“O risco de ‘syrização’ da UE fica mais evidente no rescaldo do ‘não'”

ricardo_fabricioO professor universitário Ricardo Fabrício diz que a Europa corre o risco de “syrização”.

“O risco de “syrização” da UE fica mais evidente no rescaldo do “não” grego e quando paira no ar a “azia cósmica” do centro-direita (ui, ui…) e o “temor crescente” da esquerda moderada (que se sente preterida)”, escreveu o sociólogo na sua página, no Facebook.

“Talvez convenha recordar que após 5 anos de medidas austeras, os gregos que ontem foram às urnas estavam bem cientes do significado de uma taxa de desemprego de 25% e de uma taxa de desemprego jovem de 50% (que terão contribuído decisivamente para o resultado final do referendo!), de um PIB em queda (+ de 20% no período pós-intervenções externas) ou de um volume total de dívida pública superior a 250% das receitas. Para quem usa o capacete do “maniqueísmo político-partidário”, estes pormenores sentidos na vida real até poderão ser (ideologicamente) facilmente suportáveis, mas para mais de 60% dos gregos tal “faz de conta” deixou de ser exequível, perante a possibilidade única de pronúncia, que foi o referendo”, revela.

“O que vai acontecer agora? Essa é a questão! Ninguém sabe bem e quem diz que sabe limita-se a imaginar, mas é certo que a tentação europeia para exercer a punição severa será grande. O mais provável é que a Grécia seja “sovada” até que se dissipem as dúvidas entre a plateia… O futuro dos gregos é muito complexo, mas o meu maior receio é que a UE não tenha aprendido nada com a Grécia e insista em fazer uma “pedagogia de combate” que reforce os instintos syrizantes que crescem pela Europa”,teme.

O professor no Centro de Ciências Sociais da Universidade da Madeira (UMa) diz mesmo que a Europa corre o risco da desintegração, face a declarações e gestos de responsáveis políticos.

“Quando vejo o presidente do Parlamento Europeu a dizer que um governo democrático (goste-se ou não dele) tem de ser substituído por um governo tecnocrata… quando oiço um alto representante europeu a expressar a sua “desilusão” pela UE ainda ter 17 governos… quando leio declarações de ministros estrangeiros a pronunciam-se sobre mecanismos democráticos legítimos de outros Estados, como se da “peste democrática” se tratasse… quando representantes das instituições globais (como o FMI) capricham no alcance ilimitado da sua legitimidade burocrática… quando governantes gregos enveredam pelo registo discursivo mais duro ou radical… quando está para breve mais um referendo no Reino Unido… quando tudo isto ocorre mais ou menos em simultâneo, lembro-me simplesmente da Teoria Geral dos Sistemas e do corolário da consolidação de um estado de entropia: a desintegração. Pior, só as ocorrências que a precedem”, rematou o também responsável pelo Observatório de emprego da UMa.