mar, pitoresca, soalheira e perfumada pelas flores.
Os meios de transporte acima mencionados contrastam com um outro com muito mais tecnologia mas também com a sua boa dose de emoção, especialmente para quem tem vertigens, o teleférico. Tal como o carro de cestos, não polui o ambiente e liga o centro do Funchal ao Monte. O teleférico situa-se na zona velha da cidade, no jardim do Almirante Reis. No Monte, a estação está localizada no Caminho das Babosas, ao pé do Jardim Tropical Monte Palace, contando com 39 cabines de 8 lugares cada, que percorrem 3,718 m em cerca de 15 minutos. Ao contrário dos carros de cesto ,em que as vistas não são à partida uma prioridade, o teleférico obriga-nos a desfrutar de uma vista panorâmica sobre o Funchal.
A Ilha da Madeira passou por grandes mudanças em todo o tipo de transportes. Nos transportes rodoviários, foram construídas vias rápidas e vias expresso para vencer as barreiras geológicas da ilha, por meio de túneis, pontes e viadutos. Atualmente, na cidade do Funchal vemos uma diversidade de transportes. Os turistas, em especial, têm as escolhas mais variadas, muito diferentes daquelas que tinham antigamente, como podemos observar. É notória a influência asiática nos transportes turísticos mais recentes, desde os Tuk-Tuk aos pequenos bimotores.